Orgulho da cidade, Seahawks e mais: entenda como o Seattle Sounders, rival do Botafogo, cresceu na MLS
Franquia estreou na MLS em 2009 e conquistou vaga na Copa de Clubes em 2022; trajetória até a elite do futebol nos EUA teve votações públicas, senso comunitário e colaboração com time da NFL
Equipes esportivas sempre criam uma comunidade em seu entorno. Afinal, as torcidas compartilham interesses, objetivos, hábitos. Mas o que acontece quando uma comunidade já existente “cria” o time? De 2009 para cá, o Seattle Sounders tornou-se uma das maiores franquias da MLS, a liga americana de futebol. Neste domingo, o clube estreia na Copa do Mundo de Clubes – contra o Botafogo [https://de.globoesporte.globo.com/futebol/times/botafogo/], às 23h (horário de Brasília) – para levar adiante uma história que envolve votações públicas, pesquisas de consumo em bares e um enorme orgulho da cidade de Seattle.
Conheça o Lumen Field, palco de Botafogo x Seattle Sounders na Copa do Mundo de Clubes [https://s02.video.glbimg.com/x240/13679537.jpg]
+ João Paulo, do Seattle Sounders, vai encontrar o ex-time na Copa de Clubes: “Virei torcedor do Botafogo” [https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2025/06/14/joao-paulo-do-seattle-sounders-vai-encontrar-o-ex-time-na-copa-de-clubes-virei-torcedor-do-botafogo.ghtml]
— Acho que houve a confluência de uma série de fatores e uma abordagem muito inteligente para envolver a base de torcedores como parte da criação e desenvolvimento da franquia. Eu acredito que tudo se encaixou muito bem: o marketing, a marca e a autenticidade de como o jogo é jogado aqui. Acho que tudo foi feito com maestria — afirmou o empresário Peter McLoughlin, citado no livro “Soccer: Sucesso em Seattle” (ed. Grande Área).
O Sounders como se conhece hoje existe desde 2007, tendo virado uma franquia da MLS em 2009 – nos Estados Unidos, em ligas sem acesso ou rebaixamento, novos times surgem à medida em que a categoria se vê em boa situação financeira e busca expansão para novas cidades.
A primeira empreitada com esse nome, entretanto, é de 1974, quando Seattle recebeu uma franquia da North American Soccer League (Liga Norte-Americana de Futebol, na sigla NASL em inglês). À época, a NFL ainda não havia chegado à cidade (1976), tampouco a Major League Baseball.
+ Arthur Cabral celebra acerto com o Botafogo e nega ser substituto de Igor Jesus: “Tenho características bem diferentes” [https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2025/06/13/arthur-cabral-celebra-acerto-com-o-botafogo-e-nega-ser-substituto-de-igor-jesus-tenho-caracteristicas-bem-diferentes.ghtml]
Torcida do Seattle Sounders em jogo no Lumen Field — Foto: Steph Chambers/Getty Images
+ Favoritos e surpresas: veja o guia da Copa do Mundo de Clubes 2025 [https://interativos.ge.globo.com/futebol/mundial-de-clubes/especial/guia-da-copa-do-mundo-de-clubes-2025] + Onde a bola rola: conheça os 12 estádios da Copa do Mundo de Clubes 2025 [https://ge.globo.com/futebol/mundial-de-clubes/noticia/2025/06/14/onde-a-bola-rola-conheca-os-12-estadios-da-copa-do-mundo-de-clubes-2025.ghtml]
Entre clínicas de futebol em escolas e sessões de autógrafo após os jogos, criou-se um clima de comunidade em torno dos Sounders que levou o time a ter cerca de 13 mil torcedores por jogo – o dobro da média da NASL na época.
Problemas de administração da NASL, a chegada de novas ligas esportivas a Seattle e até uma mudança do Memorial Stadium para o Kingdome – acarretando mais cadeiras vazias em um estádio de 25 mil pessoas – contribuíram para o ímpeto do Sounders se dissipar. Menos de uma década depois, em 1983, o Sounders disputou sua última temporada na NASL.
O time ressurgiu em ligas inferiores no fim da década de 1990, mas faltava a MLS. Em 1997, quando o Seattle Seahawks, de futebol americano, corria risco de ser transferido para Los Angeles, o co-fundador da Microsoft Paul Allen aceitou adquirir a franquia da NFL. Havia uma condição: a construção de um novo estádio.
A comunidade do futebol teve um papel essencial nesse processo – impulsionada não só pela garantia de que o palco também receberia o “soccer”, mas principalmente pela promessa de que os gestores trabalhariam para dar a Seattle uma franquia na MLS.
+ Marlon Freitas diz que é um sonho jogar a Copa e vê Botafogo nos trilhos: “Ninguém nos deu nada de graça” [https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2025/06/13/marlon-diz-que-e-um-sonho-jogar-a-copa-e-ve-botafogo-nos-trilhos-ninguem-nos-deu-nada-de-graca.ghtml]
Seattle Sounders comemora título da Liga dos Campeões da Concacaf 2022 — Foto: Jeff Halstead/Icon Sportswire via Getty Images
+ Antes sintético, agora natural: gramado do Lumen Field passa por mudanças antes de Botafogo x Seattle Sounders [https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2025/06/13/antes-sintetico-agora-natural-gramado-do-lumen-field-passa-por-mudancas-antes-de-botafogo-x-seattle-sounders.ghtml]
A população local aprovou em referendo público, por dois pontos percentuais, financiar com impostos a construção do Lumen Field, onde o Botafogo jogará neste domingo.
