Se é essencial, por que parar?

Goiás é o único estado do Brasil que paralisa a construção civil em seus decretos de lockdown. Mesmo São Paulo, ao decretar bandeira vermelha, considerou a construção civil como serviço essencial e manteve as obras em andamento.

Isso porque todos os demais estados, com exceção dos nossos governantes de Goiás, já entenderam que o ambiente de obra é seguro para os trabalhadores. Obras não geram aglomerações. Os ambientes são extremamente ventilados e gera muito pouco contato entre os trabalhadores, uma vez que as frentes de serviço acontecem em diferentes pavimentos e em diferentes cômodos. Costumo fazer a analogia de que uma obra tem menor risco do que um prédio residencial habitado, uma vez que possui ambientes mais ventilados e menor circulação de pessoas.

Os números comprovam que as obras são seguras. A Abrainc realiza pesquisa semanal em quase 900 obras espalhadas por todo o Brasil. O número de afastamentos de operários do setor com Covid-19 é em torno de 0,2%, ou seja, quase zero.

Desde o início da pandemia, as construtoras têm adotado rigorosos protocolos de segurança. E, como nas nossas obras existe forte comando, todos são rigorosamente cumpridos. Temos convicção que eles estarão mais seguros trabalhando, seguindo rigoroso protocolo sanitário, do que em casa, onde irão promover encontros com amigos e familiares e fazer “bicos” para ganhar o sustento, em ambientes sem qualquer controle à pandemia. Existem relatos, inclusive, de aumento de violência doméstica.

O impacto social e econômico desta paralisação pode ser muito significativo e os mais prejudicados são sempre os trabalhadores de baixa renda.

Apoiamos iniciativas de combate à pandemia e preservação das vidas. Defendemos vacinação em massa para todos o mais rápido possível. Enquanto a vacina não chega para todos, para manter as obras em funcionamento, o setor pode dar sua contribuição fornecendo transporte aos trabalhadores sem condução própria e escalonar os horários das obras para evitar deslocamentos em horários de pico. Um transtorno e custo adicionais às construtoras, mas seria nossa contribuição para o combate à pandemia. O setor de transporte escolar, por exemplo, está clamando por trabalho, e poderíamos fazer uma parceria para ajudar esse setor tão prejudicado pela pandemia.

É incorreto dizer que as obras geram proliferação da Covid-19 e contraditório dizer que somente as do poder público possam continuar em andamento. O que pedimos é um tratamento igualitário às obras públicas.

A exemplo de todos os outros estados do Brasil, esperamos que nossas autoridades considerem a construção civil como serviço essencial e mantenha os canteiros funcionando. Estamos convictos de que nossos trabalhadores estarão mais seguros em nossas obras, sob nossos cuidados. Será melhor para a sociedade, para economia, e, principalmente, para os trabalhadores de baixa renda.

Fernando Coe Razuk é presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás

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A crise moral da nova geração de médicos

Médico com máscara.

Por: SARA ANDRADE

Uma jornalista jovem de classe média tem livre circulação nos ambientes frequentados por pessoas com histórias relativamente parecidas: vivendo dentro dos seus vinte anos, formando-se na faculdade e começando carreiras no mercado de trabalho. Nesta bolha, destaca-se a quantidade de moças e rapazes que optaram pelo estudo da medicina.

Estão aí para provar as estatísticas: de 2000 para 2020, o número destes profissionais no Brasil mais que dobrou, passando de 230 mil para meio milhão, segundo resultados do estudo “Demografia Médica no Brasil 2020”, liberado pelo Conselho Nacional de Medicina em parceria com a Universidade de São Paulo.

As milhares de entregas de canudo, tão comemoradas, foram responsáveis por alargar a média de médicos a cada mil habitantes no país: de 1,4 para 2,4, colocando o Brasil no mesmo patamar de nações como Japão ou Polônia, e apenas décimos atrás dos Estados Unidos, com média de 2,6. O que os números não podem mostrar, no entanto, são os pormenores deste fenômeno. Aqui vale o ponto de vista de uma jovem jornalista, e o cenário não é tão simples quanto parece.

A medicina sempre carregou consigo seu bocado de nobreza. Curar doenças, tirar a dor das pessoas, aumentar o tempo e a qualidade de vida: de fato, o jaleco branco pode ser uma espécie metafórica de batina, numa profissão quase sacerdotal, sagrada. Não seria falta de noção falar até em “amor ao próximo”. Muitos jovens estudantes parecem ter esta ideia romântica em mente: ajudar as pessoas através do trabalho de suas vidas. Não é só um emprego: torna-se missão e vocação.

