A família de Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenório Jr., respira aliviada após anos de incerteza sobre o paradeiro do músico, mas ainda anseia por respostas que esclareçam as circunstâncias de sua morte. Tenório Jr., renomado pianista brasileiro, foi uma figura expressiva na bossa nova e no samba-jazz. Após quase cinquenta anos desaparecido, seu corpo foi finalmente identificado na Argentina, país que vivenciava os estertores do golpe militar na época de seu sumiço.
Os familiares do músico, ao receberem a confirmação de sua morte, experienciaram um sentimento ambíguo de alívio e tristeza. A confirmação veio por meio de exames de impressões digitais em colaboração com a Justiça argentina e a Embaixada do Brasil. Com a certeza da morte de Tenório Jr., a família sente-se mais próxima do músico, porém a dor da violência sofrida por ele e de seu sepultamento anônimo traz a tristeza pela ausência e pelo desconhecimento de tantos anos.
Tenório Jr. deixou uma família composta por cinco filhos, sendo o mais novo nascido um mês após seu desaparecimento. A esperança de seu retorno foi mantida durante muito tempo, até que a realidade cruel se impôs. Agora, a família clama por respostas que esclareçam o motivo da morte de Tenório Jr., um homem dedicado à música e sem envolvimento político. Ao mesmo tempo em que homenageiam a mãe do pianista pela luta em criar os filhos sozinha e por buscar justiça, os filhos buscam uma nova investigação para desvendar o mistério que envolve a morte de Tenório Jr.
Tenório Jr. desapareceu em um contexto político turbulento, às vésperas do golpe militar argentino e em meio à repressão das ditaduras sul-americanas, conhecida como Operação Condor. Sua trajetória musical foi marcada por parcerias com figuras icônicas da música brasileira, como Vinicius de Moraes, Toquinho e Leny Andrade, sendo um dos nomes proeminentes da música instrumental brasileira da época. Seu estilo refinado e técnica apurada o consagraram como referência na fusão entre jazz e música brasileira.
Tenório Jr. nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, desenvolvendo seu talento desde cedo e se tornando parte fundamental do cenário musical do Beco das Garrafas, reduto da bossa nova. Sua participação em festivais e gravações históricas contribuiu para enriquecer a música instrumental brasileira, deixando um legado que perdura até os dias atuais. Seu desaparecimento repentino durante uma turnê pela América do Sul trouxe à tona o lado sombrio das ditaduras da época, que silenciaram a sua voz por tanto tempo.
O desaparecimento de Tenório Jr. foi marcado por circunstâncias sombrias, sendo ele confundido com um militante político e detido pelas autoridades argentinas. Após nove dias de tortura e detenção na Escola de Mecânica da Armada, Tenório Jr. foi executado e enterrado como indigente, longe de seus entes queridos. Anos se passaram até que sua identidade fosse confirmada em 2025, tornando-se símbolo da violência das ditaduras latino-americanas contra inocentes.
A morte de Tenório Jr. representa não apenas a perda de um talentoso músico, mas também a brutalidade e arbitrariedade dos regimes autoritários da época. Sua música continua a ecoar entre os músicos e admiradores, mantendo vivo o seu legado musical. A família de Tenório Jr., em meio ao misto de sentimentos que envolvem a confirmação de sua morte, clama por justiça e por respostas que possam lançar luz sobre o trágico desfecho da vida do pianista brasileiro. A história de Tenório Jr. é um lembrete das violências e injustiças perpetradas pelas ditaduras no continente latino-americano.