Corpo de menina baleada em São João de Meriti é enterrado e parentes se revoltam: ‘Até quando isso?’
A mãe de Nicolly, que levou um tiro na perna no mesmo tiroteio em que a filha morreu, ficou próxima ao caixão, sem conseguir falar e com dificuldade para andar. Parentes e colegas de igreja e da escola foram ao sepultamento.
Corpo de menina baleada em São João de Meriti será velado e cremado neste sábado
Parentes, amigos e colegas da menina Nycolly Moraes da Silva, de 12 anos, que morreu depois de levar um tiro na comunidade Buraco Quente, em São João De Meriti, não acreditavam neste sábado (18) que estavam enterrando o corpo da menina.
> “Até quando isso? Não dá, tá difícil, mais um pedaço que se foi. Até quando vão morrer outras Nicollys?”, questionou a tia avó de Nicolly, Bárbara Moraes.
A mãe, que levou um tiro na perna no mesmo tiroteio em que a filha morreu, ficou próxima ao caixão, sem conseguir falar e com dificuldade para andar. O pai de Nicolly, Gelson Moreira, lamentou muito a morte da filha.
“Foi minha filha, outras e mais outras e eu peço que deus abençoe até quem fez também e que guarde todos nós, só isso que tenho pra falar, quero paz”, disse ele.
A família diz que só vai conseguir pagar a cerimônia porque o dono da funerária se sensibilizou e vai arcar com todos os custos. O autor do disparo ainda não foi identificado pelos investigadores.
Cláudia Morais, mãe de Nycolly, teve alta na sexta-feira (17). Ela foi atingida por um tiro na perna e recebeu a dolorosa notícia pouco antes de deixar a unidade. Nycolly tinha três irmãos, o mais velho deles não sabia como falar para a mãe sobre a morte da irmã. A tarefa coube a psicólogos e assistentes sociais do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias.
A menina foi baleada no tórax quando comprava um refrigerante para o almoço. Em um vídeo foi feito logo após os disparos, é possível ver que ela estava caída no chão, enquanto moradores, desesperados, tentavam ajudar. A Polícia Militar informou que agentes foram ao buraco quente verificar “um indivíduo em uma motocicleta roubada e esconderijo de armas e drogas na região”, mas foram atacados “por disparos de arma de fogo vindos da comunidade” e garantem que não houve confronto.
Segundo a ONG Rio de Paz, de 2020 até agora foram 50 meninos e meninas vítimas de bala perdida no Estado do Rio. Todos tinham no máximo 14 anos de idade. “A face mais hedionda da criminalidade do nosso estado é a morte de meninos e meninas pobres por bala perdida. Em geral, a autoria desses homicídios não é elucidada, a família não recebe nenhum apoio do poder público e nada muda. Por que nós temos que aceitar esse morticínio no Rio de Janeiro?”, questiona Antônio Carlos Costa, presidente da ONG Rio de Paz.
Segundo familiares, policiais militares entraram na comunidade, se depararam com traficantes e atiraram contra eles. A família afirma que os policiais envolvidos na ocorrência demoraram a socorrê-las. Cláudia teria sido levada de ambulância depois de uma hora, enquanto a garota acabou morrendo no local, na frente da mãe.
O comando do 21º BPM instaurou um procedimento para apurar e analisar as circunstâncias do fato. Um homem foi detido com uma moto roubada. Inicialmente, a ocorrência foi apresentada na 54ª DP (Belford Roxo), mas o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) informou que testemunhas foram ouvidas, assim como os agentes que estavam no local e disse que a investigação continua para tentar encontrar quem atirou na menina e na mãe dela.