Venda de documentos falsos inundam as plataformas digitais

Astutos, não atendem ligações e são objetivos. Em poucas palavras descrevem a mercadoria e ainda garantem que é de “qualidade”. Assim são os criminosos responsáveis pelo mercado ilegal de fabricação e venda de documentos falsos pela internet, principalmente pelas redes sociais, consideradas os grandes mercados livres ilegais, onde esse tipo de mercadoria é comercializada livremente.

Para conseguir uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH), um Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou até mesmo uma Cédula de identidade (RG) nova é fácil. Basta ir nas plataformas digitais e fazer uma busca que inúmeros fornecedores aparecem, inclusive, criminosos de Goiânia. O preço é chamativo, uma CNH falsa, em formato PDF, por exemplo, custa R$ 50. Já na forma física (papel moeda), ela sai por R$ 150. O pagamento é feito na hora da entrega, realizada pessoalmente em algum local marcado pelo fabricante.

Porém, a facilidade de conseguir documentos falsos tem os seus riscos. A adolescente Marcella Sonia Gomes do Amaral, de 15 anos, que morreu no último dia 7 após a caminhonete em que ela estava capotar durante um racha, na Avenida T-9, no Setor Marista, em Goiânia, por exemplo, usou um documento “que não era dela” para entrar na boate de onde os jovens saíram momentos antes do acidente. A informação foi confirmada pelo delegado, Thiago Damasceno, responsável pelo caso.

Crime

A prática de venda e compra desse tipo de documento enquadra no crime de falsificação de documento público (CNH, identidade, CPF) – cuja a pena pode variar entre dois a seis anos, além de multa. Porém, quando se trata de documentos privados (cartões de débito e crédito e cartões de identificação), a pena pode chegar a até três anos.

Segundo o delegado da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos (Dercc), Davi Freire, todo sujeito que falsifica ou altera qualquer tipo de documento público verdadeiro pode ser preso, seja esse documento virtual ou físico.

“A utilização da internet e das redes sociais pode gerar uma sensação no criminoso que ele está fazendo aquilo na obscuridade, mas esse tipo de crime como qualquer outro deixa vestígios, deixa a sua identidade, deixa o seu sinal”, explicou o delegado.

Criminosos expõe a prática ilegal na internet (Foto: Reprodução/Facebook)

Conversa

Com exclusividade, o DE conversou com um desses criminosos de Goiânia que se apresentou como Lucas RG. Desconfiado, ele se recusou a falar por a nossa reportagem por telefone. Se passando por cliente, o repórter questionou o homem sobre a qualidade do documento. Em tom de ironia, ele respondeu: “Se você quiser pode ir até na China, onde você quiser, mesmo fora do país”.

Ao insistir em ligações, Lucas RG perdeu a paciência com a nossa reportagem. Ele diz que não atendeu as ligações por não estar disponível e ainda questiona se o repórter possui algum problema. “Cara. Para de ligar, você tem problema? Se não respondi é porque não estou disponível”, exalta. O repórter rebate alegando que ele não quer vender o produto, mas a conversa se encerra.

Confira a conversa completa abaixo:

Repórter: Dia mano! Está tendo os documentos falso aí? Quanto que é?

Lucas RG: Opa! Sim. PDF está R$ 50.

Repórter: Posso usar de boa? Ou tem algum perigo? Sem ser PDF você tem?

Lucas RG: R$ 150 (documento físico). Pode usar.

Repórter: Beleza. Você entrega ou tenho que buscar? Da pra usar fora do país?

Lucas RG: Buscar.

Repórter: Beleza. Onde que é?

Lucas RG: Até na China, onde você quiser. (Fazendo menção a pergunta sobre usar fora do país).

Repórter: Os dados são em nome de outras pessoas, né? Você tem foto ou vídeo para me mandar? Para ver como é? Estou precisando de um RG novo. Então pode me mandar?

Lucas RG: Cara. Para de ligar, você tem problema? Se não respondi é porque não estou disponível.

Repórter: Você não está é querendo ganhar dinheiro. Estou querendo fechar a compra.

Conversa entre repórter e criminoso (Foto: Arquivo pessoal)

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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