Uma caixa com fotos de antigas namoradas inspirou a canção “Mulheres”, de Toninho Geraes. A música, de 1995, foi sucesso principalmente nos anos 90 na voz de Martinho da Vila, mas já teve várias regravações. Uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro do último dia 13 entendeu que a canção foi plagiada pela britânica Adele e determinou que ela fosse retirada de streamings, sob pena de multa diária em caso de descumprimento.
A história sobre a velha caixa de fotos foi contada por Toninho em várias entrevistas. Ao programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrin, na TV Cultura, em 2012, ele afirmou que, depois de uma sessão de composições fracassada dedilhando o cavaquinho, decidiu procurar o telefone de um empresário dentro da tal caixa. A música foi gravada por Martinho no mesmo ano, no álbum “Tá Delícia, Tá Gostoso”, que vendeu mais de 1 milhão de cópias. Além desse sucesso, Toninho já compôs outros clássicos do samba, como “Seu balancê”, gravada por Zeca Pagodinho, “Alma boêmia”, sucesso na voz de Diogo Nogueira e “Se a fila andar”, gravada por Beth Carvalho. As três tiveram como parceiro Paulinho Rezende. O compositor, que é mineiro, também grava suas próprias músicas e se apresenta em shows no Rio e em outros estados.
A decisão do juiz Victor Agustin Jaccoud Diz Torres, da 6ª Vara Empresarial da Capital, também determinou a remoção da música das plataformas de streaming e compartilhamento, como Spotify, Deezer e YouTube, sob pena de multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento. O juiz deferiu a liminar solicitada por Toninho contra a Sony Music Entertainment Brasil Ltda., Universal Music Publishing MGB Brasil Ltda., Adele Laurie Blue Adkins (Adele), Gregory Allen Kurstin (Greg Kurstin) e Beggars Group. A liminar da Justiça proibindo a execução da música já está valendo, mas a multa só vai incidir a partir do momento em que as plataformas digitais forem notificadas.
No Jornal Nacional desta segunda, Toninho disse que ao reparar a semelhança entre as músicas ficou “estupefato” e “sem saber o que fazer”. Com a decisão judicial, ele diz que começou a “sentir o gosto da Justiça”. Ele se diz ainda aberto ao diálogo, contudo. “Por que fizeram isso comigo? Chama pra conversar… Espero um acordo”, diz ele. A decisão é inédita e histórica para a Música Brasileira, pois pela primeira vez é concedida uma medida inibitória de tamanha efetividade no início de um processo de plágio de uma obra original pátria por uma celebridade estrangeira. Ela vale para 181 países, assim como o Brasil, que são signatários da Convenção de Berna, Tratado Internacional celebrado globalmente para garantir a proteção das obras originais artísticas, literárias e científicas, à qual o nosso País aderiu recentemente.