Empresário e político Tasso Jereissati é contemplado com o Troféu Sereia de Ouro 2025
A comenda, criada pelo chanceler Edson Queiroz em 1971, busca homenagear homens e mulheres das ciências, artes, negócios, iniciativa privada e serviço público que contribuem para o desenvolvimento do Ceará.
O ano era 1987, e a desnutrição era uma das principais causas da mortalidade infantil no Ceará. Foi nesse contexto que Tasso Jereissati assumiu o governo do estado pela primeira vez.
“Nós tínhamos um índice de mortalidade infantil semelhante aos países mais pobres da África. Realmente, era uma mancha na nossa história, no nosso estado, muito grande. E o peso na consciência de quem vivia, participava dessa sociedade”, lembrou.
Tasso Ribeiro Jereissati é um dos quatro agraciados com o Troféu Sereia de Ouro, comenda criada pelo chanceler Edson Queiroz em 1971, que busca homenagear homens e mulheres das ciências, artes, negócios, iniciativa privada e serviço público. Neste ano, além de Tasso, recebem o troféu:
* Adriana Costa e Forti, médica
* Guiomar Marinho, artista
* Oto de Sá Cavalcante, empresário
A cerimônia de entrega do Troféu Sereia de Ouro será realizada na sexta-feira, 26 de setembro, às 20h, no Ideal Clube, em Fortaleza.
INOVAÇÃO NA SAÚDE
Uma das principais ações para combater o problema da mortalidade infantil foi criar a figura do agente comunitário de saúde, como Sebastiana Eduardo Matos de Sousa, que começou a trabalhar no início dos anos de 1990.
“A gente encontrava muitas crianças com diarreia. Às vezes, tinha mãe que não sabia a orientação de como fazer o soro. Aí, a gente ensinava ela a fazer o soro. Muitas vezes, a gente ficava com ela até essa criança começar a tomar o soro”, lembrou a agente de saúde.
“Me apresentaram um programa que eles tinham visto em Cuba, que replicava um da China, que era o agente de saúde. Então, eu chamei o Unicef [Fundo das Nações Unidas para a Infância] para acompanhar o ‘Momento Zero’, em que nós íamos começar aos resultados três anos depois”, explicou Tasso.
A ONU deu um prêmio para esse trabalho do governo do estado do Ceará como o melhor programa de cuidado dos recém-nascidos e da maternidade”, lembrou o ex-governador do Ceará.
CARREIRA POLÍTICA
O empresário visionário, pioneiro no mercado de shopping centers no Ceará e no Brasil, aceitou o desafio de ser governador do estado aos 38 anos de idade. Na época, ainda era desconhecido na política, mas rapidamente conquistou a simpatia dos cearenses.
“A música tinha esse refrão ‘Galeguim dos zói azul’. Estava na moda no interior, aí quando eu ia aos comícios as pessoas falavam: ‘Olha o galeguim dos zói azul’. Aí foi pegando e se espalhou de uma maneira impressionante”, recordou Tasso.
A gestão de Tasso foi marcada pela modernização do estado: reforma administrativa, equilíbrio das contas públicas, melhoria nos índices de desenvolvimento humano. Foram três mandatos: de 1987 a 1990; de 1995 a 1998; e de 1999 a 2002. Períodos marcados por grandes obras de infraestrutura no estado, entre elas, recuperação de estradas, saneamento básico, o Complexo Portuário do Pecém, o Açude Castanhão.
“Eu creio que o Tasso é um exemplo de espírito público, exemplo mesmo. Eu brinco sempre que se a gente tivesse que, para a pessoa ser um servidor público, um político, alguém com mandato, coisas públicas, fizesse um vestibular, o Tasso tiraria nota 10 em espírito público”, disse Assis Machado, empresário e ex-secretário do Governo Tasso.
Depois da primeira gestão, Tasso indicou Ciro Gomes como sucessor no governo do estado. Nascia ali uma parceria, uma amizade e um exemplo a ser seguido na política.
“Foi uma revolução a passagem do Tasso Jereissati no Ceará por si e pela obra dele. O Tasso, até hoje, se dói, se comove verdadeiramente. Até nem deixa muitas pessoas perceberem que ele é verdadeiramente solidário com a causa dos mais pobres”, disse o ex-governador Ciro Gomes.
“Então, desde essas questões sociais dramáticas, que mexem com a questão da educação substantivamente, mexem com a questão da mortalidade infantil, com a questão da moradia popular. São os primeiros experimentos de moradia popular em regime de mutirão. Mas também há um olhar largo de olhar para o futuro, de dizer que o nosso povo tem direito a viver num universo em desenvolvimento, assim como o mundo entende o que desenvolvimento representa”, destacou Ciro.
