A Via Sacra da Rocinha, tradicional encenação da Paixão de Cristo que percorre as ruas da comunidade, enfrenta um desafio inédito em sua história de 33 anos. Pela primeira vez, a falta de recursos impede a realização do espetáculo na Sexta-Feira Santa, uma tradição que estava marcada para mais uma edição neste ano. A interrupção anterior, ocorrida durante a pandemia de Covid-19, foi motivada por recomendações sanitárias de isolamento social para evitar a propagação do vírus.
Aurélio Mesquita, diretor e idealizador da Via Sacra da Rocinha, revelou que o projeto não conta com recursos públicos desde 2015, quando o orçamento estimado era de R$ 209 mil. A partir de então, o financiamento das apresentações passou a depender de parceiros, principalmente pequenos comerciantes locais e do esforço dos próprios moradores da favela que compõem o elenco. Mesquita destacou a dificuldade em obter apoio financeiro, com um custo estimado em R$ 469 mil para a realização do evento.
Apesar dos esforços para buscar patrocínio, incluindo a inscrição na Lei Estadual de Incentivo à Cultura, o projeto não foi contemplado com o apoio necessário. Mesquita relatou que procurou a Secretaria de Cultura do estado, em uma reunião realizada em fevereiro, mas não obteve êxito na busca por investimento público. A falta de ajuda do município também foi mencionada, levando à decisão de cancelar a Via Sacra este ano e planejar uma retomada com melhores condições financeiras no futuro.
A Via Sacra da Rocinha surgiu no final da década de 1980, inspirada em um grupo de teatro que encenava os últimos passos de Jesus Cristo. Com o passar dos anos, o espetáculo se tornou uma tradição na comunidade, percorrendo um percurso de 2,7 km que terminava na Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem. Com mais de cem atores locais, a encenação costumava atrair grande público e representava uma manifestação cultural importante para a favela.
Em 2015, a Via Sacra da Rocinha foi declarada como Patrimônio Cultural e Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro, destacando sua relevância como teatro de rua e expressão cultural da favela. Apesar das dificuldades enfrentadas este ano, a expectativa é que o projeto possa retornar com vigor no futuro, mantendo a qualidade e a tradição que o tornaram uma referência na cidade. A busca por apoio continua, com a esperança de garantir a continuidade deste importante evento para a comunidade da Rocinha.
A falta de recursos que levou ao cancelamento da Via Sacra destaca a importância do apoio financeiro para a manutenção de projetos culturais comunitários. A mobilização da sociedade e das autoridades é fundamental para preservar e valorizar iniciativas como essa, que contribuem para a identidade e o desenvolvimento cultural das comunidades. O desafio atual reforça a necessidade de políticas públicas e parcerias que garantam a continuidade e a sustentabilidade de projetos como a Via Sacra da Rocinha, enriquecendo o cenário cultural da cidade do Rio de Janeiro.