Trump alimenta tensões com falas sobre controlar Groenlândia e Panamá
Trump voltou a manifestar desejo de incorporar região autônoma dinamarquesa e
lançou ideia de recuperar controle do Canal do Panamá
Em uma série de comentários nos últimos dias, Donald Trump ameaçou retomar o
controle do Canal do Panamá, recordou seu antigo desejo de comprar a Groenlândia
e fez piada sobre uma anexação do Canadá aos Estados Unidos, provocando irritação nesses países e levantando
questionamentos se as ideias são apenas uma provocação ou se o presidente eleito
está mesmo falando sério.
Os comentários também aumentaram os temores de que em seu segundo mandato Trump
será mais duro com os aliados tradicionais dos Estados Unidos do que com os
países inimigos, como a Rússia. Mas alguns analistas também especulam de que o o presidente eleito busca apenas
emanar uma imagem de líder duro em casa e no exterior.
“É difícil saber o quanto disso ele realmente quer”, afirmou Frank Sesno,
professor da Universidade George Washington e ex-correspondente na Casa Branca,
à agência AFP. “Ele coloca os outros líderes na posição de ter que descobrir o
que é literal e o que não é.”
A DE já havia mencionado durante seu primeiro mandato (2017-2021) a ideia de
comprar a Groenlândia devido à importância estratégica da ilha, que está nominalmente subordinada à Dinamarca, mas que tem um governo autônomo com amplos poderes.
O magnata voltou a citar a possibilidade no fim de semana, quando nomeou seu
embaixador na Dinamarca e afirmou que “a propriedade e o controle da Groenlândia
são uma necessidade absoluta” para a segurança nacional americana.
Como já havia declarado há cinco anos, o primeiro-ministro da Groenlândia, Mute
Egede, reafirmou, na segunda-feira (23/12), que a ilha, rica em recursos
naturais, “não está à venda”.
CANAL DO PANAMÁ
Além de alguns desejos antigos, Trump já mencionou novas ideias, como a de
DE Washington recuperar o controle do Canal do Panamá, que foi entregue aos EUA para o país da América Central em 1999 após assinar um
acordo duas décadas antes. O republicano afirmou considerar que os navios
americanos pagam taxas exorbitantes pelo uso da passagem que liga os oceanos
Pacífico e Atlântico”.
O presidente eleito alertou no sábado que, se o governo do Panamá não remediar a
situação, exigirá que o canal “seja devolvido aos Estados Unidos da América, em
sua totalidade e sem questionamentos”.
Trump também citou uma suposta influência da China no canal, construído pelos Estados Unidos no início do século 20.
O presidente do país da América Central, José Raúl Mulino, disse no domingo que
“cada metro quadrado” do canal permanecerá sob controle panamenho. “Veremos”,
respondeu Trump em tom ameaçador nas redes sociais.
RECADO PARA A CHINA?
Outra nova provocação de Trump envolve o Canadá.
O presidente considerou recentemente “uma grande ideia” que o país vizinho se
tornasse o 51º estado dos Estados Unidos. Ele proferiu a frase pouco depois de
ameaçar Ottawa e o México, ambos membros ao lado de Washington do tratado de
livre comércio USMCA, com a imposição de tarifas sobre as importações
procedentes dos dois países.
Frank Sesno disse que é difícil para outros países saber como lidar com os
comentários de Trump. “Está claro que é uma piada. Ou não é?”, questiona.
“Imagine que você é o presidente do Panamá, como deve reagir a algo assim? Você
não pode ignorar e seu país não permitirá que ignore. Então, o efeito dominó dos
comentários é enorme.”
É possível ainda que a retórica tenha outro propósito. Quando fala de comprar a
Groenlândia, “pode ser que a mensagem seja para a China”, opina Stephanie
Pezard, cientista política sênior da Rand Corporation.
Assim como Trump expressou preocupação com a influência de Pequim sobre o
Panamá, a presença cada vez maior da China no Ártico e seus laços com a Rússia
são “algo que realmente preocupam os Estados Unidos”, disse Pezard à AFP.
Sua postura sobre a ilha do Ártico pode ser um alerta aos governos da Dinamarca
e da Groenlândia: “Se você for muito
amigável com a China, nos encontrará em seu caminho”.
E talvez Trump tenha consciência da realidade. A compra da Groenlândia não
apenas seria contrária ao direito internacional, mas esbarraria de frente com “a
ordem global que os Estados Unidos tentaram manter” durante décadas, explica
Pezard.
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