TJSP condena DE a indenizar passageira por acidente no monotrilho: R$ 20 mil

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) condenou o DE a pagar R$ 20 mil para uma passageira que teve a perna prensada e quebrou o fêmur na Linha 15-Prata, o monotrilho da zona leste da capital paulista. A mulher foi prensada pelas portas ao entrar no vagão.

No processo, a passageira afirmou que não foi emitido o sinal sonoro de fechamento das portas e que, ao ficar presa, elas não recuaram, “como é de costume do sistema nos trens ao ser impossibilitado de fechar completamente”. A mulher afirmou também que o trem partiu da estação quando ainda estava presa no meio das portas. Também disse que apenas por socorro de outros passageiros e de sua própria filha conseguiu entrar no trem.

A passageira teve fratura no fêmur. O acidente ocorreu no dia 3 de outubro de 2022. A mulher passou por cirurgia de emergência e teve alta quatro dias depois, com restrições de mobilidade. Em sua defesa, o DE alegou não houve falha na operação do trem e que foram emitidos alarme sonoro e aviso visual, “contudo, a autora optou por adentrar no vagão, agindo de forma imprudente” e que “foi prontamente socorrida na próxima estação”. A companhia também disse que a passageira era a única culpada pelo ocorrido e que não havia “prova de dano moral”.

Em primeira instância, a juíza Inah de Lemos e Silva Machado, da 19ª Vara Cível, julgou o pedido de indenização improcedente e determinou que a passageira pagaria as custas, despesas processuais e honorários advocatícios, em 10% do valor da causa. A passageira recorreu da decisão e a 12ª Câmara de Direito Público entendeu, por maioria de votos, que ela deve ser indenizada pelo DE.

O relator José Orestes de Souza Nery disse que as imagens apresentadas pelo DE, desprovidas de áudio, mostram que há sinais visuais de fechamento das portas do lado de dentro do vagão, “mas o mesmo não acontece do lado de fora”. O desembargador afirmou também que apenas o sinal sonoro não é suficiente para alertar os usuários, inclusive por haver passageiros com algum grau de deficiência auditiva. Compete ao DE adotar todas as medidas de segurança adequadas para garantir a integridade física dos passageiros, o que inclui dispositivos que impeçam acidentes com o fechamento brusco das portas em passageiros que estejam ingressando ou saindo dos vagões.

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A espetacularização da dor nas redes sociais: o preço da exposição e validação social

A banalização da dor e o preço da validação nas redes sociais

A cultura da espetacularização: tudo por uma curtida, tudo por uma visualização nas redes sociais
Vivemos em tempos nos quais as redes sociais, outrora ferramentas de conexão e expressão, transformaram-se em arenas de espetacularização da vida. No cenário atual, qualquer aspecto da experiência humana – por mais íntimo, trágico ou sagrado que seja – corre o risco de ser reduzido a conteúdo, enquadrado em molduras de engajamento. A recente exposição pública do feto expelido por Maíra Cardi após um aborto espontâneo, feita por Thiago Nigro, o “primo rico”, é um caso que escancara a profundidade dessa crise. Mais do que um fato isolado, o episódio reflete um sintoma de uma sociedade que, em busca de curtidas e visualizações, banaliza a dor e ressignifica a intimidade como espetáculo.

A decisão de compartilhar imagens tão íntimas e dolorosas revela a distorção dos limites éticos na lógica do “vale tudo” das redes sociais. Em uma sociedade hiperconectada, onde a validação externa se tornou uma moeda de troca emocional e social, a experiência do luto – um processo naturalmente íntimo e subjetivo – foi transformada em performance pública. O que antes era um espaço de resguardo e acolhimento, agora é vendido como narrativa motivacional ou inspiração para seguidores. Ao expor um feto expelido, a escolha de Nigro não apenas transformou um momento de dor em conteúdo, mas o inseriu em um ciclo que normaliza a espetacularização do trauma.

O problema não é apenas individual; é estrutural. Redes sociais, como Instagram e TikTok, alimentam e lucram com essa lógica. O algoritmo prioriza aquilo que provoca reação – seja ela de admiração, choque ou revolta. Emoções intensas geram engajamento, e engajamento gera lucro. Assim, situações como a de Nigro se tornam quase previsíveis em um ambiente onde a recompensa imediata, em forma de curtidas e seguidores, parece justificar qualquer transgressão. Porém, ao transformar tragédias pessoais em capital simbólico, o que realmente perdemos é a dimensão humana de nossa existência.

A espetacularização da intimidade não é neutra. Ela impacta diretamente a forma como nos relacionamos com o outro, com nós mesmos e com nossas próprias dores. Em vez de permitir que momentos de fragilidade humana sejam vividos com respeito e dignidade, a exposição midiática os transforma em conteúdos de consumo rápido. Neste caso, o corpo do feto – um símbolo de vulnerabilidade e perda – foi usado como ferramenta narrativa, instrumentalizado para reforçar uma ideia de superação e fé, enquanto a complexidade do luto foi eclipsada pela ânsia de engajamento.

Há ainda uma dimensão ética e social nesse episódio que não pode ser ignorada. A exibição de imagens como essas sem o devido cuidado dialoga com o embrutecimento das sensibilidades coletivas. Em uma era na qual o horror e a dor circulam livremente nas timelines, há um efeito colateral perigoso: a dessensibilização. Expor publicamente algo tão visceral contribui para banalizar a dor do outro, transformando-a em mero espetáculo. O respeito pelo luto e pela intimidade parece sucumbir à lógica da viralização.

Esse caso também levanta questões sobre as dinâmicas de poder e privilégio na construção dessas narrativas. A posição de figuras públicas como Thiago Nigro e Maíra Cardi garante que suas exposições alcancem milhões de pessoas, impactando o debate público sobre temas delicados como o aborto espontâneo. No entanto, ao optarem por uma abordagem centrada na autopromoção, perdem a oportunidade de usar suas plataformas para gerar empatia e conscientização genuína. Em vez disso, reforçam a lógica do marketing pessoal acima de qualquer valor humano.

O episódio exige reflexão urgente: qual é o limite? Até onde estamos dispostos a ir por curtidas, por relevância, por cliques? Em que momento a vida – com toda sua complexidade, dor e beleza – se tornou mero material bruto para alimentar o monstro insaciável das redes sociais? Estamos, como sociedade, adoecendo ao transformar nossa intimidade em moeda de troca, ao transformar momentos de vulnerabilidade em bens de consumo.

Não se trata de demonizar as redes sociais, mas de reconhecer que estamos perdendo nossa capacidade de discernir o que deve ser compartilhado e o que deve ser preservado. Na busca incessante por aprovação externa, o que deixamos para nós mesmos? A exposição do feto não é apenas um ato de insensibilidade; é um alerta sobre o caminho que estamos trilhando. Um caminho onde tudo – absolutamente tudo – pode ser transformado em conteúdo, desde que haja público para consumir.

Precisamos reavaliar a ética da exposição e retomar o respeito pelo íntimo, pelo humano. É urgente recuperar a dignidade do silêncio e do não compartilhamento, resgatando o valor do que não pode ser transformado em espetáculo. Enquanto continuarmos aplaudindo e consumindo episódios como esse, permaneceremos cúmplices de uma lógica que, no fundo, nos desumaniza a todos. Afinal, o que sobra de nossa humanidade quando tudo é conteúdo?

Eu sinto profundamente pelo aborto ocorrido. E sinto ainda mais pela exposição lamentável que transformou um momento de dor em espetáculo.

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