Enquanto isso, outros estudantes de medicina parecem perdidos pelo caminho. Atenção: este é um questionamento aos que em breve serão médicos! Você está verdadeiramente preparado para abrir mão de si, dos seus desejos e caprichos, em prol de um desconhecido? Muitas vezes, seus pacientes serão “impacientes”, inoportunos e sem educação (até porque podem estar sob o efeito de grande dor).

Você pode não ser agradecido, nem reconhecido ou elogiado. Quem sabe até injustiçado. Pense consigo, você pode suportar? Você quer suportar? A sua escolha deve ser como em um casamento: o padre sempre avisa da riqueza e da pobreza, da saúde e da doença: quem diz sim, o diz para tudo.

Com o prestígio do ofício, vêm os abutres. Quantos não estão cursando medicina pelo status social, pelo dinheiro prometido, ou ainda apenas pela experiência da vida festeira de universitário? Tudo isso pode estar no pacote, caso o amor também se faça presente. Sem amor primeiro, é tudo vazio neste coração de doutor. Assim, a indagação martela nas mentes: como um universitário interesseiro e exibido, que nunca se doou a nada, nem a ninguém, pode ser um bom médico? De onde tirará o amor que tudo suporta, que persevera? Ninguém pode dar o que não tem.

Seria possível que um estudante qualquer de medicina, na condição de escravo de aprovação, de likes em redes sociais, incapaz de reconhecer o esforço da família para formá-lo, que só se importa em figurar bem para os amigos nos ambientes sociais… seria possível que disso saia altruísmo, doação e abnegação de si? Doar-se não é lá tão impossível e atos como arrumar a própria cama já são ótimos sinais de ordem interior. A disciplina, a sinceridade, a submissão aos superiores, tão necessárias no dia a dia do médico: tudo isso começa pequeno, mostrando-se no dia a dia do estudante.

Se você não sente obrigação nenhuma para com ninguém, se o mundo inteiro (seus amigos, pais) está sempre errado e você certo, ou se a culpa de seus fracassos, ou más ações, nunca é sua, pobre vítima… falta-te o principal para ser um bom médico: o amor. E este só vem com maturidade, com a compreensão de que sua vida não é para você se entupir de si mesmo, mas um presente ao mundo: ao tiozinho da esquina que sofre, à criança resfriada e à fofoqueira insuportável do bairro. Desse modo, seus dias ganharão um sentido maior.

Muitos reduzem o sucesso na vida ao sucesso profissional. Nada mais equivocado! Quantos não são fracassados com contas bancárias gordas? Isso acontece porque sucesso verdadeiro é ter personalidade, maturidade. E isso só se alcança com consciência moral, que diferencia bem e mal, e que gera noção de dever. Mas o que será de uma geração de jovens médicos que tem horror à própria ideia de moralidade? De ordem? Ou com uma dificuldade imensa de compreender a necessidade de regras, de ritos… Serão eles ricos? É possível. E também miseráveis, porque imaturos e sem personalidade. No fim, ninguém é feliz assim, ou cumpre seu chamado no mundo, sua vocação.

Aliás, o que levaria um jovem médico a doar-se por alguém? Sem sombra de dúvidas, a certeza da dignidade da vida humana, e o conhecimento da sua transcendência. Infelizmente, esta geração tem receio até mesmo de dizer que uma vida humana vale mais que a vida de um papagaio, ou de uma lesma. Como amar o humano, se não se sabe o que ele é, ou quanto vale? Ingênuo pensar que um estudante imaturo e incapaz de amar tornaria-se imediatamente amoroso e dedicado pelo toque mágico do diploma em suas mãos.

Essa dinâmica se aplica a todas as profissões, mas o médico deve ser o primeiro da fila a entender a vida. Porque muitas vezes, ela está em suas mãos. Um bom exemplo a guiar os novatos de consultório pode ser São Lucas. Médico, artista e historiador. Com uma vida inteira doada ao conhecimento da verdade humana. Que a paixão pela beleza da existência também inspire você a cada dia, jovem médico, e te leve ao amor maior. Especialmente neste dia 18, dia do médico e de São Lucas, padroeiro da honrosa missão de curar.

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