Enquanto a MLS não chegava com uma proposta, o Sounders disputava a United Soccer League, uma liga de menor expressão nos Estados Unidos. Até que, em 2007, o comissário da MLS Don Garber ligou para Adrian Hanauer – acionista majoritário do Sounders – afirmando que um produtor de Hollywood, chamado Joe Roth, estava interessado na empreitada de levar Seattle à MLS.
Impulsionado pelo burburinho que a contratação de David Beckham pelo Galaxy gerou em Los Angeles, Roth quis participar da festa do “soccer” nos Estados Unidos. Foi aconselhado a buscar oportunidades na costa noroeste, que possuía potencial de expansão. Após analisar Portland, Vancouver e Seattle, viu melhores chances nesta.
+ Artur Jorge planeja volta ao Brasil e diz que poderia ter ficado no Botafogo: “Tinha mais para ganhar” [https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2025/06/13/artur-jorge-planeja-volta-ao-brasil-e-diz-que-poderia-ter-ficado-no-botafogo-tinha-mais-para-ganhar.ghtml]
Lumen Field, casa do Seattle Sounders que vai receber jogos do Botafogo na Copa de Clubes — Foto: Soobum Im/Getty Images
+ Com filho recém-nascido no Brasil, Gregore vive sonho com o Botafogo: “Pai deles é trabalhador” [https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2025/06/12/com-filho-recem-nascido-no-brasil-gregore-vive-sonho-com-o-botafogo-pai-deles-e-trabalhador.ghtml]
Tod Leiweke, diretor executivo do Seahawks, convenceu seu chefe (e proprietário do time) Paul Allen a entrar de cabeça no projeto Sounders. Seus funcionários ganhariam uma carga de trabalho extra, sem remuneração equivalente, aplicando a expertise adquirida na NFL – venda de ingressos, comerciais, marketing, assessoria de imprensa – à gestão do Sounders no futebol.
O anúncio de que a MLS havia concedido uma franquia a Seattle foi feito em um bar da cidade, tradicional por passar jogos de futebol, em novembro de 2007. Uma decisão correspondente ao novo público que o time buscava para além das “soccer moms” – como são chamadas as mães que costumam levar as filhas a treinos. No início da trajetória da MLS, era comum que festas fossem realizadas em bares para assistir a jogos fora de casa, ampliando o senso de comunidade.
A MLS pré-aprovou três nomes para a franquia em Washington, fugindo de alcunhas atreladas a ligas minoritárias: Seattle FC, Republic ou Alliance. O público se revoltou antes mesmo da votação, e surgiu a opção “outro” – onde Sounders, honrando as origens do futebol na cidade, recebeu mais votos do que as outras três alternativas somadas.
Nos Seahawks, o Sounders virou uma empreitada interna vista com entusiasmo. Para o público, pequenas mudanças ajudaram a construir a credibilidade da equipe de futebol junto à franquia da NFL. E-mails corporativos assumiram o endereço “@seahawks-soundersfc.com”. Ligações telefônicas passaram a ser atendidas com “obrigada por ligar para o Seattle Seahawks e o Sounders FC”.
+ Conversas na praia, fogueira e treinos de três horas: como foram os primeiros dias do Botafogo nos EUA [https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2025/06/12/conversas-na-praia-fogueira-e-treinos-de-tres-horas-como-foram-os-primeiros-dias-do-botafogo-nos-eua.ghtml]
Time do Seattle Sounders alinhado para a primeira partida na MLS, em 2009 — Foto: Robert Giroux/Getty Images
— Fazia muito tempo que não se jogava futebol de alto nível em Seattle. Os torcedores estavam só esperando e dizendo: “Vamos lá! Todo mundo agora tem um time, por que só aqui não? Mostrem algum respeito por nós, que nós vamos mostrar por vocês”. Eles queriam demonstrar ao resto do país como se torcia e se vibrava de verdade com uma equipe, e como se criava um clima de jogo — apontou Chris Henderson, ex-diretor de futebol do Sounders.
Com um relacionamento construído no cotidiano e diretamente relacionado ao orgulho local em Seattle, o Sounders foi crescendo ainda fora dos gramados. A estreia na MLS aconteceu em 19 de março de 2009, com vitória por 3 a 0 sobre o New York Red Bulls, vice-campeão do ano anterior.
Fredy Montero marcou o primeiro gol, Brad Evans ampliou, e Montero fechou o placar do triunfo. De volta aos Estados Unidos, o goleiro Kasey Keller não escondeu o alívio por corresponder às expectativas geradas pelo Sounders até então.
— Eu estava tremendamente nervoso. Em parte, por causa da volta para casa. Era a expectativa em torno do novo time, e eu queria que desse certo desde o começo. Eu só queria que o futebol desse certo aqui. Sentia que tínhamos uma boa entrada nos principais meios de comunicação de Seattle e queria que isso continuasse. Queria que as pessoas gostassem, porque eu tinha voltado para ficar. Não estava voltando para depois ir para outro lugar. Por isso eu queria que a coisa começasse do jeito certo — revelou o ex-goleiro.
Os Sounders garantiram a vaga na Copa do Mundo de Clubes com a conquista da Concachampions de 2022, tornando-se o terceiro time dos Estados Unidos a vencer o torneio; antes, DC United (1998) e Los Angeles Galaxy (2000) haviam sido campeões em um molde anterior da competição. Com mais de 30 mil ingressos comercializados, a equipe recebe o Botafogo neste domingo para a grande estreia, no Lumen Field; a bola rola às 23h (horário de Brasília).