IMPACTO SOCIAL
Tasso nasceu em Fortaleza. Ele é um dos seis filhos de Maria de Lourdes e de Carlos Jereissati, que também era empresário e político, serviu de inspiração no trabalho e na trajetória de vida e de fé. Católico, Tasso é devoto de São Francisco.
“É desde o meu pai. O meu pai tinha uma fé muito grande. Eu lembro que ele ia à missa todo domingo com um terço na mão. Ficava em pé com o terço, debulhando o terço”, comentou.
Tasso viveu parte da infância em uma casa no Centro de Fortaleza, onde morou até os seis anos de idade. A casa permanece não apenas como um lugar de memória. Tasso deu uma nova função e sentido ao imóvel. Na casa, funciona há vinte anos o Instituto Queiroz Jereissati, um braço social das empresas do grupo.
O espaço é dividido para abrigar duas ações: numa parte fica o centro de referência e memória do Ceará, com documentos e registros de personalidades que participaram da história do estado desde 1930. Na outra, é desenvolvido um projeto que auxilia adolescentes de famílias de baixa renda na caminhada do ensino médio até a universidade.
Ana Cássia Silva é uma das jovens beneficiadas. Ela fez a seleção, foi aprovada e ganhou uma bolsa para uma escola particular. No contraturno, ela estuda no instituto. A jovem se prepara para fazer o Enem no fim de 2025. A opção número um é o curso de medicina.
“Eu sempre estudei em escola pública. Querendo ou não, a gente acaba não tendo uma perspectiva de futuro de sonhar tão alto. Quando eu encontrei o projeto, eu entrei, passei e vi que é possível, abriu vários caminhos e eu comecei a sonhar”, declarou a jovem.
O projeto “Caminhos” acompanha cada turma por três anos e já beneficiou 123 estudantes de escolas públicas. Entre elas, está a Valquíria. Ela se formou em direito na Universidade Federal do Ceará (UFC) e hoje trabalha no Tribunal de Contas do estado.
“O meu primo também fez parte do projeto. Ele é formado em uma escola de engenharia. Eu olho para a gente no passado e vejo que, hoje, a gente tem nossos sonhos realizados e muitos mais sonhos para alcançar. Mas olha onde a gente chegou”, agradeceu Valquíria Oliveira, assessora do Tribunal de Contas do Ceará.
O trabalho do Instituto Queiroz Jereissati é mais um meio de cuidar das futuras gerações. Um aprendizado que Tasso trouxe da experiência à frente do Governo do Ceará.
“Não deixar de se indignar com a miséria e a pobreza. Acho que foi o grande impulso de todos nós que estávamos trabalhando naquele momento, naquele movimento”, comentou Tasso.
VIDA PESSOAL
Nos últimos anos, Tasso decidiu viver uma vida mais tranquila e tem se afastado da carreira política e empresarial. Ele não participa diretamente da política desde que deixou o Senado, onde ficou por 16 anos. Aos poucos, também está se afastando da gestão dos próprios negócios. Prestes a fazer 77 anos, ele diz que vive uma fase mais tranquila.
“Desde muito novo, a minha vida foi um agito sem parar. Tanto na vida privada quanto na vida pública. Eu não tive, até dois ou três anos atrás, uma vida como essa”, explicou.
Para ele, é hora de aproveitar ainda mais a família. Tasso é casado há 51 anos com Renata Queiroz Jereissati, com quem teve quatro filhos.
“O Tasso gosta de ser correto, de ser justo, de ser igual, de mostrar sempre esse lado da honestidade, das coisas corretas, certas. Acho que o grande exemplo para a família, filhos e netos, é esse grande amor, essa grande dedicação que ele teve ao longo da vida. Essa vontade de querer o bem para o estado do Ceará e para o seu povo”, declarou Renata Queiroz Jereissati.
“Ele queria muito deixar uma marca de impacto. Então, na saúde, no saneamento… O saneamento dele foi revolucionário no Ceará. Ele sempre foi muito orgulhoso de ser cearense, de ter os filhos e netos cearenses”, disse Joana Jereissati, filha de Tasso.
Os ensinamentos também são destacados pelos oito netos. “Eu acho ele muito legal, ele ensina muita coisa para a gente, ‘tipo’ a ser gentil com os outros, cuidar da natureza, não ficar estragando comida, nem estragar água ou energia, por causa do mundo”, falou o neto Carlos Jereissati Oliveira.