De quase morte à recuperação: veja a melhora surpreendente do jogador Pedro Severino após grave acidente
Atleta revelado no Botafogo-SP está internado há quase três meses, mas não corre mais risco de morrer. Veja cronologia do caso.
Da experiência quase morte à recuperação: a linha do tempo de Pedro Severino
Internado desde o início de março, o jogador de futebol Pedro Severino não corre mais risco de morrer, segundo familiares e a equipe médica que o acompanha no hospital em Ribeirão Preto (SP). O cenário atual é completamente oposto ao de quase três meses atrás, quando, após sofrer um grave acidente de carro, ficou entre a vida e a morte.
No dia do acidente, Pedro chegou ao hospital com quadro de traumatismo craniano e em estado gravíssimo, tanto é que um protocolo de morte cerebral chegou a ser aberto, mas foi interrompido no dia seguinte (entenda mais abaixo). Desde então, ainda que lentamente, a recuperação só evoluiu.
Amigos, familiares, torcedores do Botafogo-SP, time que o revelou em Ribeirão Preto, e até de outros clubes, além de desconhecidos sensibilizados com o drama, se uniram em uma corrente poderosa de oração por Pedro. Para os mais religiosos, a recuperação é um milagre.
CRONOLOGIA EM QUASE 100 DIAS
4 de março – Acidente de carro
O acidente aconteceu por volta das 6h do dia 4 de março, no km 127 da Rodovia Anhanguera (SP-330), em Americana (SP). Pedro e o amigo Pedro Castro, também jogador do Botafogo-SP emprestado ao Red Bull Bragantino, seguiam de Ribeirão Preto para Atibaia (SP) com o motorista particular Aguinaldo Romero Lago, de 57 anos.
Em depoimento à Polícia Civil, ele disse que dormiu ao volante no momento da colisão e bateu contra a traseira de um caminhão. Pedro estava no banco do passageiro e teve traumatismo craniano.
4 e 5 de março – Protocolo de morte cerebral
Após o acidente, ele foi levado ao Hospital Municipal de Americana, onde, no mesmo dia, um protocolo de morte cerebral chegou a ser aberto. O procedimento reúne uma série de exames para confirmar (ou não) a perda completa e irreversível das funções cerebrais – ou seja, a morte de fato.
No entanto, um reflexo de tosse durante a retirada da sedação de no dia seguinte levou os médicos a interromperem o protocolo de morte encefálica.
6 de março – Transferência para Ribeirão
No dia 6 de março, Pedro foi transferido para o Hospital da Unimed, em Ribeirão Preto. O jogador foi de ambulância, às 8h. A viagem durou aproximadamente 3h30.
14 de março – Respira sem aparelhos
Em 14 de março, um boletim médico divulgado pelo Hospital da Unimed apontou que o atleta começou a respirar sem ajuda de aparelhos em alguns períodos do dia.
Segundo a unidade, à época, o atleta seguia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas já sem necessidade de sedativos. O quadro neurológico permanecia grave, porém estável.
24 de março – Alta da UTI
Foi no dia 24 de março que Pedro recebeu alta da UTI e foi transferido para um quarto do hospital em Ribeirão.
O boletim médico daquele dia informou que o quadro clínico do atleta era estável, e que ele respirava totalmente sem a ajuda de aparelhos.
Apesar da transferência, o quadro neurológico ainda inspirava cuidados, o que motivava a continuidade da internação, destacou o hospital.
21 de maio – Fora de risco
No último dia 21 de maio, após 80 dias de internação, Pedro acenou da janela do hospital para o grupo que rezava por ele na porta da unidade. O pai do atleta, Lucas Severino, contou que o filho não corria mais risco de morte.
De acordo com os médicos responsáveis pelo tratamento, o jogador caminha pelo quarto e responde a chamados com gestos e comunicação falada.
24 de maio – Primeira foto
Já no dia 24, a família do jogador divulgou nas redes sociais a primeira foto dele durante o período de internação. Na imagem, o jogador aparece em pé próximo à janela do hospital.
“Antes de tudo, glória a Deus. Ele é o responsável por todo esse milagre. É com muita alegria que novamente viemos falar. Depois de 80 dias, de muita angústia, muito choro, porém muitas surpresas e muitas alegrias, o Pedro está vivo e viverá!”, postou o pai, Lucas Severino, nas redes sociais.
