Cláudio Lima, um feirante de 45 anos que vive na Vila Cruzeiro, uma das comunidades que formam o Complexo do Alemão, teve sua vida virada de cabeça para baixo ao reconhecer o corpo de seu filho, Hércules Célio Lima, de 23 anos, entre os 121 mortos na mega operação policial realizada nos complexo da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio. Cláudio relata a dor de tentar, por anos, convencer o jovem a deixar o mundo do crime, sem sucesso.
A busca por Hércules começou logo após o fim da operação e durou mais de 24 horas, até que Cláudio recebeu um vídeo no WhatsApp, mostrando alguns corpos sem vida, entre eles, o de seu único filho. Desolado, Cláudio se viu na dolorosa tarefa de reconhecer o rosto desfigurado do jovem no Instituto Médico-Legal (IML). Mesmo diante da devastação, o feirante procurava forças para enfrentar a situação, enquanto a irmã fazia a identificação do corpo dentro da unidade.
Hércules, que morava com a avó, se afastou do pai para se envolver com o crime organizado, mesmo diante dos esforços de Cláudio para oferecer uma vida diferente a ele. O jovem demonstrava revolta com a vida desde os 18 anos e se aproximou de influências negativas, optando por um caminho perigoso. O pai relembra com tristeza os anos de tentativa para mudar o rumo do filho e a dor de ver suas escolhas o levarem a um desfecho trágico.
Apesar de não morarem juntos, pai e filho mantinham proximidade e se comunicavam com frequência, até que a última ligação se tornou uma memória amarga. Cláudio se apega às lembranças, como a paixão de Hércules pelo time de futebol Fluminense, simbolizada pela camisa tricolor que o jovem vestia no momento de sua morte. O corpo foi liberado para o enterro, encerrando um ciclo de dor e sofrimento para Cláudio e sua família.
A mega operação policial, denominada Operação Contenção, resultou em 121 mortos, entre eles quatro policiais e 115 suspeitos de envolvimento com o tráfico, ligados ao Comando Vermelho (CV). Além dos mortos, houve 113 presos e 10 adolescentes apreendidos, além da apreensão de 118 armas, incluindo 91 fuzis. A letalidade da ação levanta questionamentos sobre os métodos empregados e as consequências para as famílias das vítimas, como no caso de Cláudio e Hércules.
Neste momento de luto e dor, Cláudio destaca a importância de relembrar a trajetória do filho, suas lutas e desafios, na esperança de que sua história possa servir de alerta para outras famílias. O feirante faz um desabafo sincero, compartilhando sua dor e seu sentimento de impotência diante do trágico desfecho que marcou sua vida para sempre. A perda de Hércules representa mais uma vítima de um sistema violento e complexo, que deixa marcas indeléveis nas famílias afetadas.
 
				



