Justiça suspende cirurgias em ambulatório onde pacientes ficaram cegos após
mutirão de catarata no interior de SP
Decisão ocorre a pedido do Ministério Público, que identificou série de
irregularidades no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Taquaritinga
(SP).
A Justiça suspendeu todos os tipos de cirurgias no Ambulatório Médico de
Especialidades (AME) de Taquaritinga (SP), local onde 13 pacientes ficaram
cegos após um mutirão de cirurgias de catarata, em outubro do ano passado.
Até então, os procedimentos estavam suspensos apenas em caráter administrativo,
desde fevereiro deste ano.
A nova decisão ocorre a pedido do Ministério Público (MP), que ajuizou uma ação
civil pedindo o pagamento de R$ 3 milhões e outras medidas compensatórias aos
responsáveis após identificar falhas sistemáticas e humanas no ambulatório.
Além da suspensão das cirurgias, a Justiça também interditou o Centro de
Material e Esterilização do AME.
As medidas são por tempo indeterminado, e a revogação delas ocorrerá somente
quando a Fundação Santa Casa de Franca, responsável pela administração da
unidade, sanar as irregularidades apontadas. O descumprimento da decisão
implicará multa diária de R$ 2 mil.
Entre as correções necessárias estão a apresentação, em um prazo de 60 dias, de
um plano de ação voltado ao aprimoramento dos protocolos médicos e operatórios,
além de garantir assistência médica contínua e integral às vítimas, com
atendimento especializado não apenas em oftalmologia, mas em todas as áreas
eventualmente necessárias em razão dos danos sofridos.
A EPTV, afiliada da TV Globo, procurou a Fundação Santa Casa de Franca, mas não
obteve um posicionamento até a publicação desta reportagem.
AÇÃO DE R$ 3 MILHÕES
O promotor de Justiça Ilo Wilson Marinho Gonçalves disse que o pedido de
indenização do Ministério Público contra o governo de São Paulo é um modo de
reparar a sociedade.
“O Estado precisa se conscientizar de que erros dessa natureza não podem se
repetir. Extremamente lamentável o que aconteceu, vamos trabalhar para que o
Estado ajude a resgatar essa credibilidade que ele perdeu junto à população.”
A ação encaminhada à Justiça pede R$ 3 milhões e também tem como alvo a Fundação
Santa Casa de Franca.
Uma sindicância feita pela própria fundação apontou que na hora de fechar o
corte da cirurgia, em vez de um soro de hidratação, os profissionais utilizaram
uma substância que, na verdade, serve para assepsia superficial da pele,
por exemplo, mas não pode entrar em contato com os olhos.
“Isto fez com que a solução de clorexidina fosse injetada dentro do globo
ocular de pacientes, causando a TASS (Síndrome Tóxica do Segmento Anterior),
que produziu grande inflamação no globo ocular além da queda da acuidade
visual nos pacientes, que correm o risco de terem perda total da visão.
Portanto, além dos pacientes necessitarem de transplante de córnea, eles
deverão manter acompanhamento oftalmológico especializado a longo prazo”, defende
o Ministério Público.