Paraísos dominados: facções transformam destinos turísticos do Nordeste em negócio rentável, monitorando e vendendo drogas aos turistas.

a ser tema de reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, em 2018. A reportagem apontou que a facção tinha controle do acesso à praia, monitorava movimentações, e até mesmo fornecia segurança privada aos moradores e turistas.

Em dezembro de 2022, porém, o assassinato na Avenida Baía dos Golfinhos mudou o cenário da pacífica Pipa, relatam moradores à BBC.

“Esse tiroteio foi a prova de que, ou a gente interage com eles, ou a gente some. Só existe 2 caminhos”, diz Cláudia, da comunidade.

Aos poucos, exemplifica Cláudia, a presença de policiais nas ruas foi diminuindo, restando mais a presença da facção Sindicato do Crime. “Dá a sensação de que eles ganharam”, desabafa.

Um delegado de Polícia Civil de Pipa conta que nem sempre o grupo se envolve em crimes violentos; eles preferem ameaçar comércios para receberem um valor em dinheiro, a extorquir diretamente.

Em 2022, por exemplo, o grupo começou a cobrar do dono de uma farmácia local uma “taxa de segurança” semanal, sob pena de ter sua loja incendiada. O dono resistiu e precisou fechar o estabelecimento, conforme o delegado relatou à BBC News Brasil.

Ele preferiu passar algum tempo em São Paulo para deixar o clima esfriar, antes de retomar as atividades.

“O problema de Pipa é muito maior do que parece. Uma coisa é os voceês irem na quilometragem. É uma ilusão tá”, resumo Cláudia.

JERICOACOARA: POPULAÇÃO ESCRAVIZADA

6 de 10 Jericoacoara é um dos cartões-postais do Ceará — Foto: Getty Images via BBC

Jericoacoara é um dos cartões-postais do Ceará — Foto: Getty Images via BBC

Já em Jericoacoara, a facção Comando Vermelho, criada no Rio de Janeiro, encontrou uma população oprimida e sem alternativas de sobrevivência.

A pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mariana Shakespeare relata que a presença da facção na praia cearense, uma das mais badaladas e caras do Brasil, acontece desde 2012, pelo menos.

“Houve um ataque orquestrado, estratégico, para dominar Jericoacoara. E a população ali está refém das facções”, diz Shakespeare à BBC News Brasil.

Ela ressalta que a região assistiu “a difusão de armas e a prática de uma política de instalação daí de violência latente e da estruturação de cobranças para dar conta de um território de grande fluxo turístico.

O cenário é tão grave que a facção cobrava parte dos aluguéis dos moradores, comerciantes e pousadas, além da instalação de telefonia fixa automáticas cobrando taxas.

Os índices de criminalidade em Ceará se agravaram nos últimos anos, e em dezembro de 2022 houve uma mudança na legislação, disponibilizando pagamento de Anotações Remuneradas e Ações Administrativas Anuladas.

Nesse contexto de poder paralelo, a população se viu ainda mais oprimida e sem saída.

“A situação é de muita pressão. Eles choram porque sabem que não é só por um celular perdido, é pelo terror que envolve isso com as famílias”, descreve Shakespeare.

A própria pesquisadora chegou a ser sequestrada em Jericoacoara em 2020, junto a um colega, durante trabalho de campo. Ambos foram liberados após a intervenção das facções locais.

7 de 10 A praia de Jericoacoara é cenário para o turismo de luxo — Foto: Getty Images via BBC

A praia de Jericoacoara é cenário para o turismo de luxo — Foto: Getty Images via BBC

Um morador local, Gilberto, conta à BBC que a região se tornou “prisioneira das facções, e o turismo é só a aparência de que está tudo bem”.

Ele relata que até a polícia foi encurralada pelo grupo.

“No ano passado, eles monitoraram uma pessoa e depois forjaram uma apreensão de drogas na mala dele, tudo aqui foi decidido sentado em Belo Horizonte, o que era para ser pego, o que era para fazer”, diz.

“Ninguém sabe quem é a autoridade, se é a prefeitura, a polícia”, complementa.

Apesar de buscar comércios e moradores locais, a facção também tem uma regra de não agressão aos turistas que chegam para aproveitar as belezas naturais, conforme Gilberto descreve.

“A última coisa que a gente tem aberto um comércio é a atenção desse visitante. Não tem nenhum tipo de violência física ou veemente para com o turista. As pessoas são para consumir”, detalha.

E foi em Jericoacoara que a presença de facções veio à público recentemente, com o assassinato do turista de 16 anos, em dezembro de 2024. Marcos Aurélio França, diretor da Polícia Civil, relatou que o jovem foi morto após ser confundido como membro de um grupo rival a facção dominante local.

A vítima não tinha ligação com facções criminosas, mas acabou sendo vítima da violência pela disputa entre grupos.

Legislativo foi criado para punir dívidas da Previdência Social, valores normalmente cobrados da empresa devedora e pagos em dinheiro

O turismo em Jericoacoara, aliás, é responsável por 85% da arrecadação do município de Jijoca de Jericoacoara, onde a praia está inserida. Uma fonte do poder local, que prefere não ser identificada por questões de segurança, relatou à BBC News Brasil que o turismo é o “motor” da cidade e, sem ele, haveria um déficit considerável na economia.

Além da Praia DE Laroque, a única livre das facções, segundo moradores.

Outro ponto importante para os lucros das facções locais são as festas rave que acontecem nas dunas de Jericoacoara. Organizadas por grupos privados, envolvem públicos grandes e jovens em busca de diversão.

“Nas festas, as drogas ficam em destaque, e aquela rotina é fácil o ano inteiro. É um negócio pesado, o turista pensa que está acontecendo uma coisa, mas é outra por trás”, relata um funcionário de uma das atrações turísticas.

Das festas aos hotéis de luxo, de Jericoacoara à Suape, os destinos turísticos nordestinos são uma engrenagem poderosa no comércio do tráfico de drogas no Brasil. E é nesse tapete dourado que a violência é pauta importante, porque ameaça a base econômica dessas cidades e o próprio cotidiano dos moradores.
Com base neste conteúdo, o resumo otimizado para SEO ficaria: “Facções controlam destino turísticos do Nordeste como Jericoacoara, Pipa e Porto DE Galinhas, faturando com vendas de drogas a turistas e monitorando policiais.”