Um soldado do Comando de Operações Especiais (COpEsp), unidade do Exército Brasileiro em Goiânia, denunciou a rotina de agressões, tortura psicológica e até tentativas de suicídio sofridas pelos jovens no local. A denúncia foi feita após a morte de Khaleby Ribeiro Alves do Santos, de 19 anos, que morreu afogado durante um treinamento no início da semana.
“A gente fica com medo. A gente tem medo do que pode acontecer”, desabafou ao G1.
De acordo com o soldado, os jovens que chegam ao batalhão precisam passar por um treinamento de cerca de um mês de duração para então ingressarem no curso de práticas militares, que dura três meses. Neste treinamento, os soldados são submetidos a humilhações e agressões que os fazem beira o colapso.
“Teve um dia que tinha sido muito cansativo. Eu estava muito cansado e não estava aguentando mais. Um instrutor deu uns quatro tapas na cara e um soco na costela […]. Quase todos os dias a gente levava soco na costela, tapa no rosto”, narra.
As agressões partiam principalmente dos instrutores, que são responsáveis pelos agrupamentos. Ele afirmou ter presenciado uma vez em que o instrutor se aproximou de um grupo e, sem motivo aparente, ”começou a dar porrada em todo mundo”.
Além disso, o militar também contou que machucados aparentes e lesões feitas durantes os treinamentos eram motivos de “pagação’’, termo utilizando para se referir às punições sofridas. “O comandante falava que ninguém podia se machucar, senão a gente ia pagar por isso, que ia ter punições severas por conta disso”, afirma.
‘’Pau de fogo’’
Um dos treinamentos mais temidos entre os jovens é conhecido como ‘’pau de fogo’’. Segundo o soldado, na atividade, eles precisam carregar nas costas uma arma pesada e que não funciona mais enquanto fazem treinamento dentro de um tanque aquático. Este treino pode ter duração de até três horas.
Além disso, os jovens são puxados pelos pés por instrutores e acabam indo para o fundo da água. “A gente luta pra conseguir voltar [do fundo do tanque]. Teve umas vezes que eu estava nadando no treinamento, e me puxaram pra baixo”, lembra.
O jovem relembrou ainda de um colega que chegou a ser internado para tratar de uma pneumonia, agravada pelo treinamento aquático. “Tem uns com pneumonia que entram na água. [A piscina] é suja”, diz.
Morte no quartel
O comando passou a ser investigado após a morte de Khaleby Ribeiro Alves dos Santos, de 19 anos, na última segunda-feira, 19. A fatalidade ocorreu durante uma atividade aquática, onde o soldado chegou a ficar dois minutos submerso. Ele foi socorrido pelos mergulhadores e levado para o Hospital Estadual de Urgências de Goiá Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), mas não resistiu.
O jovem havia entrando na instituição neste ano e era soldado efetivo variável (EV).
Em nota, o Comando de Operações Especiais lamentou a morte de Khaleby e destacou que “todos os procedimentos administrativos estão sendo tomados, dentre eles, a instauração de Inquérito Policial Militar, no intuito de melhor elucidar os fatos”.