Vida no pedal: ciclista acompanha transformações no cenário urbano e natural do
Rio de Janeiro
Há dez anos fazendo entregas de bicicleta pela cidade, o carioca MArcio Cabezas
é testemunha de um Rio que está em constante mudança
Se as transformações do Rio de Janeiro ficassem registradas em um time lapse, o
ciclista Marcio Cabezas certamente apareceria muitas e muitas vezes na tela. O
carioca, que atende pelo nome artístico MArcio, tem 40 anos e conhece cada
pedacinho da Zona Sul do Rio. Isso porque há uma década ele pedala fazendo
entregas pela cooperativa Ciclo Courier.
Unidos pelo ideal de realizar entregas de forma sustentável e humanizada, os
ciclistas da Ciclo Courier têm um olhar apurado para as frequentes mudanças no
cenário urbano e natural da cidade maravilhosa. E é quando as rodas da bicicleta
tocam a poeira de uma obra, ou quando o caminho da entrega precisa ser desviado,
que eles podem vislumbrar mudanças no horizonte.
“Um canteiro de obras é sempre um espaço de atenção, especialmente para os
ciclistas. Para além da mudança no trânsito e o pedestre circulando em outro
lugar, precisamos estar atentos à poeira no ar e ao asfalto escorregadio. Mas,
apesar disso, sempre penso que é algo bom que a cidade vai ganhar lá na frente”,
afirma Márcio.
O Rio de Janeiro das transformações naturais e urbanas, que muda constantemente,
é o cenário que inspira e move MArcio. Ele se diz um apaixonado pelo cenário
urbano do Rio que, para além da natureza exuberante, traz beleza na urbanização.
Em um dia normal de trabalho, pedala em torno de 50 quilômetros da cidade onde
nasceu, cresceu e vive até hoje.
Ele, que anda de bicicleta “desde sempre”, nos últimos anos se tornou um
espectador de cada pequena ou grande transformação do espaço urbano.
“Já passei mais de mil vezes em cada trecho, então qualquer mudança, percebo. Um
muro que pintam, um semáforo novo, uma obra que começa… eu acompanho tudo! Às
vezes começa o canteiro de obras, aí o prédio sobe, ligam as luzes e quando
percebo, já tem até gente morando!”, narra.
“No ecossistema urbano, os ciclistas são silenciosos e maleáveis como as
serpentes; espertos e difíceis de capturar como os felinos; livres e felizes
como os pássaros.” A descrição que vem das redes sociais de MArcio resume o
turbilhão de emoções que permeia o dia a dia de um entregador pelas ruas do Rio.
Por um lado, o ciclista está exposto a um ambiente que pode ser bastante hostil:
sol ou chuva forte, frio, calor, trânsito caótico, motoristas e pedestres
apressados, insegurança – são alguns dos obstáculos enfrentados diariamente.
No entanto, estar em constante movimento possibilita ter uma visão privilegiada
da cidade. A bicicleta permite uma aproximação com as ruas, onde os detalhes
podem passar despercebidos por quem transita de carro ou transporte público.
“É tanta informação o tempo todo, que a gente acaba vendo coisas boas e ruins,
também. Às vezes, eu só consigo assimilar as situações que vivi, as pessoas que
encontrei, o que vi de relance, passando, quando chego em casa”, conta.
Atuando no sistema de cooperativa, a Ciclo Courier tem o objetivo de ser um
espaço seguro para os ciclistas que querem aliar a paixão em pedalar com o seu
sustento. A palavra courier tem origem inglesa e significa “entregas rápidas” –
e foi da Europa que veio, também, a inspiração para criar a organização carioca.
MArcio Cabezas lembra que um dos fundadores viveu no antigo continente e trouxe
a ideia para um grupo de estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), especialmente dos cursos da área de humanas. O então estudante de
Sociologia se juntou à trupe como forma de custear suas despesas enquanto
terminava a graduação.
“Depois de formado eu passei no concurso, dou aulas na rede pública, para o
Ensino Médio. Mas nos dias em que não estou em sala de aula, me dedico
totalmente à bicicleta”, conta com orgulho.
Com uma equipe pequena e fixa, toda a administração é horizontal e os trabalhos
são direcionados aos entregadores por turnos. Geralmente, a Ciclo Courier atua
para restaurantes com contrato fixo ou para e-commerce de pequenas marcas.
Dessa forma, é possível estabelecer uma relação de confiança com os clientes,
com atendimento mais personalizado. Refeições e momentos de descanso também são
previstos nos contratos, diminuindo a pressão por performance que os
entregadores de aplicativo sofrem.
“Sou muito orgulhoso do trabalho que fazemos. Temos esse olhar para a
sustentabilidade ambiental sem esquecer que o ser humano é um bicho também,
precisamos cuidar dele. Cuidar do meio ambiente também inclui os seres humanos”,
afirma.
Enquanto algumas mudanças na cidade são pequenas e só podem ser vistas com um
olhar mais atento e constante como o do MArcio, outras são tão grandiosas que
mudam a vida de muitas pessoas. E o Rio tem passado por transformações
ambientais de grande impacto, como a que está ocorrendo na Baía de Guanabara e
na Lagoa Rodrigo de Freitas.
O projeto de recuperação desses corpos hídricos, por meio do saneamento básico,
já está acontecendo desde 2021, quando a Águas do Rio iniciou a operação.
Dos R$ 19 bilhões que a concessionária investirá para universalizar o
esgotamento sanitário em toda a sua área de atuação até 2033, R$ 2,7 bilhões
serão destinados à construção de coletores de esgoto em tempo seco no entorno da
baía, sistema que capta e direciona os efluentes para tratamento. Essa estrutura
será essencial para impedir que mais de 1,3 bilhão de litros de esgoto cheguem à
Baía de Guanabara todos os dias.
Hoje, devido às intervenções feitas pela concessionária, mais de 100 milhões de
litros de água contaminada com esgoto já deixam de cair nesse ecossistema
diariamente. Praias historicamente poluídas voltaram a ser frequentadas pelos
cariocas, como Flamengo e Glória. As praias de Paquetá também voltaram a
apresentar balneabilidade após ação da Águas do Rio.
Outro icônico cartão-postal da cidade e da Zona Sul, a Lagoa Rodrigo de Freitas
voltou a apresentar águas cristalinas e fauna renovada. A concessionária
recuperou todo o sistema de esgotamento da região e mais de 5 milhões de litros
de esgoto deixaram de ser jogados na lagoa todos os dias.
A revitalização dos sistemas de bombeamento que mantêm ativo o cinturão de
proteção da lagoa garante a operação em 100% da sua capacidade, evitando o
lançamento indevido de 216 mil litros por hora de esgoto. A concessionária
também realiza a fiscalização de despejo irregular de esgoto nos canais e rios
que a alimentam e a conectam com o mar, como no Rio Rainha, no Canal da Visconde
de Albuquerque e no Canal da Lineu de Paula Machado. Essas ações impactam
diretamente na qualidade de água da lagoa.