Álbum com que Vanusa tentou (em vão) ingressar no clube da MPB, há 50 anos, é recriado por Ivana Wonder em show
Capa do álbum ‘Amigos novos e antigos’, lançado em 1975 por Vanusa (1947 – 2020) — Foto: Reprodução
Embora não fosse considerada uma cantora cafona, rótulo atribuído a contemporânea Diana (1948 – 2024), por exemplo, Vanusa tampouco era percebida como uma artista da MPB quando estourou nas paradas com as músicas Manhãs de setembro (Mário Campanha e Vanusa) e Sonhos de um palhaço (Antonio Marcos e Sérgio Sá) em 1973 e 1974. Tanto que, em 1975, Vanusa Santos Flores (22 de setembro de 1947 – 8 de novembro de 2020) fez movimento para tentar ingressar no seleto clube da MPB.
Ao voltar para a RCA, gravadora na qual a cantora estreara em 1967, a cantora gravou álbum, Amigos novos e antigos, em que deu voz a compositores como Belchior (1946 – 2017), Milton Nascimento, João Bosco & Aldir Blanc (1946 – 2020) – autores da música-título – e Luiz Melodia (1951 – 2017).
De Melodia, Vanusa lançou o samba Congênito neste disco produzido por Moracy do Val e Lincoln Olivetti (1954 – 2015) com arranjos distribuídos entre Chiquinho de Moraes (1937 – 2023), José Briamonte (1931 – 2022), Sérgio Sá (1953 – 2017) e o próprio Lincoln Olivetti, então em início de carreira como produtor musical e arranjador.
É esse álbum já cinquentenário e tão importante na discografia de Vanusa que a cantora performática Ivana Wonder – persona artística criada por Victor Ivanon, designer gráfico paulistano – irá abordar em show concebido para a quarta edição do projeto Meio século de discos históricos, do Sesc 24 de Maio.
No sábado e domingo, 6 e 7 de setembro, Ivana Wonder subirá ao palco do Sesc 24 de Maio, em São Paulo (SP), para apresentar o segundo show da série 75/25 (o primeiro aconteceu em 30 e 31 de agosto e foi dedicado ao álbum Wando, reinterpretado pelo cantor Thomé com participação de Pedro Luís).
Com a participação de Simone Mazzer, cantora de acento dramático, Ivana Wonder rebobinará o repertório deste disco diferenciado em que Vanusa fez bater Coração americano, inesperada parceria de Raimundo Fagner com Antonio Marcos (1945 – 1992) que pulsou com latinidade sul-americana evocativa da obra de Milton Nascimento.
De Milton, aliás, Vanusa regravou Outubro (1967), uma das primeiras parcerias do compositor com o letrista e poeta Fernando Brant (1946 – 2015). Foi no álbum Amigos novos e antigos que Vanusa lançou a canção Paralelas, composição de Belchior, artista que somente alcançaria projeção e sucesso no ano seguinte com o álbum Alucinação (1976).
Entre canções esquecidas como Amor desempregado (Antonio Marcos, Mario Marcos e Lincoln Olivetti) e Vinho rosé da rainha sem rei (Gabino Correa e Vanusa), o álbum Amigos novos e antigos guardou pérolas raras da MPB como Muros de alecrim (César Costa Filho e Jésus Rocha), uma das inspiradas composições do repertório deste álbum que permaneceu na história como o melhor disco de Vanusa.
Em 1977, a cantora tentou outro mergulho (menos fundo) no universo da MPB com o álbum 30 anos, mas, sem nunca ter sido admitida de fato no clube, acabou voltando para a canção popular. E então Vanusa foi sumindo… sumindo, até sair de cena, primeiro de forma figurada e, há cinco anos, de maneira concreta.
A cantora se foi, mas deixou esse grande disco que ecoa 50 anos depois nas vozes potentes de Ivana Wonder e Simone Mazzer dentro do projeto 75/25.
Ivana Wonder dá voz ao repertório do álbum de Vanusa em show com participação de Simone Mazzer — Foto: Gabriela Schmidt / Divulgação