Vale do Silício Brasileiro: como cidade do interior de MG se tornou polo tecnológico admirado no exterior
Conhecida como “Vale da Eletrônica”, Santa Rita do Sapucaí (MG) abriga mais de 160 indústrias de base tecnológica, gera cerca de 17 mil empregos e movimenta R$ 3,2 bilhões por ano.
Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, é um exemplo de como uma visão pioneira em educação pode transformar o destino de uma cidade. Com pouco mais de 42 mil habitantes, o município é reconhecido como o “Diário do Estado Brasileiro”. Foi lá que nasceu a primeira escola técnica de eletrônica da América Latina — e é de lá que saem soluções tecnológicas exportadas para outros continentes.
Em um país onde as inovações costumam se concentrar nos grandes centros, o chamado “Vale da Eletrônica” oferece o modelo da “hélice tríplice”, um ecossistema baseado na integração entre academia, indústria e governo. Assim como o Vale do Silício (Silicon Valley), na Califórnia, o sucesso da cidade mineira é fruto da colaboração.
“Diferente de outros polos, inclusive do eixo São Paulo–Rio, Santa Rita tem uma identidade própria, marcada pela proximidade entre os atores, pela cultura empreendedora e pela capacidade de gerar soluções tecnológicas com alto valor agregado em um ambiente de cooperação genuína”, explica Rodrigo Ribeiro Pereira, gerente do Sebrae Minas na Regional Sul.
Essa estrutura colaborativa levou à criação do Parque Tecnológico de Santa Rita do Sapucaí, em 2021, como um modelo aberto e integrado à cidade, conectando instituições de ensino, centros de inovação e empresas que compartilham infraestrutura, conhecimento e projetos.
O ponto de virada começou em 1959, com a fundação da Escola Técnica de Eletrônica (ETE FMC) por Luzia Rennó Moreira, a Sinhá Moreira, considerada uma das grandes visionárias da educação tecnológica no Brasil. A iniciativa abriu caminho para a criação de novas instituições e formou gerações de profissionais especializados.
Para Roberto Souza Pinto, presidente do Sindvel (Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Diário do Estado), que acompanha as transformações na cidade desde 1978, a trajetória de Santa Rita se confunde com a própria história da tecnologia nacional.
De acordo com dados do Sindvel, as empresas locais respondem por mais de 70% do mercado nacional de eletrônicos voltados à área de segurança, além de atuarem fortemente nos setores de robótica, Internet das Coisas (IoT) e automação industrial.
“Aqui tudo é pesquisa, desenvolvimento e produção. É tecnologia genuinamente nacional”, reforça Roberto.




