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Sex shops evangélicos viram moda no Rio

Última atualização 01/12/2021 | 11:49

Com embalagens discretas, sejam elas dentro de caixa de remédios e até mesmo saco de pão, Andrea dos Anjos, 43, leva com máxima discrição seus produtos eróticos vendidos para clientes evangélicas.

Esse seria um ”Sex shop evangélico”. Criado em 2019 no Rio de Janeiro como uma loja virtual, Memórias de Clô foi lançada especialmente para mulher evangélicas. Perguntas, conselhos e pedidos são feitos através de mensagens privadas. Assim como na loja de Carolina Marques, 26, inaugurada há um ano com o nome ConsenSual.

Em entrevista a Folha de S. Paulo, Carolina rejeita o termo sex shop. ”É muito “agressivo para o público evangélico, cuja visão do sexo pode ser muito conservadora”, explica a integrante da igreja Assembleia de Deus, que quer se tornar sexóloga.

Seu catálogo de produtos, como ela define, são para auxiliar em relacionamentos e tem uma apresentação contida para que quem o consulte ”não feche a tela” com presa se alguém se aproximar.

Antes de se casar, Carolina percebeu como era delicado abordar a diversão no sexo entre as convidadas evangélicas do seu chá de solteira.

“Nós, cristãos, temos muito esse tabu da sensualidade. Mas dentro do seu casamento com seu cônjuge não é visto com esses olhos porque pode ser natural. Quero tirar esse estigma de que o sexo é só para reprodução”, diz ela em sua pequena casa com quintal em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

Para lançar sua loja, uma das pioneiras no setor, ela informou o pastor de sua igreja e sua esposa. . “Eles sempre me alertam: cuidado com as embalagens” e foram os primeiros contrários a falar em sex shop. “‘Isso assusta. Isso mostra algo diferente do que nós somos. Deixa algo muito vulgar’, me disseram”.

”Não sintam que estão fazendo algo errado”

Lubrificantes com sabor de algodão doce ou maça do amor, perfumes afrodisíacos ou dispositivos em forma de ovo para ajudar na melhora da sintonia. Isso é o que Andrea vende em sua loja Memórias da Clô.

Marques se limita a oferecer produtos menos transgressores para que as clientes, casadas ou noivas, ”não sintam que estão fazendo algo errado” diante de Deus. Assim, próteses, objetos para se divertir ”sozinho” ou linha de sexo anal ficam de fora do catálogo.

“O que é pecado, o que não?”. Andrea, que frequenta a igreja Batista, buscou respostas nos textos sagrados, mas chegou à conclusão de que cada casal deve estabelecer seus limites.

A ideia de abrir um sex shop especialmente para o público evangélico nasceu com a primeira ida de Andrea ao sex shop, após se divorciar do marido que a forçava a manter relações.

“Eu não sabia o que era prazer. A pessoa lá era um homem. Como vou explicar para ele? Achei que outras mulheres evangélicas pensavam isso também”.

Além de comercializar produtos como estimulantes femininos, ela dedica grande parte de sua atividade à orientação de mulheres com problemas de lubrificação, pós-parto, etc.

Mas também recebe casais, como homens e mulheres virgens que aconselha durante dias para que se aproximassem mutuamente ”A venda acontece depois”, diz.

Andrea passou a receber encomendas de outros estados do Brasil, tentando o máximo para seduzir seus clientes: ”Nosso corpo é o nosso templo, o templo do Senhor. Então a gente tem que cuidar”.