Tarifa de 50% dos EUA interrompe negociações e 20 contêineres foram retidos no
Ceará
CEO de empresa que atua no setor de Despacho Aduaneiro afirma que compradores
norte-americanos estão suspendendo negociações por receio do impacto da nova
tarifa. No Ceará, pelo menos 20 contêineres foram retidos.
Porto do Pecém. — Foto: Divulgação/Tatiana Fortes/Casa Civil
A taxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos
brasileiros já provoca impactos nas exportações cearenses. Embora a medida só
entre em vigor em 1º de agosto, fontes ouvidas pelo de relatam que compradores
norte-americanos estão suspendendo negociações por receio do impacto da nova
tarifa.
Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, uma das quatro empresas
que operam com exportações no Porto do Pecém, revela que cerca de 20
contêineres, principalmente de mel, pedra bruta e cera, foram retidos em
diferentes etapas do processo logístico: seja no pátio do exportador, em
transporte para o porto, ou já dentro do terminal portuário.
Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, fala sobre o impacto da
tarifa no CE
A JM atua como elo entre empresas exportadoras e os trâmites logísticos e
burocráticos, oferecendo serviços que vão desde a logística aduaneira
internacional e nacional até o acompanhamento de documentação junto a órgãos
como Anvisa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e
Receita Federal.
Segundo Fernandes, a paralisação já causa prejuízos significativos aos
exportadores. Um exemplo é o de um cliente do setor de mel que, anualmente,
envia cerca de 100 contêineres para os Estados Unidos, o que representa um
faturamento de aproximadamente 12 milhões de dólares. A interrupção desses
embarques compromete seriamente a receita da empresa.
Ele destaca ainda que produtos como mel, embora não liderem as estatísticas de
exportação como as frutas, têm peso importante na economia local, especialmente
por envolverem pequenos produtores e cooperativas. A suspensão das exportações
afeta diretamente o faturamento das empresas e amplia o risco de desemprego.
A gravidade da situação tem levado o CEO a compará-la a uma “bomba atômica na
economia”. Para ele, as perspectivas de uma solução rápida são remotas, já que
as negociações atuais não apontam para avanços.
A previsão de embarque dos contêineres retidos é entre a segunda quinzena de
julho e 24 de agosto. “A preocupação agora é garantir que essas cargas sejam
despachadas antes da vigência da nova tarifa, a fim de minimizar os impactos
econômicos nas cadeias exportadoras locais”, diz a nota da JM.
Em nota, o Porto do Pecém afirmou que segue “operando normalmente”. “Até o
momento, não houve solicitação formal de alteração no cronograma da carga
mencionada. O Porto apenas é informado oficialmente quando há decisão de manter
uma carga em pátio por tempo superior ao previsto, o que, neste caso, ainda não
ocorreu”, diz o texto.
SETOR PESQUEIRO ALERTA PARA RISCO DE COLAPSO
O setor pesqueiro do Ceará teme o colapso devido à taxa de 50% de Trump
O Ceará ocupa o primeiro lugar em exportação de pescados, sendo responsável por
mais de 25% das exportações brasileiras na área, conforme dados do Comexstat, do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, referentes a 2022.
Na época, o secretário executivo do Agronegócio, Silvio Carlos Ribeiro, da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), afirmou que cerca de 57 mil
empregos são gerados pelo setor.
Paulo Gonçalves, representante do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do
Estado do Ceará (Sindifrio), alerta que o mercado norte-americano é um dos
principais destinos para o pescado cearense e que a nova tarifa de 50% pode
desestruturar toda a cadeia produtiva do setor.
Segundo ele, o impacto será sentido principalmente na geração de empregos,
afetando diretamente pescadores e armadores. A expectativa do Sindifrio é de que
o governo federal consiga abrir uma negociação com os Estados Unidos para
reverter ou ao menos reduzir a taxa.