Secretária de Cultura critica autorização do Iphan para obras do BRT na Praça Cívica

Secretária de Cultura, Yara Nunes diz que foi um 'absurdo' o Iphan ter liberado obras do BRT na Praça Cívica (Foto: Secult)

A secretária de Cultura de Goiás, Yara Nunes, classificou como “um verdadeiro absurdo” a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de liberar a implantação do BRT Norte-Sul na Praça Cívica, em Goiânia. O espaço concentra parte do conjunto arquitetônico e urbanístico art déco tombado pelo próprio instituto e considerado um marco da construção da capital na década de 1930.

Segundo Yara, a autorização compromete a leitura do traçado histórico e afeta a preservação do patrimônio cultural. “A Praça Cívica reúne grande parte dos edifícios tombados pelo próprio Instituto e pertencentes ao Conjunto Arquitetônico Art Déco e Urbanístico de Goiânia. Apesar de algumas ponderações do Iphan, houve de fato o comprometimento na leitura do traçado tombado, bem como da riqueza de todo o patrimônio cultural que o compõe”, afirmou.

A secretária também criticou a postura recente do órgão em Goiás, que, segundo ela, adota critérios distintos em suas decisões. Como exemplo, citou a própria sede do Iphan, localizada na Praça Cívica, que passou por intervenções com estruturas metálicas e placas de vidro, modificando características originais do edifício. “É uma contradição evidente e inaceitável para um órgão cuja missão é justamente preservar o patrimônio histórico”, disse.

A região central de Goiânia abriga 22 edificações art déco protegidas pelo Iphan, reconhecidas por formas geométricas, recortes nas fachadas e elementos decorativos estilizados — um dos maiores acervos do gênero no país. Para Yara, além de desconsiderar esse valor histórico, a autorização para as obras do BRT também ignora o impacto ambiental da retirada de árvores na Praça Cívica. “O replantio não tem a mesma eficiência de uma árvore cheia de vida e que está prestando seu papel de forma saudável”, destacou.

A secretária relembrou ainda que o governador Ronaldo Caiado já havia questionado a atuação do órgão. “O próprio governador disse que sabia onde estava o compromisso do Iphan: com aquelas gaiolas construídas no cenário da Praça Cívica, que é o maior conjunto arquitetônico art déco de Goiás e o nosso principal monumento”, afirmou.

Outros impasses


Yara Nunes também apontou outros episódios que, segundo ela, demonstram falta de prioridade do Iphan em relação ao patrimônio goiano. Entre eles, a paralisação da construção do novo Cavalhódromo de Pirenópolis, que substituiria a antiga estrutura por uma arena multiuso voltada à valorização cultural e ao turismo. A obra está parada após negativa do órgão, o que impede a liberação do alvará pela prefeitura.

Ela relacionou a decisão a interesses políticos, mencionando que a superintendência regional é chefiada por Gilvane Felipe, ex-secretário do ex-governador Marconi Perillo.

Outro exemplo citado foi a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, na cidade de Goiás, que abriga o Museu de Arte Sacra e apresenta sinais de deterioração, como janelas danificadas e estruturas comprometidas. “Um verdadeiro descaso do órgão que deveria defender, preservar e priorizar esse patrimônio, mas escolhe fazer política e atrapalhar a valorização das riquezas goianas”, concluiu.

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