Transplantes de córnea em animais: especialista explica como são feitos os procedimentos e em quais casos são indicados
Centro de Oftalmologia Veterinária em Presidente Prudente (SP) já realizou 40 transplantes em cães e gatos só em 2025. Na maioria dos casos, os órgãos doados são de bois ou porcos.
Transplante de córnea em pets é realizado em Presidente Prudente
Transplante de córnea em pets é realizado em Presidente Prudente
O transplante de córnea é um procedimento comum em humanos, e muitos pacientes aguardam na fila para receber a doação, mas você sabia que a cirurgia também é feita em pets? O Centro de Oftalmologia Veterinária em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, já realizou 40 transplantes em cães e gatos só em 2025.
No Dia Mundial da Visão, data internacional de conscientização celebrada anualmente na 2ª quinta-feira de outubro, o DE conversou com Eudes Ramalho Candido, veterinário há 10 anos e especialista em oftalmologia veterinária há seis anos.
O médico de Presidente Prudente compartilhou mais detalhes sobre como funciona o transplante de córnea em animais, que pode ser feito de maneira total ou localizado, com parte do órgão.
“O que eu mais realizo é um transplante localizado. Então, na região que está perfurada da córnea, é feita a retirada do fragmento danificado e é transplantada uma córnea de outra espécie”, explica.
Paciente após 25 dias do transplante de córnea em Presidente Prudente (SP) — Foto: Eudes Candido/Arquivo pessoal
No caso dos transplantes em animais, os órgãos doados são principalmente de espécies frigoríficas, como bois e porcos, mas várias espécies podem ser doadoras.
“Outro animal que faleça por uma causa não infecciosa e esteja autorizado pelos tutores a doação dos órgãos viáveis… pode ser retirada a córnea daquele animal e transplantada.”
A doação de córnea de uma mesma espécie também ocorre, mas não é tão comum, conforme o veterinário. “Por envolver muito a questão sentimental das pessoas, e ser um momento que, muitas vezes, as pessoas não querem tratar desse tipo de assunto, mas, quando acontece de conseguir conversar, é proposto de fazer a doação.”
COMO FUNCIONA NA PRÁTICA
O transplante de córnea é recomendado em situações nas quais há uma lesão grave, segundo o especialista veterinário. “Uma lesão de perfuração na córnea, porém o tecido ao redor da córnea que não está perfurado precisa estar em condições para receber a nova córnea e ter uma ancoragem dos fios cirúrgicos.”
“São colocados no local da perfuração para que essa nova córnea faça parte daquela região perdida da córnea original do animal”, continua o veterinário Eudes.
Em outros casos nos quais o transplante de córnea não é viável, a equipe veterinária precisa recorrer a outras técnicas cirúrgicas. “Por exemplo, o enxerto conjuntival pediculado e até o enxerto em 360 graus, técnicas essas que funcionam, porém com maior cicatriz ao final.”
Outro cachorro que também passou por transplante de córnea local e estava com pontos — Foto: Eudes Candido/Arquivo pessoal
“Então, nem todos os casos de perfurações têm condições de receber o transplante de córnea. Muitos deles por não ter uma córnea saudável.”
“Hoje, o transplante de córnea nos animais nos possibilita uma recuperação muito mais rápida, eficaz e com uma cicatriz menor”, pontua Eudes.
RECUPERAÇÃO E VALOR INVESTIDO
O transplante de córnea na medicina veterinária se tornou a indicação principal quando os animais sofrem traumas oculares. “Principalmente os animais que têm o focinho mais curto, os braquicefálicos, com os olhos mais proeminentes, como raças de pug, shih tzu e até o bulldog francês”, reforça.
Segundo o especialista em oftalmologia veterinária, todos os animais de qualquer idade têm indicação para o transplante de córnea a depender da necessidade. O tempo cirúrgico depende do grau da lesão, com média de uma hora a uma hora e 40 minutos.
Já o custo do transplante de córnea atualmente está em aproximadamente R$ 2 mil por olho operado, conforme o veterinário. E o tempo de recuperação do animal também depende de cada processo biológico, com período de até 40 dias.
“Basicamente, é possível fazer o transplante de córnea em quase todas as espécies. Aqui na minha atuação, é muito recorrente a realização do transplante de córnea em cães e gatos”, afirma Eudes.
Anestesista veterinário Arthur Henrique e oftalmologista veterinário Eudes Candido — Foto: Eudes Candido/Arquivo pessoal
APOIO ANESTÉSICO
Para a realização dos transplantes de córnea em pets e demais procedimentos cirúrgicos, o apoio de anestesia é fundamental para que o animal não sinta dores. Este apoio é oferecido por Arthur Henrique dos Santos, veterinário anestesista.
“Não só no transplante de córnea, mas em qualquer outro procedimento, o anestesista é importante, porque ele que vai manter e avaliar o animal durante o procedimento, para manter os parâmetros fisiológicos dentro da normalidade ali, e, se tiver alguma alteração, intervir”, reforçou.
Os parâmetros avaliados pelo especialista vão desde frequência cardíaca e respiratória até pressão arterial e temperatura corporal do animal.
“Cada animal, na anestesia, tem seu protocolo específico. A gente fala que não é uma receita de bolo, então o protocolo a gente monta para aquele animal, dependendo do tipo de cirurgia, das doenças que eles podem ter.”
Em animais menores, a dificuldade de monitorização se torna maior devido à adaptação do aparelho, segundo o especialista. “Também influencia bastante animal mais bravo, em que, às vezes, tem que trabalhar com sedativos mais fortes.”
“Só que na veterinária a gente tem muita variação de tamanho, então, a gente anestesia desde animais de 50, 60 quilos até animal de 500 gramas ou um quilo. Mas, resumidamente, não tem limite de espécie para ser anestesiada, não. Qualquer ser vivo da espécie animal pode ser anestesiado”, reforça Arthur Henrique.
*Colaborou sob supervisão de Stephanie Fonseca
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