Podíamos cair a qualquer momento’: voluntário relata tensão e frio extremo no
resgate de Juliana Marins
Agam contou que ancoragem das cordas estava se soltando do solo, o que poderia
tanto causar a queda deles quanto deslizar pedras. Ele é alpinista e guia na
Indonésia e foi quem alcançou o corpo de Juliana Marins e passou madrugada com
ela.
‘Herói’, ‘guerreiro’: brasileiros elogiam voluntário de resgate de brasileira
O alpinista que foi voluntário no resgate da jovem Juliana Marins,
no Monte Rinjani, na Indonésia, disse que a equipe sabia que poderia acabar
morrendo nas tentativas de buscar a brasileira. Agam e Tyo são alpinistas e
guias no local.
Agam abriu uma live no Instagram nesta quarta-feira (25) junto com uma indonésia
que sabe falar português para traduzir suas mensagens para os brasileiros.
“A situação é muito trágica e ficou na memória do Agam. Foi muito duro. Em algum
momento, várias vezes o suporte de quem estava lá no topo desabou. Isso provocou
a queda de pedras e areia várias vezes. Só por misericórdia de Deus eles não
morreram”, afirmou.
De acordo com a explicação, a ancoragem das cordas nas quais eles estavam presos
estava se soltando do solo. Eles precisavam do equipamento para descer com
segurança.
Ele diz que não sabe como eles conseguiram resistir e que estava muito, muito
frio. Ele disse que ele e os outros 7 resgatistas disseram que sabiam que se
chovesse um pouco mais, eles morreriam juntos, traduz ela.
Entre o içamento e a chegada do corpo no hospital, foram 15 horas de trabalho.
Vídeo mostra içamento do corpo de Juliana Marins de penhasco
Agam só alcançou o ponto onde o corpo estava quando o dia já tinha escurecido.
Então, ele passou a madrugada segurando a vítima no local para que o corpo dela
não escorregasse mais. Desse momento até a chegada do corpo dela no hospital,
foram 15 horas de trabalho sem uma alimentação adequada e no frio intenso.
Além do frio, a neblina constante atrapalhava a visibilidade da equipe. Segundo
Agam, ele só conseguia ver a uma distância de 5 metros.
No início, ao se voluntariar para o resgate, Agam declarou que só sairia do
local quando a jovem também saísse.
Apesar de os socorristas não terem chegado a tempo de salvar a brasileira, por
falta de equipamentos e condições do tempo, a iniciativa de montanhistas como
ele, que se arriscaram por vontade própria e sem ganhar nada em troca, ficou de
fora das críticas à estrutura sobre a demora no resgate.
Ele ganhou o coração dos brasileiros, que invadiram as redes sociais dele
agradecendo. Às 20h desta quarta, ele já tinha 800 mil seguidores.
A família da Juliana, através das redes sociais, também agradeceu aos
voluntários Agam e Tyo.
“Somos profundamente gratos aos voluntários que, com coragem, se dispuseram a
colaborar para que o processo de resgate de Juliana fosse agilizado”, afirma o
posicionamento.
Eles também mostraram a mensagem que foi enviada aos voluntários. Em um trecho,
eles ressaltam que as condições de resgate eram difíceis:
“Foi graças à dedicação e à experiência de vocês que a equipe pôde chegar até
Juliana e nos permitir, ao menos, esse momento de despedida. Embora o desfecho
já estivesse além do nosso alcance, levamos no coração a sensação de que, se
vocês tivessem conseguido chegar antes, talvez o destino pudesse ter sido
outro”.
AJUDA FINANCEIRA
Na live, houve até quem pedisse que fosse feita uma vaquinha para juntar
dinheiro para retribuir Agam. “Como podemos ajudar financeiramente?” e
“PEDEEEEEE A CONTA BANCÁRIA DELE PRA GENTE AJUDAR” foram alguns dos muitos
comentários na página do alpinista.
A tradutora que participou do vídeo disse que pediu várias vezes a conta e que
inicialmente Agam se recusou dizer por que “faz isso [o trabalho de resgate] de
coração”.
No fim, no entanto, ele acabou passando conta, que será divulgada, e afirmou que
vai dividir o dinheiro com colegas que participaram do resgate e que também
usará a verba para reflorestar montes por onde passar na Indonésia.
Ele agradeceu de coração todos vocês e pediu desculpas por não ter conseguido
trazer a Juliana de volta e que fez o melhor que ele podia. Infelizmente, os
resgates do Rinjani são os mais difíceis. Ele pediu desculpa e disse que foi o
máximo que conseguiu fazer.
‘COMBATENTE HUMANITÁRIO’
Ele tinha postado vídeos do local onde eles estavam acampados antes da operação
de resgate.
Dava para notar que visibilidade no local era ruim. A trilha era muito escura e
ele aparecia com lanternas.
O alpinista mostrava cordas, capacetes, uma maca e outros equipamentos. O vídeo
foi postado pouco mais de meia-noite do horário local. Agam também mostrou outra
barraca no acampamento e mantimentos como água.
Um indonésio declarou que Agam é um “combatente humanitário”.
Alguns perfis nas redes sociais chegaram a apontar que o agradecimento do
resgate deveria ser feito a Agam, e não ao governo indonésio.
CRÍTICAS
O perfil criado pela irmã de Juliana para dar informações sobre o caso fez
críticas às autoridades da Indonésia. O parque seguiu aberto mesmo depois do
acidente.
Desde fevereiro, Juliana fazia um mochilão pela Ásia,
tendo passado por Filipinas, Vietnã e Tailândia antes de chegar à Indonésia.
Em publicação nas redes sociais, a irmã contou que Juliana fazia a trilha com um
grupo e um guia local quando, no segundo dia, disse estar cansada. O guia teria
sugerido que ela descansasse e seguiu sozinho até o cume, deixando Juliana para
trás.
Ainda de acordo com a irmã, a jovem ficou sozinha, entrou em desespero e acabou
caindo. “Abandonaram Juliana”, afirmou.