Com tributo a Alcione em 2026, projeto ‘Sambabook’ reforça a tendência de
celebrar intérpretes sem obras autorais
Alcione é a homenageada da sétima edição do projeto ‘Sambabook’ — Foto:
Reprodução / Facebook Alcione
É surpreendente a escolha de Alcione para ser o nome homenageado em 2026 na sétima edição do Sambabook, projeto multimídia que inclui discobiografia, livro com partituras das músicas e álbum audiovisual com gravações inéditas do repertório do artista homenageado por um elenco de bambas.
Com o tributo a Alcione, o Sambabook presta segundo tributo consecutivo a uma cantora, reforçando a tendência de celebrar intérpretes do samba sem obras autorais, já que na sexta edição o foco recaiu sobre o repertório referencial de Beth Carvalho (1946 – 2019).
Embora irregular, sem a coesão que caracteriza o repertório irretocável de Beth Carvalho, o repertório gravado por Alcione entre 1972 e 2025 também reúne pérolas de grandes compositores do samba, sobretudo do bambas da geração Fundo de Quintal, revelados no fim da década de 1970 por Beth e projetados ao longo dos anos 1980.
Ainda assim, causa surpresa a opção por Alcione na sétima edição do Sambabook, projeto que já celebrou os cancioneiros autorais de João Nogueira (1941 – 2000), Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Dona Ivone Lara (1922 – 2018) e Jorge Aragão em edições anteriores.
Afinal, o projeto da Musickeria nasceu com a intenção de celebrar grandes nomes do samba que são cantores e compositores, tendo construído extensas obras autorais (compositora eventual, Alcione assinou somente quatro músicas em 53 anos de carreira fonográfica, todas pouco conhecidas). Beth de certa forma imprimiu forte assinatura nas escolhas que fez ao longo da carreira. Já Alcione sempre dançou mais conforme a música do mercado.
Nessa seara autoral, há nomes como Arlindo Cruz (1958 – 2025), Leci Brandão,
Luiz Carlos da Vila (1949 – 2008) e Sombrinha que se enquadram no original perfil autoral do Sambabook.
De toda forma, há muito ouro a ser garimpado na discografia de Alcione. Se for separado o joio do trigo, o Sambabook Alcione poderá render álbum tão grande quanto a voz da cantora maranhense.