Retrospectiva 2025 – Dez álbuns brasileiros que soaram afinados
Alaíde Costa, Ajuliacosta, Alfredo Del-Penho, BK, Djonga, Don L, Eliana Pittman,
Gaby Amarantos, Lenine, Mosquito e Pedro Paulo Malta lançaram discos que
sobressaíram na produção fonográfica nacional.
Capas de álbuns de artistas brasileiros que se destacaram na produção
fonográfica de 2025 — Foto: Reprodução / Montagem DE
Diante do fato de
que milhares de álbuns, EPs e singles são lançados a cada semana nos aplicativos
de áudio, qualquer relação de melhores discos do ano tende a ser limitada, além
de subjetiva pela própria natureza de listas do gênero. O limite é o raio de
visão – ou seria de audição? – de quem elabora a lista.
Traduzindo: ninguém ouviu todos os álbuns lançados ao longo dos 365 dias de
2025. Logo, qualquer relação de grandes discos do ano é, além de parcial,
incompleta.
Feita a ressalva, o Blog do Mauro Ferreira
elege dez álbuns de
artistas brasileiros que sobressaíram em 2025 pela excelência, sobressaindo na
produção fonográfica nacional Ausências serão sentidas. Presenças poderão ser
questionadas. Afinal, os discos foram escolhidos de acordo com o gosto e os
critérios do colunista e crítico musical do DE. E gosto
sempre é passível de discussão. Provocar discussão sobre Arte, aliás, é uma das
funções da crítica exercida com independência, idoneidade e respeito ao artista.
Eis, listados em
ordem cronológica de lançamento, dez álbuns brasileiros que, na visão do Blog do
Mauro Ferreira,
merecem ser lembrados na retrospectiva musical de 2025:
Capa do álbum ‘Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer’, de BK —
Foto: Bruna Sussekind
Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer – BK
Três após se agigantar com Icarus (2022), o rapper carioca alçou outro voo
alto ao se conectar com a MPB no álbum lançado em 28 de janeiro. A coesão dos
beats (criativos), feats (com nomes como Luedji Luna) e samples (de gravações de
Djavan e Milton Nascimento) saltou aos ouvidos e reafirmou a identidade de BK ao
longo do álbum Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer.
Capa do álbum ‘Quanto mais eu como, mais fome eu sinto’, de Djonga —
Foto: Coniiin / Divulgação
Quanto mais eu como, mais fome eu sinto – Djonga
O rapper mineiro já não é a novidade no universo do hip hop, mas mostrou que
continua com fôlego e fome de bola na potente jornada reflexiva de álbum que
trouxe a voz de Milton Nascimento no rap Demoro a dormir. Saciada a fome e a
sede de fama, Djonga expressa angústias, conquistas, dúvidas, expectativas e
frustrações em versos inquietos, sustentados pelos beats e arranjos criados por
Coyote Beatz e Rapaz do Dread. Lançado em 13 de março, Quanto mais eu como, mais
fome eu sinto é álbum à altura do histórico fonográfico de Djonga.
Capa do álbum ‘Nem lágrima nem dor’, de Eliana Pittman —
Foto: Samuca
Kim com projeto gráfico de Leandro Arraes e direção de arte de Paulo Henrique
Moura
Nem lágrima nem dor – Eliana Pittman
Em 20 de março, cinco meses antes de festejar 80 anos em 14 de agosto, a
cantora carioca bateu asas e alçou um dos voos mais arrojados da discografia
iniciada na década de 1960. No álbum Nem lágrima nem dor, Eliana Pittman cantou
o repertório de Jorge Aragão com o frescor dos arranjos e da produção musical de
Rodrigo Campos. A fricção das cordas e do arsenal percussivo de Rodrigo Campos
com os sopros tocados e orquestrados por Thiago França renovou o repertório do
compositor carioca. Empresário de Eliana, Thiago Marques Luiz driblou as tensões
da produção (executiva) e bancou o disco de forma independente.
Capa do álbum ‘Uma estrela para Dalva’, de Alaíde Costa — Foto:
Murilo
Alvesso com arte de Leandro Arraes
Uma estrela para Dalva – Alaíde Costa
Entre o segundo e o terceiro título da trilogia idealizada por Emicida e
Marcus Preto (o último está previsto para 2026), a cantora prestou tributo a
Dalva de Oliveira (1917 – 1972), diva da era do rádio. No álbum Uma estrela para
Dalva, lançado em 9 de maio, Alaíde Costa afinou o canto, já habituado a
melodias tristes, com as dores de amores de repertório pautado pelas mágoas dos
sambas-canção do Brasil pré-Bossa Nova. Cada faixa apresentou duo da cantora com
instrumentistas do naipe de Antonio Adolfo, Guinga e Amaro Freitas. Herdeira dos
dramas de Dalva, Maria Bethânia se juntou a Alaíde no canto de Ave Maria no
morro (Herivelto Martins, 1942).
