A transferência da gestão do Sambódromo do Rio de Janeiro das mãos da prefeitura para o estado tem gerado questionamentos e tensões entre os grupos políticos envolvidos. O economista André Luiz Marques, do Insper, levanta preocupações sobre o impacto financeiro que essa mudança pode trazer, especialmente considerando a delicada situação das finanças estaduais, que estão no vermelho e sob o Regime de Recuperação Fiscal. De acordo com Marques, a ação levanta questionamentos sobre a viabilidade da administração estadual assumir esse novo encargo em um momento tão delicado para a economia fluminense.
A decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) de transferir a gestão do Sambódromo para o estado foi vista como uma medida controversa pelo prefeito Eduardo Paes, que anunciou que irá recorrer à Justiça. Paes criticou a atitude da Alerj, questionando a necessidade do estado assumir a responsabilidade pelo carnaval em meio a tantos desafios financeiros e de segurança. Segundo dados da prefeitura, os custos anuais com a infraestrutura da Passarela do Samba e as subvenções para escolas de samba são significativos, o que lança dúvidas sobre a capacidade do estado de lidar com essas despesas.
A medida tomada pela Alerj também acirrou as disputas políticas entre o grupo do governador Cláudio Castro e o prefeito Eduardo Paes. Aprovada com 38 votos a favor e 19 contra, a mudança na gestão do Sambódromo foi vista nos bastidores como uma jogada política da pré-campanha de Rodrigo Bacellar ao governo do estado. Paes sugeriu que o estado deveria se concentrar em questões como segurança, saúde e transporte, em vez de assumir a administração do carnaval, o que gerou mais debates e desentendimentos entre os líderes políticos.
Rodrigo Amorim, líder da base governista na Alerj, defende a constitucionalidade da medida e argumenta que o carnaval deve ser considerado patrimônio de todo o estado do Rio, não apenas da capital. Segundo ele, o Sambódromo foi construído com recursos públicos estaduais e deve ser utilizado para fomentar diversas manifestações culturais e artísticas. A mudança na gestão do Sambódromo também abrange outros terrenos na região da Cidade Nova, incluindo o ocupado pelo Centro Administrativo, sede da prefeitura, o que levanta diversas questões e preocupações sobre o futuro do local.
A reação de figuras importantes, como a baluarte da Portela Tia Surica e o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro, Alfredo Lopes, reflete a incerteza e insatisfação geradas pela transferência da gestão do Sambódromo. Enquanto Tia Surica destaca a importância de manter a administração do local nas mãos da prefeitura, Lopes questiona a lógica por trás dessa mudança, sugerindo que questões políticas podem estar prejudicando os interesses dos cariocas e dos negócios relacionados ao carnaval. O diálogo entre todas as partes envolvidas é apontado como o caminho ideal para garantir a continuidade do principal palco dos desfiles de carnaval do Rio de Janeiro.