Sacerdote Dom Bosco teria ‘sonho profético’ sobre Brasília em 1883: entenda a história e a possível ligação profética

Sacerdote italiano teria tido ‘sonho profético’ sobre Brasília em 1883; entenda a história

Dom Bosco era conhecido por suas ‘visões sobrenaturais’. Não há confirmação se religioso realmente falou de Brasília, mas história ficou popular durante construção da capital do país.

1 de 4 Fotografia de Dom Bosco de 1880. — Foto: Carlo Felice Deasti

Fotografia de Dom Bosco de 1880. — Foto: Carlo Felice Deasti

Décadas antes do que planejou Juscelino Kubitschek, a proposta de construir uma nova capital para o Brasil já circulava no século 19. Apoiadores dessa ideia até mencionavam um “sonho profético” do sacerdote italiano Dom Bosco.

👉 Em de 30 de agosto de 1883, o religioso teria tido uma “visão” que previu a cidade de Brasília, inaugurada apenas em 1960.

Na década de 1950, defensores da construção da capital diziam que, em certo momento da narração do sonho, Dom Bosco teria citado as coordenadas da localização de Brasília e a criação do Lago Paranoá.

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O sonho é lembrado com carinho por admiradores da história de Brasília. Ele é considerado um dos pontapés para o início da construção da cidade.

Mas, de acordo com Matheus Rosa, mestre em história pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador da história regional, não há confirmação de que o sacerdote se referiu à capital.

COMO FOI O SONHO DE DOM BOSCO❓

O sonho de Dom Bosco relacionado à Brasília está registrado no 16° volume do livro “Memórias Biográficas de São João Bosco”.

Segundo Dom Bosco, durante o sonho, que durou uma noite inteira, ele “viajou” pela América do Sul, região que não conhecia. A narração completa é extensa, mas a parte que faria alusão a Brasília possui poucas linhas:

> “Mas isso não era tudo. Entre os graus 15° e 20°, aí havia uma enseada bastante extensa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Nesse momento disse uma voz repetidamente: quando se vierem a escavar as minas escondidas, em meio a estes montes, aparecerá aqui a terra prometida, onde correrá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível”.

Dom Bosco era conhecido por suas “faculdades sobrenaturais de vidência” e por ter sonhos “muito vívidos”. De acordo com o pesquisador Matheus Rosa, para alguns católicos os sonhos tinham uma conotação profética.

A HISTÓRIA DO SONHO DE DOM BOSCO NO BRASIL

👉 Primeira interpretação

Nos anos 1930, o sonho foi utilizado pelo escritor Monteiro Lobato, para defender a exploração de petróleo no país. Isso porque o sonho do sacerdote cita a abundância do petróleo na América do Sul:
> “Tinha debaixo dos olhos as riquezas incomparáveis daqueles países, riquezas que um dia serão descobertas. Via numerosos filões de metais preciosos, minas inexauríveis de carvão, depósitos de petróleo tão abundantes como nunca se encontraram até então em outros lugares”, narrou o sacerdote.

👉 Interpretação com relação a Brasília

* Matheus Rosa aponta que o historiador Fernando Tamanini, autor de “Brasília: Memória da construção”, se dedicou à investigação de como o sonho foi utilizado por defensores da construção da capital federal;
* Segundo Tamanini, nos anos 1950 o jurista goiano Segismundo Mello teve a ideia de adaptar o sonho para defender a construção de Brasília e a transferência da capital para a região de Goiás;
* Tamanini investigou que Segismundo procurou o padre salesiano Cleto Caliman e pediu que ele fizesse a tradução do sonho do italiano para o português;
* Segundo Tamanini, ao descobrir que o sonho não tinha uma ligação concreta com Brasília, Segismundo solicitou que o padre acrescentasse a palavra “civilização” no texto.

> “Mas isso não era tudo. Entre os paralelos 15º e 20° havia um leito muito largo e muito extenso, que partia de um ponto onde se formava um lago. Então uma voz disse repetidamente: quando escavarem as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a Grande Civilização, a Terra Prometida, onde correrá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível”.

* Segismundo entregou a tradução alterada para Venerando de Freitas Borges, ex-prefeito de Goiânia;
* Venerando de Freitas Borges encaminhou a tradução para o político Israel Pinheiro, que era devoto a Dom Bosco e trabalhou com Juscelino KubitscheK na construção de Brasília;
* JK passou a utilizar a interpretação do sonho em discursos sobre a construção de Brasília, conectando a cidade com a religião.

DEFESA DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA

2 de 4 Mapa mostra que Brasília está entre os graus 15 e 20 de latitude. — Foto: IBGE

Mapa mostra que Brasília está entre os graus 15 e 20 de latitude. — Foto: IBGE

Veja argumentos utilizados na década de 1950 que apontavam que o sonho de Dom Bosco fez referência ao surgimento de Brasília.

* Local de construção da cidade

No sonho, o sacerdote cita as coordenadas dos paralelos 15º e 20° para apontar a localização de uma “grande civilização” que iria surgir. Uma publicação da Revista Brasília, de dezembro de 1957 – feita pela Companhia de Urbanização da Nova Capital (Novacap) e que documentou a construção da capital – destaca que a cidade foi construída entre esses paralelos (veja foto acima).

