Sífilis apresenta tendência de aumento de casos nos últimos cinco anos, em Goiás

A literatura brasileira do século XIX reproduziu a epidemia de sífilis vivenciada pela sociedade da época. A falta de conhecimento sobre prevenção e ausência de tratamento efetivo já não são um problema, mas, apesar disso, a doença avança silenciosamente mesmo tendo cura. Em Goiás, a quantidade de casos se mantém com tendência de alta nos últimos cinco anos, incluindo durante a pandemia de coronavírus. 

Considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), a doença também pode ser transmitida no salão de beleza por meio de objetos em contato com sangue contaminado, como alicate, espátula palito e cortador de unha. A ausência de sintomas evidentes faz com que a bactéria causadora da sífilis fique adormecida no corpo da pessoa infectada, o que torna mais fácil a disseminação do microorganismo por falta de diagnóstico.

A maioria dos casos é descoberta em estágio avançado, ou seja, quando o paciente começa a apresentar cegueira, paralisia, doença cardíaca, aborto, má formação nos fetos, transtornos mentais e até a morte. A IST mais antiga registrada no mundo, com registros no ano de 1490 e causadora de mortes de famosos, a exemplo do gângster Al Capone, é tratada simplesmente com injeção de penicilina.

O comportamento sexual menos atento a cuidados preventivos pode ajudar a explicar o aumento de casos confirmados no mundo. A mudança de status da infecção por HIV, que deixou de ser letal para se tornar crônica, a não realização de exames precocemente e a prática de relações sexuais sem camisinha criaram o cenário no qual a propagação da doença subiu 29 vezes no Brasilem apenas dez anos, segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde (MS).

O infectologista Marcelo Daher alerta para as únicas maneiras de evitar a infecção por sífilis: uso de preservativo e testagem frequente. Segundo ele, há cura na forma primária, secundária e terciária, embora neste último não haja alívio dos sintomas e seja mais rara. O médico chama atenção para a necessidade de publicidade sobre o assunto.

“Faltam campanhas sobre todas as IST’s. Elas estão em alta no Brasil. A varíola dos macacos, inclusive, está se comportando como uma IST, o que exige ações de prevenção e esclarecimentos para a população.  Os programas de IST/Aids são exemplo para o mundo. Seria importante o governo adotar medidas de prevenção ao invés de investir apenas em tratamento”, frisa.

Aumento de casos

No mundo, a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 12 milhões de pessoas com a doença. A notificação compulsória de sífilis nas unidades de saúde colaboraram na criação de bancos de dados confiáveis. Em 2020, 115.371 brasileiros tinham a doença, enquanto em 2010 eram 3.936, conforme o boletim do MS. A Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) registrou 3.934 casos apenas neste ano. Os números da pasta evidenciam outro lado perverso da doença: as infecções em gestantes e em bebês.

As mulheres grávidas com sífilis somam 1.479  somente até o início de agosto deste ano. Os recém nascidos com a doença na versão congênita chegam a 398 também no mesmo período. Eles podem apresentar pneumonia, feridas no corpo, cegueira, dentes deformados, problemas ósseos, surdez ou deficiência mental.

O tratamento com penicilina durante a gravidez cura a mãe e o feto, na maior parte dos casos, mas somente se realizado até quatro semanas antes do parto. Se isso não ocorrer, a criança pode ter que  tomar uma única injeção com o medicamento. “A sífilis congênita é uma doença grave e triste de se ver”, pontua Daher. 

Um dos grandes problemas é que, por ser causada por uma bactéria, a infecção por sífilis não confere imunidade. A doença pode ocorrer mais de uma vez e com diferentes quadros clínicos, variando entre os estágios primário, secundário, latente e terciário. Inicialmente surge uma ferida indolor nos órgãos sexuais e com ínguas nas virilhas na segunda ou terceira semana após a relação sexual desprotegida com pessoa infectada. Em seguida, o corpo apresenta manchas até nas palmas das mãos e solas dos pés.

A terceira fase é assintomática e tem menos risco de transmissão da bactéria. A identificação ocorre através de testes sorológicos. Por fim, a doença evolui para o último estágio, que pode surgir décadas após o início da infecção, levando a graves lesões cutâneas, ósseas, neurológicas e cardíacas, que podem levar a um quadro de demência ou até mesmo à morte do paciente. 

Rápido e gratuito

O teste rápido de sífilis, a principal forma de diagnóstico da doença, está disponível gratuitamente nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) com leitura do resultado em, no máximo, 30 minutos. Se positivo, o paciente é encaminhado para realizar um exame de sangue que confirmará o diagnóstico. A parceria sexual também deverá ser testada e tratada para evitar a reinfecção, principalmente da gestante. A aplicação da penicilina ocorre nas unidades básicas de saúde.

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