Insatisfeito, Silva parece desconhecer que cada música e artista têm alcance, espaço e público próprios no mercado. Comentários agressivos do artista em show sinalizam desgosto com a posição ocupada pelo cantor. Silva tem obra autoral de menor alcance do que os shows em que canta hits da axé music.

Todo o universo pop foi surpreendido com o tom agressivo dos comentários feitos por Silva durante show apresentado em um festival. O cantor foi deselegante ao se referir a nomes como a cantora Luísa Sonza e a empresária Paula Lavigne em considerações sobre o mercado. Não cabe aqui incentivar o tribunal da internet que julga e condena artistas por uma fala ou gesto infeliz.

A questão que chamou atenção é que o artista parece insatisfeito com a posição que ocupa no mercado. E, mais do que isso, parece desconhecer que cada tipo de música e artista têm um alcance, um espaço e um público próprios. Silva lançou no ano passado um revigorante álbum autoral, Encantado, em que ecoa em algumas faixas a sonoridade da obra do pianista e compositor João Donato, a quem o cantor dedica o disco.

O álbum é ótimo, mas não encantou o público que ia atrás do Bloco do Silva para ouvir sucessos da axé music. Tanto que a pista vazia da Arena Jockey ficou vazia no show de lançamento do disco Encantado, no Rio de Janeiro. Silva apresentou grande show para um público pequeno e, em maioria, disperso, nada interessado no show.

Sim, o público dos álbuns autorais de Silva é bem menor. É essa conta que parece não fechar na cabeça do artista. É injusto Silva reclamar que somente é convidado para cantar músicas alheias em programas de TV. Tem lugar para todo mundo no mercado, mas é preciso que cada artista saiba o lugar que ocupa.

Silva ajustar a expectativa mercadológica ao alcance dos trabalhos autorais do artista pode ajudá-lo a ficar em paz com o mercado que ora critica. Nada que umas sessões com o terapeuta do artista não possam resolver. Importante lembrar que no mundo da música, assim como em outras áreas, o reconhecimento e o sucesso nem sempre são proporcionais ao talento e à qualidade do trabalho. Cabe a cada artista compreender seu público e sua posição no mercado.