Capa do álbum ‘Caro vapor II – Qual a forma de pagamento?’, de Don L —
Foto: Divulgação
Caro vapor II – Qual a forma de pagamento? – Don L
Disparado em 16 de junho, o álbum Caro vapor II – Qual a forma de pagamento?
foi um dos petardos mais certeiros do hip hop brasileiro em 2025. Don L é o nome
artístico de Gabriel Linhares Rocha, rapper nascido em Brasília (DF) e criado em
Fortaleza (CE). O artista injetou sangue novo no rap nativo com batidas
envolventes e mistura brasileira em que baião, bossa nova, Dorival Caymmi (1914
– 2008), Itamar Assumpção (1949 – 2003), samba e Neptunes se amalgamaram com
funk, R&B e rap sem perder o sabor tropical sul-americano. Um grande álbum, raio
X do Brasil de 2025.
Capa do álbum ‘Quinhão’, de Mosquito —
Foto: Pintura de Márcia Falcão
Quinhão – Mosquito
O pagode marcou presença forte no mercado de shows e nas playlists de 2025.
Mas nenhum nome do gênero alcançou a altitude do partido de Mosquito no segundo
álbum do bamba carioca. Em Qimhão, álbum lançado em 17 de julho, o hábil
partideiro se confirmou grande na roda do samba enraizado nas tradições dos
quintais e terreiros do Rio de Janeiro. Herdeiro direto da linhagem de Zeca
Pagodinho e, sob prisma histórico mais amplo, descendente da dinastia carioca
aberta na década de 1930 por Noel Rosa (1910 – 1937), Mosquito contou em Qinhão
com a excelência dos arranjos e da produção musical de Pretinho da Serrinha.
Capa do álbum ‘Rock doido’, de Gaby Amarantos —
Foto: Divulgação
Rock doido – Gaby Amarantos
A artista paraense fez a festa neste álbum que soou como o set de um DJ em
aparelhagem de Belém (PF). Foi, aliás, na periferia da capital do Pará que Gaby
Amarantos gravou Rock doido, álbum lançado em 29 de agosto. A energia vibrante
da maioria das 22 músicas, condensadas em 37 minutos, eletrizou os ouvintes
deste disco em que a cantora celebra a cultura festiva do tecnobrega. Rock doido
é disco de alta voltagem rítmica que confirma a força da música do Norte e, em
especial, o talento de Gaby Amarantos.
Capa do álbum ‘Novo testamento’, da rapper Ajuliacosta —
Foto: Matheus
Aguiar
Novo testamento – Ajuliacosta
As minas também estão no poder no hip hop brasileiro. A rapper paulista
Ajuliacosta hasteou a bandeira da liberdade feminina em Novo testamento, álbum
lançado em 15 de setembro. O álbum firmou a voz altiva da rapper vencedora do
Bet Awards 2025 na categoria Melhor artista internacional. Ajuliacosta propôs em
Novo testamento uma outra ordem mundial em que mulheres jamais se deixam oprimir
pelo machismo e nunca baixam a cabeça e a voz diante do império masculino. Tudo
com alta dose de crítica e com sonoridade que mixa vertente clássica do rap,
como o boombap do fim dos anos 1980, com a contemporaneidade do trap.
Capa do álbum ‘Eita’, de Lenine —
Foto: Linogravura de Luiza Morgado
Eita – Lenine
Há dez anos em lançar álbum com músicas inéditas gravadas em estúdio, o
artista pernambucano reapareceu na melhor das formas com Eita, álbum lançado em
28 de novembro. Gravado com produção musical de Bruno Giorgi, Eita costurou
afetos em celebração da família e do Nordeste. Maria Bethânia emoldurou Foto de
família com a nobreza do canto transcendental. Maria Gadú contribuiu para
legitimar o engajamento do abrasivo maracatu O rumo do fogo. Repertório,
arranjos e produção musical irretocáveis fizeram de Eita um dos grandes álbuns
de 2025.
Capa do álbum ‘Bicudos dois’, de Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta —
Foto: Isabela Espíndola
Bicudos dois – Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta
Chegou em 11 de dezembro Bicudos dois, último grande álbum de 2025 (salvo
algum lançamento arquitetado sem aviso prévio para os últimos cinco dias do
ano). Reavivando as tradições do canto em dupla, em voga na música brasileira
desde os anos 1930, Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta pescaram pérolas raras
no álbum que, após 21 anos, deu sequência ao disco Dois bicudos (2004). Bicudos
dois é disco que se agigantou pela afinidade entre os cantores, pela
surpreendente e extraordinária seleção de repertório – dominado por relíquias do
baú da música brasileira dos anos 1930, 1940 e 1950 – e pelos arranjos, a
maioria do diretor musical Paulo Aragão.




