É fato incontroverso: mais do que nunca, e definitivamente, o brasileiro precisa adquirir um novo comportamento e uma nova cultura quanto às suas expectativas para a terceira idade. É fundamental que adote como condição de vida, o planejamento previdenciário e financeiro. Aquele modelo que vivemos durante décadas, de esperar a aposentadoria para descansar e, ainda que modestamente, desfrutar da velhice já não nos cabe. É imprescindível ao adulto de hoje se planejar economicamente – seja por meio de aplicações das mais diversas, bem como organizar o modelo e valor de contribuições para, caso queira, viver a terceira idade com conforto e independência financeira.
Não estou aqui para defender a reforma da Previdência Social, bem longe disso, o foco é ser previdente. O Brasil tem passado e avança com notável velocidade – comparativamente com outros países – no processo de envelhecimento populacional. Portanto, buscar interesse pela aposentadoria somente na velhice, levará o segurado a uma enorme decepção financeira, e as consequências advindas dela.
Pelas projeções do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a população idosa do nosso país vai saltar de cerca de 23 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, em 2014, para cerca de 41,54 milhões, em 2030; e 73,55 milhões em 2060, em uma população estimada total para o país, em 2060, de 218,17 milhões. Atualmente, uma em cada dez pessoas é idosa; em 2060, uma em cada três será idosa. O número de pessoas ativas, com idade entre 15 e 64 anos, por idoso, que é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, passará de 11,5 (2000) para 2,3 (2060).
Os dados numéricos de hoje já estariam em colapso se o Brasil não tivesse uma Previdência estruturada dentro de um sistema de Seguridade Social, o qual permite o financiamento dos benefícios previdenciários por outras arrecadações (PIS, COFINS, CSSL e concurso de prognósticos).
Mas o “bônus demográfico” – fenômeno que ocorre quando um país tem uma quantidade de pessoas em idade economicamente produtiva maior do que a parcela de pessoas em idade não produtiva, como idosos e crianças – ameaça consideravelmente o equilíbrio das contas públicas.
Daí porque insisto na necessidade de se formar desde cedo uma cultura previdenciária que deve, obrigatoriamente, ser associada a uma cultura financeira, para que saibamos digerir o mais rapidamente possível essa nova realidade e, de forma planejada, encontrarmos meios complementares de nos mantermos quando pararmos de trabalhar. Poupança? Tesouro? Imóveis? Tudo isso juntamente com um bom e adequado planejamento previdenciário.
A melhor forma de investir na terceira idade é outra questão cuja discussão não cabe aqui. O que sem dúvida me traz aqui é a urgência de, repito, chamar a atenção do jovem adulto, do adulto em plena atividade para adquirir um novo comportamento financeiro, reservando parte de seus rendimentos, necessariamente, para a terceira idade, com investimento e com organização de suas contribuições junto à Previdência Social. É bom que cuidemos para que seja um tempo de qualidade, de dignidade, de autossuficiência financeira e conforto.
Hallan de Souza Rocha é advogado previdenciarista e tributarista; sócio-fundador do escritório Azzi,Rocha & Santos Advogados Associados; ex-presidente do Instituto Goiano de Direito Previdenciário (IGDP).