Cinco meses após tumulto no Recreio dos Bandeirantes, 23 torcedores do Peñarol ainda seguem no Rio
Dois deles estão presos no Complexo Penitenciário de Gericinó e outros 21 estão em liberdade provisória, usando tornozeleira eletrônica e proibidos de deixar o Brasil.
Dezenas de torcedores do Peñarol foram detidos após provocar baderna, no Rio
Cinco meses após protagonizarem cenas de caos na orla do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, 23 torcedores do Peñarol, do Uruguai ainda permanecem no Rio. Eles respondem por crimes que vão de dano à corrupção de menores, passando até por associação criminosa e rixa.
Dois estão presos no Complexo Penitenciário de Gericinó e outros 21 estão em liberdade provisória usando tornozeleira eletrônica e proibidos de deixar o Brasil. Todos estão em uma residência alugada pelo clube uruguaio.
A 10 dias do início da edição 2025 da Taça Libertadores da América, o caso na Justiça do Rio ainda está longe de terminar. As prisões ocorreram antes do jogo de ida da semifinal da competição ano passado, entre Botafogo e o time uruguaio.
O tumulto no Recreio dos Bandeirantes deu origem a 8 processos: 3 estão no Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos, e outros 5 estão distribuídos para varas criminais do TJ.
Os assessores jurídicos do Procurador-geral de Justiça, do Ministério Público estadual do Rio, avaliaram, em 2024, que a competência sobre o caso era das varas criminais. Sobre um processo envolvendo 10 torcedores uruguaios, o TJ informou em 9 de janeiro que o Juizado do Torcedor acolheu a petição do MP e arquivou a investigação sobre punição para quem promove tumulto em eventos esportivos.
Por essa razão, o juízo declinou a competência para uma das varas criminais da Capital, segundo explicou o tribunal.
Outros 3 processos seguem no Juizado do Torcedor com o entendimento de que o tumulto tem a ver com a semifinal que seria jogada horas depois entre Botafogo e Peñarol.
“Estamos trabalhando para que tenhamos uma definição em breve. Imagine que a vida desses torcedores parou. Eles saíram do país deles para um jogo que não terminou até hoje”, afirma o advogado Eduardo Benfica, que defende os uruguaios.
Nestes cinco meses, o grupo já trocou 3 vezes de residência por medida de segurança. O grupo já foi ameaçado por torcidas organizadas de clubes do Rio. O local da casa é mantido sob sigilo para garantir a segurança dos torcedores do Peñarol.
O CAMINHO DAS INVESTIGAÇÕES
Os registros de ocorrência feitos em duas delegacias naquele 23 de outubro de 2024 levaram a uma distribuição de processos em diferentes varas do Tribunal de Justiça. Parte da demora do julgamento está em opiniões divergentes de magistrados sobre a competência de quem deveria julgar o caso.
Em um dos casos, o processo foi para a 20ª Vara Criminal do TJ e o juiz informou que a competência sobre ele é da Vara do Torcedor. Na Vara do Torcedor, o juiz Gustavo Calil decidiu que o processo deveria ir para a 21ª Vara Criminal. O Ministério Público se manifestou dizendo que o processo não é de lá e sim da 20ª Criminal.
Essa foi a última movimentação deste processo, em 18 de fevereiro. Até agora o caso não retornou para a outra vara.
Em outro processo, a juíza Márcia Capanema, da 21ª Vara Criminal enviou o caso para o Juizado do Torcedor, diferente do entendimento dos outros magistrados.
Os magistrados do juizado avaliam seus processos se devem ou não seguir para a vara criminal como foi a maioria.
Os 21 uruguaios, em liberdade provisória, precisam cumprir uma série de medidas cautelares:
Monitoramento eletrônico;
Comparecimento bimestral em juízo para informar e justificar atividades;
Proibição de acesso ou frequência a estádios de futebol, por circunstâncias relacionadas ao fato,
O indiciado ou acusado deve permanecer distante desses locais (estádios) para evitar o risco de novas infrações;
Impossibilidade de deixar o país.
URUGUAIOS PRESOS
Dois uruguaios seguem presos em presídios do Rio. Um é Anthony Alex Balesteros e o outro é Ruben Ezequiel Rodrigues Acuña. Eles respondem por associação criminosa, roubo, dano com prática de incêndio e rixa.
Balesteros não tinha antecedentes criminais até o confronto no Recreio dos Bandeirantes, mas já havia se envolvido numa briga em 14 de agosto de 2024 no jogo entre o clube pelo qual torce, o Peñarol e o The Strongest, da Bolívia, no Uruguai. O processo dele está na 41ª Vara Criminal.
Já Ruben Ezequiel Acuña tinha antecedentes criminais por ter se envolvido em uma briga em que causou lesões graves e se envolveu em um furto. Além das mesmas acusações que Balesteros, Ezequiel responde ainda por corrupção de menores. Seu caso está na 5ª Vara Criminal.
Gif – Baderna de torcedores do Peñarol em praia no Rio — Foto: Reuters/Agência Estado/Reoprodução
RAIO-X DO CASO
238 uruguaios foram presos e o caso registrado em duas delegacias (16ª DP e 42ª DP);
216 foram liberados em audiências de custódia ou por decisão judicial;
21 foram presos em flagrante e 1 adolescente foi apreendido, desses 19 tiveram a prisão revogada passando a cumprir medidas cautelares como tornozeleira e apresentação a cada dois meses à Justiça;
2 seguem presos (Anthony Alex Balesteros e Ruben Ezequiel Rodrigues);
O adolescente que foi apreendido foi cumprir medida no Uruguai.
Dezenas de torcedores do Peñarol causaram um caos nesta quarta-feira (23) na orla do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os uruguaios vieram à cidade para o jogo de ida da semifinal da Conmebol Libertadores contra o Botafogo, nesta noite.