* Formação de um lago

Outro indício seria a frase “havia um leito muito largo e muito extenso, que partia de um ponto onde se formava um lago”. Esta parte seria uma alusão ao lago artificial da cidade, o Lago Paranoá.

A Revista Brasília, por exemplo, apontou que se o sacerdote quisesse se referir a um dos muitos e grandes lagos existentes na região, “jamais usaria a expressão ‘onde se formava’, que significa ação e origem”.

Segundo o artigo, se o sacerdote estivesse se referindo há um lago já existente, teria dito “onde havia ou onde existia um lago”.

* Minas escondidas

Ainda no sonho, Dom Bosco disse a frase: “quando escavarem as minas escondidas no meio destes montes”. Segundo a Revista Brasília, os montes são os sistemas orográficos – formações de relevo – que configuram e delimitam o Planalto Central.

> “As minas escondidas no meio deles, são as imensas riquezas potenciais do solo ainda não exploradas e utilizadas”, defendeu o texto da Revista Brasília.

FOI PROFECIA?

3 de 4 Ermida Dom Bosco em Brasília. — Foto: reprodução

Ermida Dom Bosco em Brasília. — Foto: reprodução

Dom Bosco morreu em 1888 e não teve a chance de confirmar ou negar que ele se referiu à nova capital do Brasil. No entanto, o sonho está incluído em textos sobre a história da cidade e é lembrado por moradores do Distrito Federal.

A primeira construção inaugurada em Brasília foi a Ermida Dom Bosco. Segundo Matheus Rosa, sua construção simboliza a “materialização da profecia”.

CONHEÇA DOM BOSCO

4 de 4 Dom Bosco entre os jovens. — Foto: Notícias do Vaticano

Dom Bosco entre os jovens. — Foto: Notícias do Vaticano

Devido ao seu sonho, João Melchior Bosco, conhecido como Dom Bosco, é considerado um padroeiro de Brasília. Ele nasceu em Turim, na Itália, em 1815, e se tornou sacerdote aos 26 anos.

Os sonhos do sacerdote se tornaram famosos e são considerados por muitos como “visões”. Ele ainda fundou a Congregação dos Salesianos, comunidade religiosa que trabalha com a evangelização de jovens. Dom Bosco morreu em 1888 e, em 1934, foi proclamado santo pela igreja católica.

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Policiais roubaram sítio de Gritzbach do “dentista dos famosos”

Policiais roubaram de Gritzbach sítio comprado do dentista dos famosos

Equipe do DHPP presa por associação criminosa e lavagem de dinheiro também pegou relógios de luxo e R$ 20 mil em imóvel do delator

São Paulo — Em delação premiada feita ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) em 16 de julho deste ano, o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, executado a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, afirmou que policiais civis “roubaram” dele, além de relógios de luxo, um sítio que o delator havia comprado de Roberto Viotto, conhecido como o “dentista dos famosos”.

A área rural, localizada em Biritiba Mirim, na Grande São Paulo, foi comprada pelo delator por R$ 1,5 milhão, como afirmado por ele a promotores do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

No entanto, Gritzbach ainda não havia passado o sítio para seu nome quando policiais do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) cumpriram um mandado de busca e apreensão em um de seus imóveis em fevereiro de 2022. Na ocasião, segundo a denúncia do corretor de imóveis, os agentes recolheram a escritura da área rural, mas não relacionaram o documento na lista de itens apreendidos.

Com o documento em mãos, como consta na delação, o investigador Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, teria coagido o dentista Roberto Viotto para que ele transferisse o sítio diretamente a uma pessoa indicada por ele. Durante o depoimento de Gritzbach, o promotor questiona se Rogerinho trabalhava com o delegado Fábio Baena. “Sim. É até vergonhoso, né?”, responde o delator.

Em um áudio entregue por Gritzbach ao Gaeco, é possível ouvir o chefe de investigações Eduardo Monteiro, também do DHPP, afirmar que o sítio comprado pelo delator seria vendido e que era para o corretor pagar uma propina “para eles não roubarem o imóvel”.

Gritzbach segue o depoimento afirmando que, após as ameaças, o imóvel foi negociado com uma terceira pessoa entre o dentista e os policiais. Assim, o sítio pago pelo delator foi registrado no nome de uma pessoa, não mencionada na investigação, indicada pelos policiais. Quem muniu o delator com essas informações teria sido o próprio Eduardo Monteiro.

O delator foi assassinado com 10 tiros de fuzil, em 8 de novembro, oito dias após denunciar a corrupção policial à Corregedoria da Polícia Civil. Rogerinho, policial civil suspeito de elo com PCC, é preso em Santos.

O “dentista dos famosos” Roberto Viotto afirmou que “nunca” foi procurado “por ninguém”, com relação ao sítio, “muito menos foi coagido”. Viotto acrescentou que colocou o sítio à venda na imobiliária de Gritzbach “devidamente credenciado para essa atividade”. Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre São Paulo por meio do WhatsApp do Metrópoles SP: (11) 99467-7776.

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