“A Rainha da Comédia” é para “tirar sarro de mim”, diz Tati Bernardi à CNN
A renomada escritora Tati Bernardi está lançando seu mais recente livro, intitulado “A Rainha da Comédia”, neste mês pela editora Fósforo. Em uma entrevista concedida à DE, ela compartilhou que a obra foi concebida para que pudesse se divertir às suas próprias custas e também da elite intelectual brasileira – um grupo no qual ela passou a se inserir, embora ainda se sinta como uma forasteira.
“O propósito deste livro, primeiramente, é zombar de mim mesma, pois em uma idade muito jovem, fui intensamente deslumbrada pelo poder aquisitivo e posteriormente pela cultura da elite intelectual”, afirmou Tati à DE.
“É uma obra para satirizar meu próprio deslumbramento, não se trata de um extenso tratado sobre a luta de classes. Antes de tudo, estou rindo de mim mesma. Contudo, também é uma oportunidade para rir de certos comportamentos dessa elite intelectual de esquerda. De certa forma, isso se torna mais evidente para mim, uma vez que sou uma forasteira, não frequentei as mesmas escolas ou universidades, nem morei em lugares no exterior”, acrescentou.
O livro tem como ponto de partida a festa de aniversário de 43 anos de Tati, na qual ela convidou alguns amigos para sua residência situada em um bairro nobre de São Paulo. Uma das convidadas, ao digitar o endereço incorretamente, acabou indo parar na zona leste da cidade, no Tatuapé, o bairro onde Tati cresceu.
A situação fez com que a amiga, assustada com o local desconhecido, solicitasse: “Se eu demorar a chegar em sua casa ou se meu celular parar de funcionar… você chama a polícia?” Essa pergunta fez com que Tati se sentisse deslocada em sua própria festa.
A partir desse incidente, a renomada escritora começou a refletir sobre a complexidade de se sentir pertencente depois de ascender socialmente.
Tati ainda destacou que aborda esse desconforto da perspectiva de alguém que cresceu como parte da classe média: “Eu tinha receio de que este livro pudesse parecer uma narrativa de uma heroína branca, que partiu do Tatuapé, atravessou a Mooca e chegou até a Santa Cecília. Seria absurdo.”
“Porém, percebi que possuía uma visão distinta, embora o Tatuapé não seja exatamente periferia, eu provenho de um lugar diferente dessa elite intelectual progressista”, explicou ela.
O título do livro faz alusão às situações em que Tati se viu como a “rainha da comédia” em seu grupo de amigos, divertindo aqueles que nasceram em berço de ouro ao relatar situações comuns na vida daqueles que não nasceram em meio à riqueza. É esse mesmo papel que possibilita que ela critique, por meio do humor, aqueles ao seu redor protegidos.
As disparidades de classe, mesmo que sutis, já renderam à escritora alguns “olhares estranhos”, conforme relatou.
“A ala conservadora olhará para uma mulher que se expõe, que diz o que pensa, e a rotulará de vagabunda, dirá que não é apropriada para casar. Isso é bem evidente”, explicou. “A elite intelectual de esquerda, por vezes, age da mesma forma, apenas de maneira mais dissimulada: ‘Poxa, ao invés dela ser tão irritada, deveria meditar e praticar yoga’ – algo que a elite intelectual adora, não é verdade? ‘Ela deveria ir ao carnaval, ser feliz’.”
“Não irão me chamar de vagabunda, mas dirão que não possuo a etiqueta refinada da elite”, completou.
O livro “A Rainha da Comédia”, de Tati Bernardi, estará disponível nas livrarias a partir de 14 de abril, publicado pela editora Fósforo. Com 104 páginas, o livro físico terá o preço de R$ 69,90, enquanto a versão e-book será comercializada por R$ 48,90. O livro já se encontra em pré-venda no site da editora.