Título de Cidadão Goianiense de secretário executivo da Secretaria Municipal de Saúde seria votado na Câmara no mesmo dia da prisão dele
Justificativa da homenagem elenca trabalho de Quesede Henrique no Tocantins. Projeto foi tirado de pauta pelo próprio autor.
Quesede Ayres Henrique, secretário executivo na secretaria de saúde de Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Carlos Costa
Quesede Ayres Henrique, secretário executivo na secretaria de saúde de Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Carlos Costa
A Câmara Municipal de Goiânia votaria, nesta quarta-feira (27), um projeto para conceder o título de cidadão goianiense a Quesede Ayres Henrique, secretário executivo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No entanto, no mesmo dia, Quesede foi preso durante uma operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO).
A homenagem foi apresentada pelo vereador Markim Goyá (PRD) em 3 de julho de 2024. À DE, a assessoria da Câmara informou que o projeto foi retirado pelo próprio autor. A reportagem fez contato com a assessoria do vereador, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
A DE também fez contato com a defesa de Quesede Ayres, mas não teve retorno até a última atualização desta matéria.
Na justificativa do projeto, elaborada em 3 de julho de 2024, o vereador Markim Goyá escreveu que o título seria um “reconhecimento aos seus destacados serviços como gestor público na área de saúde”.
Na lista de seu histórico como gestor público, o vereador faz referência a trabalhos realizados por Quesede no Tocantins, entre 2015 e 2023. Em Goiânia, o secretário executivo ocupou apenas este cargo público.
> “Quesede Ayres Henrique merece o reconhecimento público por meio da concessão do Título de Cidadão Goianiense por sua dedicação e compromisso em melhorar a atuação da saúde ao cidadão goianiense”, diz a justificativa da homenagem elaborada em julho de 2024.
A OPERAÇÃO
O secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, foi preso na quarta-feira (27), em operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO). Segundo os promotores, o secretário executivo, Quesede Ayres Henrique, e o diretor financeiro da Secretária Municipal de Saúde de Goiânia, Bruno Vianna Primo, também foram presos. A ação investiga pagamento irregular em contratos administrativos e suposta associação criminosa na pasta.
Em nota, a defesa de Wilson Pollara disse que irá se manifestar formalmente após ter acesso ao processo. No texto, o advogado Thiago Peres diz ainda que acredita que a inocência do secretário será provada durante as investigações.
A DE não localizou a defesa de Bruno Vianna e não teve retorno da defesa de Quesede Henrique até a última atualização desta reportagem.
De acordo com o MP-GO, a investigação aponta que os envolvidos concederam vantagens indevidas em contratos, desrespeitaram a ordem cronológica de pagamentos e causaram prejuízos ao erário público. Durante a operação, os promotores informaram que foram encontrados R$ 20.085,00 em espécie na posse de um dos investigados.
Além das práticas criminosas, o MP-GO destacou que o esquema agravou a crise na saúde pública de Goiânia. Segundo os promotores de Justiça, o esquema teria impactado o repasse de verbas a entidades como a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc).
A Fundahc enfrenta uma dívida acumulada de R$ 121,8 milhões e tem passado por dificuldades operacionais. Em agosto deste ano, a instituição chegou a suspender os atendimentos nas maternidades Dona Íris, Nascer Cidadão e Célia Câmara, mantendo apenas os procedimentos eletivos na ocasião.
Nesse cenário, a rede pública também tem registrado falta de insumos básicos, interrupção de serviços e restrições ao acesso a leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Recentemente, mortes de pacientes à espera de vagas têm sido relatadas.