Vantagens de morar em microapartamentos para a população 50+ de São Paulo

Microapartamentos: minoria nesse tipo de imóvel, população 50+ de São Paulo vê vantagens em morar em espaços de até 35 m²

O DE conversou com três idosos que optaram por viver em uma residência com até 35m². Decisão vai na contramão de achados de empresa do setor, que apontam maioria de apartamentos pequenos ocupados por jovens.

Studios, flats, quitinetes. Quando os diferentes tipos de microapartamentos são mencionados, a primeira associação feita é com moradores mais jovens.

De acordo com um estudo do QuintoAndar – que ouviu 200 moradores de microapartamentos em São Paulo – pessoas de 21 a 39 anos configuram 74,9% dos moradores de apartamentos de até 35 m².

Já o público de mais de 50 anos é o segundo menor percentual, ainda segundo a pesquisa, com 8%, atrás apenas dos jovens de 18 a 20 anos, que têm 3,4%.

O DE conversou com três moradores idosos de São Paulo que optaram por microapartamentos para entender o que os motivou a morar em situações diferentes das preferências da sua faixa etária.

MORANDO SOZINHO

Irai Sanches, de 61 anos, explica que escolheu a casa atual – um studio de dois cômodos, em Santana, na Zona Norte – depois do seu divórcio, há cerca de quatro anos. Antes, ele morava em uma casa de quatro quartos com a ex-esposa, os três filhos e o cachorro.

“O studio tem o tamanho e [o condomínio,] a infraestrutura que necessito hoje para morar. Tem vaga de garagem, academia, piscina e salão de festa”, revela. “Sem contar que o apartamento é de fácil manutenção.”

A pesquisa do QuintoAndar também revelou que 80% dos moradores de apartamentos com até 35m² são pessoas que moram sozinhas. Contudo, outro estudo da empresa, que ouviu 600 pessoas com mais de 50 anos sobre seus hábitos de moradia, aponta que apenas 15% desse público vive sozinho.

LOCALIZAÇÃO

Apesar de fazer parte dessa pequena parcela da sua faixa etária, Valdezina Miranda, de 74 anos, acredita ser importante estar próxima da família. Por esse motivo, optou por trocar o seu apartamento de três quartos no Tucuruvi, na Zona Norte, por uma quitinete com cerca de 35 m² na Vila Mariana, na Zona Sul, para ficar mais perto dos filhos.

“Eu senti a necessidade de morar perto dos meus filhos”, conta. “Quando eu conheci esse pequeninho aqui, me apaixonei. E também tem tudo próximo, a região é muito boa.”

Os estudos da empresa imobiliária também apontaram que a localização foi citada como o principal diferencial para a escolha de um microapartamento entre pessoas de todas as idades.

ESPAÇO MENOR

Para Marlene da Silva Chibani, de 64 anos, o objetivo era realmente se mudar para um espaço menor. Ela mora em uma quitinete de um quarto em Itaquera, Zona Leste da capital.

“Não preciso de muito espaço e aqui dá menos trabalho”, diz. “Amei morar nesse apartamento menor. No início, a adaptação foi difícil, mas hoje não troco por nada.”

Os outros entrevistados também relatam que se acostumaram rápido com menos cômodos.

“Ele foi feito para mim, tem tudo o que eu preciso”, afirma Valdezina. “A minha família é muito grande, veio da Bahia, e a gente tinha o costume de receber um na casa do outro, mas isso mudou depois da pandemia. Agora, quando as visitas vêm, a gente vai a uma padaria, a um restaurante.”

“No início”, conta Iraí, “senti a mudança porque morava em uma casa grande com minha família. Hoje, tenho um espaço pequeno, mas que supre as minhas necessidades de moradia”.

Durante o processo de mudança, ele comenta que não levou nenhum móvel porque o lugar já era equipado. “Levei apenas roupas e alguns utensílios, o resto ficou com a minha ex-esposa porque os meus filhos foram morar com ela”, conta.

DIFERENÇA PARA A MAIORIA DA FAIXA ETÁRIA

Os três ouvidos pelo DE se diferem da maioria da população 50+. Isso porque, segundo a pesquisa QuintoAndar realizada nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, 68% desse público mora em casas.

Muitos desses, inclusive, afirmaram morar na mesma residência em que criou sua família devido à memória afetiva.

Para Marlene e Valdezina, deixar tanto os imóveis quanto os itens do passado não foi uma tarefa difícil.

“Eu doei muita coisa, dava para montar umas duas casas, mas não me faz falta”, relata Valdezina.

“Comprei tudo novo para esse apartamento e fiz uma doação grande das outras coisas”, diz Marlene. “Apartamento novo, coisas novas.”

VIZINHOS JOVENS

Já que, como aponta o estudo, a maioria dos moradores de microapartamentos é formada por pessoas mais jovens, é inevitável o convívio. O que não parece um problema para os condôminos já idosos.

“Aqui no prédio tem muita gente jovem de cidades próximas que vêm trabalhar por aqui. Um pessoal muito educado”, conta Valdezina.

“Em relação a vizinhos, em todos os lugares vamos encontrar problemas, é só ter entendimento para saber que o ser humano é difícil para lidar, inclusive nisso eu também me incluo”, diz Marlene.

Para Iraí, o bom convívio não depende da idade. “É uma relação boa, tanto com os moradores que têm uma idade parecida com a minha quanto com os mais novos”, diz.

*Sob supervisão de Cíntia Acayaba

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