Série documental revela vida dos botos-cinza em quatro regiões do Brasil
Produção inédita mostra diversidade de comportamentos do golfinho ameaçado de
extinção e reforça a importância de conservar a espécie nativa.
1: Espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção — Foto: Eric
Medeiros
Como vivem os botos-cinza ao longo da extensa costa brasileira? Que ameaças
enfrentam e como se relacionam com as comunidades locais? Essas e outras
perguntas norteiam a série documental “Expedição Boto-cinza”, produzida pelo
Projeto Boto-cinza, com direção do documentarista Gabriel Marchi e patrocínio do
Programa Petrobras Socioambiental.
A série, que estreou em maio no canal do YouTube do Instituto de Pesquisas
Cananéia (IPeC), é composta por quatro episódios e apresenta registros
impressionantes sobre o comportamento do boto-cinza (Sotalia guianensis), um
golfinho que habita regiões costeiras e que atualmente consta na lista vermelha
de espécies ameaçadas no Brasil.
Inédita, a produção pretende mostrar em detalhes como é a estrutura social da dos botos, o cuidado com os filhotes, as estratégias para conseguir alimento e
os desafios de habitar ambientes em constantes transformações.
2: Populações de botos-cinza apresentam diferenças comportamentais em cada
região do país — Foto: Caio Noritake
A série também mostra as pesquisas científicas, curiosidades, ameaças e
oportunidades econômicas da presença viva e livre desses mamíferos. É a primeira
vez no Brasil que uma expedição percorre a costa brasileira para mostrar a vida
dos boto-cinza.
Os três primeiros episódio da série “Expedição boto-cinza” já estão disponíveis
no canal do YouTube do IPeC. Cada
capítulo revela um aspecto diferente da vida desses golfinhos fascinantes,
conectando ciência, conservação e emoção em alto-mar.
VIAGEM PELA DIVERSIDADE COMPORTAMENTAL
A expedição percorreu quatro localidades distintas: Cananéia (SP), Rio de
Janeiro (Baía de Sepetiba), Florianópolis (SC) e Praia da Pipa (RN). Em cada uma
delas, pesquisadores locais contribuíram com informações científicas e relatos
sobre as populações de botos-cinza.
A escolha dos locais teve como critério a diversidade dos grupos. “Escolhemos
populações com características comportamentais, organizacionais e de ambiente
mais distintas possíveis para conseguir mostrar essa grande diversidade de
comportamentos e de ocorrência da espécie na costa brasileira”, revela Caio
Louzada, coordenador do projeto.
3: Equipe flagrou grupos numerosos de botos-cinza — Foto: Julia Cavalli Pierry
“Pense nos botos como os brasileiros, em cada região do país temos costumes,
culturas e tradições diferentes. De uma forma simplificada de explicar, algo
similar acontece com os botos, em cada região da costa brasileira eles têm uma
‘vida’ diferente. A série mostra esse aspecto, revelando a inteligência e a
complexidade da estrutura social dos botos-cinza. Com isso, ampliamos o
conhecimento sobre a espécie”, explica o coordenador.
Uma das surpresas mais marcantes aconteceu na Baía de Sepetiba, onde a equipe
registrou uma enorme agregação de botos-cinza com centenas de indivíduos. “Foi
algo muito marcante, principalmente para nós que estamos acostumados a observar
os botos-cinza em pequenos grupos em Cananéia”, relembra.
4: Equipe flagrou grupos numerosos de botos-cinza — Foto: Julia Cavalli Pierry
DESAFIOS TÉCNICOS
Realizar uma produção documental em ambientes marinhos é uma tarefa complexa. O
maior desafio da equipe foi o tempo restrito em cada local, já que os
integrantes tinham poucos dias em campo para localizar os grupos e conseguir
boas imagens.
“A maior parte das imagens foi obtida através de saídas embarcadas então
tínhamos que conciliar as condições meteorológicas para gravação, tempo de
navegação até localizar os animais, condições para operar os equipamentos de
filmagens (câmeras e drones) e fazer bons registros dos animais que não são a
espécie mais fácil para registrar”, conta Gabriel Marchi.
Mesmo diante dessas dificuldades, a série conseguiu revelar momentos raros e
emocionantes da vida dos botos, sempre priorizando o respeito à fauna e ao
ambiente.
5: Série documental foi produzida pelo Projeto Boto-cinza, sob a direção do
documentarista Gabriel Marchi — Foto: Letícia Quito
ENTRE AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
Mais que informar, a série busca também sensibilizar o público. A presença do
boto-cinza está fortemente ligada a áreas de grande atividade humana, o que
aumenta a vulnerabilidade da espécie. Entre as principais ameaças estão a
poluição marinha, o tráfego de embarcações e a degradação dos habitats
costeiros.
Ao mesmo tempo, a presença dos botos pode representar oportunidades
sustentáveis, como o turismo de observação de fauna. A série mostra como a
atividade, que em algumas regiões já é uma fonte de renda expressiva, pode ser
direcionada a esses animais.
6: Poluição marinha, tráfego de embarcações e degradação dos habitats
costeiros ameaçam a vida dos botos — Foto: Caio Noritake
No entanto, também pondera que esse tipo de turismo seja feito com
responsabilidade, especialmente das embarcações marítimas. “Por isso, ao abordar
esse tema na série, atrelado a outras informações importantes sobre a espécie, é
uma forma de sensibilizar os turistas como agentes de conservação”, finaliza o
pesquisador.
APRENDIZADOS E PRÓXIMOS PASSOS
Além de divulgar dados científicos de forma acessível, a produção mostra o
esforço de conservação realizado por décadas por pesquisadores em diferentes
regiões.
“Mostramos a importância das pesquisas científicas para gerar dados que possam
contribuir para a mitigação desses impactos e alertar os brasileiros dos riscos
que uma espécie tão emblemática corre, é um convite à reflexão de como as
pessoas podem somar a esses esforços. ” é reforça Louzada.
O próximo passo do Projeto Boto-cinza é o lançamento, em julho, de um curta
documental aprofundando os comportamentos da espécie, a fim de expandir ainda
mais o conhecimento gerado pela expedição.
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