Trump promete restaurar um mundo de “DE Profunda” – Análise detalhada das promessas e desafios de sua administração

Foi um discurso para o que se chama de “DE Profunda”, com forte carga emotiva e nostálgica. Em uma cerimônia que será lembrada como o apogeu da reação política conservadora após anos de hegemonia progressista, o presidente empossado Donald Trump prometeu restaurar um mundo destinado aos fortes.

Segurança de fronteiras com uso das forças armadas, protecionismo comercial, expansão da indústria militar, exploração máxima de fontes de energia poluentes e não renováveis, transferência de recursos de outras nações para os Estados Unidos por meio de tarifas, o fim do politicamente correto (que está sendo classificado como uma antítese da liberdade de expressão), controle da inflação e consolidação de uma área de influência no hemisfério ocidental e, mais especialmente, no continente americano.

Foi um discurso direcionado para o que se chama de “DE Profunda”, com forte carga emotiva e nostálgica. Mas também um texto com muitos – e duros – recados para o mundo. Autolegitimado por um discurso de que o mundo se acostumou a obter vantagens injustas dos EUA, Trump sinalizou que a nova administração abrirá inúmeras frentes de renegociação de tratados e acordos comerciais, colocando os países na defensiva.

O “America First”, nesse sentido, é uma força real de motivação de políticas domésticas e de relações exteriores. Para dentro, capitaliza uma energia eleitoral incrível, que lhe deu maioria na Câmara e no Senado e, para fora, promove um novo balanço das forças a partir do abandono de padrões multilaterais e da negociação individual, que valoriza o peso desproporcional dos Estados Unidos. Para obter mais vantagens, Trump quer fazer acreditar que seu país não tem um rival à altura. A ameaça de sobretaxar países que tentarem substituir o dólar nas suas transações comerciais – cogitado pelo grupo dos Brics – passa o recado de que nações não alinhadas não têm a quem recorrer e que passar para a zona de influência da China não é uma opção.

Com a oposição enfraquecida, analistas têm escrito que os principais limites à ação de Trump devem vir de rachaduras internas e do resultado de escolhas erradas que podem ser feitas. Como grupo heterogêneo, haverá divergências entre aliados. Um exemplo é a fala de Elon Musk na qual a política migratória deve abrir exceções para trabalhadores altamente qualificados. Outra discussão é se a combinação de restrição à imigração, a taxação das importações e estímulos dados à economia por meio do corte de impostos não ampliará o problema da inflação. Além disso, pode-se perguntar se a atitude agressiva dos Estados Unidos em relação às suas áreas vizinhas não estimulará o expansionismo russo ou chinês.

Por ora, no entanto, essas rachaduras não aparecem e o que chama atenção é a imagem de concentração de poder. A presença de praticamente todos os chefes das Big Techs na posse foi a mais simbólica das fotografias tiradas na posse, mostrando uma corte tecnológica e poderosa em torno de Trump. Curioso que isso ocorre ao mesmo tempo em que começa em Davos o Forum Econômico Mundial. Para inaugurar o encontro, foi divulgado o relatório anual de riscos que elegeu “desinformação e as notícias falsas” como a principal ameaça ao planeta, acima até da emergência climática.

Trata-se de um período conflituoso entre países, entre grupos sociais, empresas e governos. Não que outros tempos não o fossem, mas há uma diferença neste ciclo político inaugurado junto com Trump. Deixa-se de lado o véu típico das disputas diplomáticas e escancara-se que, hoje, o que vale é a regra da terra de Murici, onde cada um cuida de si.

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