O QUE É TRAUMATISMO CRANIANO E COMO ELE É CLASSIFICADO
Para entender a gravidade do caso e quais os fatores que podem ter contribuído para a recuperação, o g1 conversou com o neurologista Eduardo Quaggio. O médico não faz parte da equipe responsável pelo tratamento de Pedro Severino, mas fez uma análise geral sobre o quadro.
Segundo Quaggio, os traumatismos cranianos são divididos em três níveis: leve, moderado e grave. A classificação é feita por socorristas ou médicos ainda no atendimento inicial, com base na Escala de Coma de Glasgow, que mede o nível de consciência do paciente.
“A escala vai de 3 a 15 pontos. Um paciente com 15 pontos está consciente e orientado, ou seja, é considerado um trauma leve. Entre 9 e 12 pontos, é moderado. Já 8 ou menos é trauma grave. O mais grave possível é o paciente com Glasgow 3, ou seja, em coma profundo, sem resposta motora, verbal ou ocular”, explica o médico.
A escala avalia três respostas: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. Quanto mais responsivo o paciente, maior a pontuação.
O PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA: COMO FUNCIONA
Casos extremos de traumatismo grave, como o de Pedro, podem levar os médicos a suspeitar de morte encefálica, especialmente se o paciente apresenta Glasgow 3 e ausência total de reflexos neurológicos.
O neurologista explica que, mesmo em casos muito graves, a confirmação da morte encefálica segue um protocolo extremamente rigoroso, com múltiplas etapas. O processo só começa depois que todas as causas reversíveis de coma são descartadas, como uso de sedativos, alterações metabólicas ou infecções.
“No entanto, um reflexo de tosse durante a retirada da sedação de no dia seguinte levou os médicos a interromperem o protocolo de morte encefálica.”
Após isso, é feita uma avaliação neurológica completa, em que o médico testa todos os reflexos. Se não houver nenhuma resposta, o paciente passa por exames complementares, como eletroencefalograma (que mede a atividade elétrica do cérebro) ou angiografia cerebral (que mostra se ainda há fluxo de sangue no cérebro).
E ainda é feita uma segunda avaliação, com intervalo de 12 horas, para garantir que o quadro não mudou. Só depois disso, se tudo se mantiver ausente, é que se confirma a morte encefálica. É um protocolo muito criterioso. Não há como se declarar morte encefálica se o paciente ainda estiver vivo, mesmo que em estado crítico.
A RECUPERAÇÃO APÓS O TRAUMA: LENTA, MAS POSSÍVEL
Segundo o neurologista Eduardo Quaggio, que há décadas acompanha pacientes vítimas de traumatismo craniano, o caso de Pedro Severino representa um exemplo claro de reversão de um quadro extremamente grave.
“Só o fato de alguém ter cogitado a possibilidade de morte encefálica mostra que ele esteve em um estado neurológico gravíssimo. Passar por uma craniotomia descompressiva também reforça isso. Então, a recuperação que ele está tendo agora é surpreendentemente boa. Se ele já está andando e se comunicando, é um progresso considerável para alguém que chegou ao hospital em coma profundo”, explica.
Quaggio ressalta que a evolução de um paciente com traumatismo craniano grave é altamente variável e depende de uma série de fatores, como idade, condições físicas prévias, tempo de atendimento e resposta inicial ao tratamento. Ainda assim, ele destaca que a maioria dos casos exige um longo período de internação e cuidados intensivos.
“Pacientes jovens, com boa condição física, sem doenças prévias e ativos, têm um potencial de recuperação muito maior. O corpo deles responde melhor ao tratamento, e o cérebro também tem maior plasticidade para se regenerar”, diz.
O QUE DEFINE O MOMENTO DA ALTA?
De acordo com o neurologista, a alta hospitalar não depende apenas da recuperação da consciência. Em muitos casos, pacientes ainda inconscientes podem ser transferidos para home care ou centros de reabilitação, desde que suas funções vitais estejam estabilizadas.
“Para um paciente ir para casa ou para reabilitação, ele precisa estar respirando espontaneamente, sem dependência de aparelhos, com infecções controladas e sem necessidade de medicamentos intravenosos. Quando ele já não depende mais de cuidados hospitalares intensivos, consideramos que pode ter alta.”
A recuperação de Pedro Severino é um testemunho de tenacidade e superação diante de um obstáculo tão desafiador. Seu caso serve de inspiração para muitos e evidencia a importância do apoio familiar, da equipe médica e da fé no processo de cura. A jornada de Pedro continua, mas sua melhora surpreendente já é motivo de celebração e esperança para todos que acompanham sua história.