O que é um ferro de solda, ferramenta usada por Bolsonaro para violar
tornozeleira eletrônica, segundo PF
Veja como ficou tornozeleira de Bolsonaro; ex-presidente admite que usou ferro
de solda
O ex-presidente Jair Bolsonaro teve prisão preventiva decretada neste sábado
(22), depois de tentar violar a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. A
atitude foi assumida pelo ex-presidente depois que o Centro de Monitoração da
Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal recebeu um
alerta de que havia algo grave com a tornozeleira de Jair Bolsonaro.
O ferro de solda é uma ferramenta usada para unir peças metálicas por meio de
calor. É um item comum em bancadas de eletrônicos, oficinas e muito utilizado
para pequenos reparos em casa.
A ferramenta funciona a partir de uma resistência interna que transforma energia
elétrica em altas temperaturas, suficientes para derreter a liga metálica
conhecida como solda.
A ponta aquecida, geralmente feita de cobre, pode chegar a mais de 400 °C.
Quando encosta na solda, derrete o material e permite que ele se espalhe entre
dois componentes. Ao esfriar, essa solda solidifica e cria uma conexão firme,
garantindo contato elétrico e resistência mecânica.
O equipamento é mais comumente usado para montar e consertar placas eletrônicas,
fixar fios e reparar aparelhos domésticos.
ENTENDA A PRISÃO
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso em casa na manhã deste sábado (22)
e levado à sede da Polícia Federal em Brasília. Ele vai passar por uma audiência
com um juiz neste domingo (23).
A prisão é preventiva, sem prazo determinado, e foi solicitada pela PF ao
Supremo Tribunal Federal (STF). A Procuradoria-Geral da República (PGR)
concordou com a prisão.
Em vídeo feito durante a prisão de Bolsonaro, o ex-presidente é questionado por
uma agente sobre avarias na tornozeleira. A cena se passou na casa de Bolsonaro,
durante a madrugada.
No vídeo, aparecem a perna de Bolsonaro com a tornozeleira e as marcas de
violação. A agente mostra o equipamento para a câmera e pergunta ao
ex-presidente o que tinha ocorrido. Bolsonaro respondeu que tinha usado ferro de
solda no aparelho.
Agente: Equipamento 85916-5. O senhor usou alguma coisa para queimar isso aqui?
Jair Bolsonaro: Meti um ferro quente.
Agente: Ferro quente?
Bolsonaro: Curiosidade.
Agente: Que ferro foi? Ferro de passar?
Bolsonaro: Não. Ferro de solda. De soldar.
Agente: Ferro de solda, aquele que tem uma ponta?
Bolsonaro: Sim.
Agente: Está certo. O senhor tentou puxar a pulseira também?
Bolsonaro: Não, não, não, não.
Agente: Não?
Bolsonaro: Não rompi a pulseira não. Fica tranquila.
Agente: Tá. A pulseira aparentemente está intacta, mas o case foi violado. Que
horas o senhor começou a fazer isso, senhor Jair?
Bolsonaro: Ah, já no final da tarde.
Agente: Final da tarde? Está certo. Essa tampa chegou a soltar ou não?
Bolsonaro: Não. Não soltou não. Está tudo em paz. Tudo em paz aqui.
TORNOZELEIRA PASSARÁ POR PERÍCIA DA PF
Mesmo com o relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do DF, a
tornozeleira avariada por Bolsonaro seguiu para perícia no Instituto Nacional de
Criminalística, da PF, que tem o prazo legal de até dez dias para entregar um
relatório.
O prazo deve ser menor porque esse tipo de perícia é considerado simples.
A parte do equipamento que foi queimada com um ferro de solda, segundo um
profissional que acompanha o caso, é o “coração” da tornozeleira, onde ficam
os sensores de localização e integridade e toda a parte eletrônica do
aparelho.
Tanto essa parte como a pulseira, que prende o equipamento ao tornozelo, têm
sensores que disparam se forem danificados, segundo o profissional.
CRONOLOGIA
Relembre a cronologia dos movimentos que resultaram na prisão de Bolsonaro na
Superintendência da PF em Brasília:
– Por volta das 17h de sexta-feira (21)
Senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) convoca, pelas redes sociais, uma vigília
próxima à casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, no bairro Jardim Botânico, em
Brasília. O convite previa que a vigília começaria às 19h deste sábado (22).
– Por volta das 23h de sexta-feira (21)
A Polícia Federal pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão preventiva de
Bolsonaro com base na convocação feita por Flávio.
A PF afirmou haver “a possibilidade concreta de que a vigília convocada ganhe
grande dimensão, com a concentração de centenas de adeptos do ex-presidente nas
imediações de sua residência, estendendo-se por muitos dias, de forma semelhante
às manifestações estimuladas pela organização criminosa nas imediações de
instalações militares, especialmente no final do ano de 2022”.
Para a PF, havia risco de a vigília dificultar que Bolsonaro cumprisse a pena de
prisão no processo da tentativa de golpe, que está próximo de ser encerrado.
– 0h08 de sábado (22)
Em paralelo ao pedido da PF, o Centro Integrado de Monitoração Eletrônica
(Cime), ligado à Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal,
registra a “ocorrência de violação” da tornozeleira eletrônica usada por
Bolsonaro.
O Cime informou nesta manhã, em nota, que não fornece detalhes sobre casos
concretos. Alexandre de Moraes registrou a comunicação do órgão.
Tal fato [a vigília] tem o condão de gerar um grave dano à ordem pública,
podendo inclusive inviabilizar o cumprimento de eventuais medidas em decorrência
do trânsito em julgado da ação Penal 2.668/DF [da trama golpista], ou exigir o
indesejável emprego de medidas coercitivas pelas forças de segurança pública
para o seu cumprimento, colocando em risco a segurança de moradores do
condomínio de residência e imediações, apoiadores, policiais designados para a
missão e até mesmo o condenado e seus familiares”, afirmou a PF.
– 1h25 de sábado (22)
Acionado por Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, assina um
parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) informando que não se opunha à
prisão preventiva solicitada pela PF.
Diante da urgência e gravidade dos novos fatos apresentados, a
Procuradoria-Geral da República não se opõe à providência indicada pela
Autoridade Policial”, afirmou Gonet ao Supremo.
Ordem de prisão
Moraes decreta a prisão preventiva do ex-presidente por ver risco de fuga nos
fatos novos — a vigília convocada por Flávio e a tentativa de violação da
tornozeleira eletrônica. A decisão é tomada na madrugada, após o ministro
consultar a PGR — não há um horário expresso no documento.
Não bastassem os gravíssimos indícios da eventual tentativa de fuga do réu Jair
Messias Bolsonaro acima mencionados, é importante destacar que o corréu
Alexandre Ramagem, a sua aliada política Carla Zambelli, ambos condenados por
esta Suprema Corte; e o filho do réu, Eduardo Nantes Bolsonaro, denunciado pela
Procuradoria-Geral da República no Supremo Tribunal Federal, também se valeram
da estratégia de evasão do território nacional, com objetivo de se furtar à
aplicação da lei penal”, afirmou Moraes na decisão.
O ministro determina que a prisão seja cumprida na manhã deste sábado, “com todo
o respeito à dignidade do ex-presidente […], sem a utilização de algemas e sem
qualquer exposição midiática”, e que Bolsonaro fique recolhido na
Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal.
Por volta das 6h de sábado (22)
A PF vai até o condomínio do ex-presidente e cumpre a ordem de prisão. Bolsonaro
é levado em um comboio de veículos para a Superintendência da PF, na Asa Sul, em
Brasília.




