Ração investigada provocou morte de 222 cavalos em todo o país, confirma Ministério da Agricultura
Outras 195 mortes de equinos estão em investigação. Consumo de produtos da Nutratta Nutrição Animal foi proibido.
Veterinários investigam adoecimento de 120 cavalos no interior de SP; nove animais morreram — Foto: Reprodução/EPTV
Um balanço divulgado nesta quinta-feira (3) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirma que 222 cavalos morreram após consumirem rações produzidas pela Nutratta Nutrição Animal. Outras 195 mortes ainda estão em investigação em todo o país.
De acordo com a pasta, a primeira comunicação sobre mortes de equinos que teriam ingerido alimentos da marca foi recebida pela ouvidoria em 26 de maio de 2025. Um mês depois, o Governo Federal proibiu a venda de produtos da Nutratta para qualquer animal.
Desde então, a Fiscalização Federal Agropecuária faz apurações nos locais onde foram reportados casos de adoecimento ou morte, com o objetivo de identificar as possíveis causas dos óbitos. Até o momento, os casos apresentaram associação com o consumo de rações da empresa citada.
Já foram contabilizadas mortes nos seguintes estados:
São Paulo: 83 Rio de Janeiro: 69 Alagoas: 65 Goiás: 4 Minas Gerais: 1
Reportagem em atualização.
INVESTIGAÇÕES
A substância tóxica encontrada na ração investigada pelas mortes de pelo menos 30 equinos em Indaiatuba (SP), atinge fígado, rins e cérebro dos animais. Nesta quinta (26), mais um cavalo precisou ser sacrificado na cidade após a intoxicação.
Por conta da identificação da substância, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) proibiu, na quarta, o consumo de todos os produtos da empresa Nutratta Nutrição Animal, destinados a qualquer animal, com data de fabricação a partir de 22 de novembro de 2024.
Segundo o veterinário, a monocrotalina encontrada na ração da Nutratta é uma substância presente em crotolárias, plantas usadas na cobertura de solos, tóxica para os animais.
> “É uma leguminosa, utilizada no campo para fortalecer o solo, e ela não é comestível. Ela é bem tóxica para os animais. Ela só serve de adubo para o solo, e não deveria estar onde foi encontrada”, diz Nei.
ONDE A SUBSTÂNCIA ATACA?
A primeira parte do organismo dos cavalos que a substância ataca é o fígado, levando à falência do órgão.
Depois, segundo os veterinários, podem surgir problemas nos rins, úlceras gastrointestinais e danos ao sistema neurológico, levando os animais até à morte.
Os primeiros sintomas podem aparecer de três a quatro meses depois do consumo do alimento contaminado.
“Os animais que se alimentaram de uma certa quantidade rápida, eles tiveram um quadro mais agudo de intoxicação, e esses foram os quadros que observamos mais rápidos evoluídos até o neurológico. Os animais que se alimentaram pouco, ela [substância] veio intoxicando aos poucos, até trazer os animais ao óbito”, explicou o veterinário.
O DE procurou a Nutratta para comentar o caso, mas não recebeu retorno da empresa até esta publicação. À época das primeiras mortes, o advogado Diêgo Vilela, que representa a empresa, havia informado que a Nutratta trabalhava na identificação dos lotes e consumidores.
CONSUMO PROIBIDO
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) proibiu o consumo de todos os produtos da empresa Nutratta Nutrição Animal, destinados a qualquer animal.
O recolhimento dos produtos da empresa destinados a equídeos já havia sido determinado pelo Ministério no dia 17 de junho.
De acordo com a pasta, novas informações sobre lotes envolvidos apontaram falhas de registros de produção e sequenciamento de produção, falta de separação entre torta de algodão, resíduo de soja e feno, nos silos de matérias-primas, impedindo o controle da quantidade adicionada de cada ingrediente na ração, utilização de resíduo de soja, matéria-prima não constante na lista de matérias-primas aprovadas, falta de rastreabilidade integral da produção, impedindo a segregação de lotes.
Na decisão, o Ministério afirma que, por conta da constatação dessas “falhas sistêmicas, torna-se tecnicamente impossível assegurar a segregação segura dos produtos por espécie ou por lote”.
Ainda segundo o Ministério da Agricultura, já foram registradas 122 mortes de equinos em diferentes municípios dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Alagoas, com relatos adicionais de 36 óbitos ainda não investigados.
Em 100% dos casos analisados até o momento, os tutores informaram que os animais consumiram rações fabricadas pelo mesmo estabelecimento.
MORTES EM INDAIATUBA
A primeira morte de equino apurada em Indaiatuba ocorreu em 23 de abril, seguida por outra no dia 30. A partir de então, outros sete animais também morreram.
Um veterinário ouvido pela EPTV, afiliada da TV Globo, explicou que os equinos apresentaram desânimo e alterações hepáticas. A ração e o feno oferecido também foram substituídos.
No dia 19 de maio, uma equipe da Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente de Indaiatuba fez uma vistoria no haras onde nove cavalos morreram.
Segundo a pasta, não havia irregularidades no local e os técnicos apontaram que os animais apresentaram sinais compatíveis com intoxicação alimentar.
O laudo preliminar de uma das éguas mortas apontou que ela sofreu uma infecção causada por bactéria.