Na manhã de hoje (2), a vereadora Camila Rosa (PSD) de Aparecida de Goiânia chorou após ter seu microfone cortado durante uma discussão sobre cota feminina na sessão plenária com o presidente da Câmara Municipal da cidade, André Fortaleza (MDB). A vereadora irá fazer um boletim de ocorrência (BO).
O desentendimento começou quando Fortaleza rebateu uma postagem feita nas redes sociais da vereadora. O presidente chegou a levar a publicação em um papel impresso. Na legenda do post, Camila diz que usou o espaço de fala na sessão de ontem (1) para “Defender a importância da mulher na política e os direitos das minorias que são rejeitadas e discriminadas na sociedade”, finalizou a legenda com “Não toleramos mais preconceitos! Vou lutar até o fim pela igualdade e o respeito. O espaço político é de todos”.
Nessa mesma publicação, Fortaleza também havia comentado “O que não toleramos mais é esse oportunismo, eu sou contra cotas, mas isso não significa que sou contra a classe feminina. Agora, deixei bem claro que temos que avaliar é o caráter da pessoa independente da sua sexualidade”, escreveu.
Após ler a postagem durante a sessão, o presidente da Casa diz “Não sou contra a classe feminina, sou contra cota, contra oportunismo, ilusionismo. Por mim, não adianta, pode ser mulher, homem, homossexual”. Ele depois cita o comentário de uma seguidora de Camila, a presidente do PSD Mulher de Aparecida de Goiânia, Fabíola Luz, no qual Luz diz que na Câmara da cidade tem um “bando de machistas” e afirma “Eu não sou machista, mas sou contra fakenews e isso aqui para mim é fakenews. Eu nunca vi eu ser preconceituoso e muito menos machista, porque eu falei que sou contra cotas”, diz. Fortaleza continua a fala criticando o fato das mulheres receberem quantia maior do fundo partidário em campanhas políticas.
O presidente da Casa minimiza a situação dizendo que não é machista porque “Nunca votou contra voto de mulher”. Ele continua “Os direitos e deveres devem ser iguais. Se não tem postura e não tem caráter, não importa se é mulher ou homem[…] Não é porque é mulher que tem que sair atropelando todo mundo não”, diz.
Microfone é cortado
Em seguida, a vereadora Camila Rosa pede questão de ordem e diz “Não disse que o senhor era contra cotas. Se o senhor entendeu isso, a carapuça pode ter servido. O senhor sempre fala de caráter, transparência, parece que o senhor tem um problema com isso”, afirma. Nesse momento, Fortaleza interrompe a fala da vereadora e Camila pede por respeito, mesmo que o momento de fala não estivesse com ele.
O bate-boca começa e o presidente retruca “Eu sou o presidente e a senhora vai me respeitar”, imediatamente Fortaleza pede que cortem o microfone da vereadora “Quer fazer circo aqui, você não vai fazer não”, disse. A parlamentar, mesmo com o microfone desligado, continua reclamando da postura do colega. Fortaleza, por sua vez, em tom de deboche indaga “Vereadora, de novo? Não estou entendendo a senhora. Mas aí vou ser acusado de machismo, de autoritarismo… De novo, vereadora? Vai na delegacia e registra um BO se achar que eu cometi um delito. Procure a justiça”.
O presidente então concede a palavra para a parlamentar e ela, chorando, defende a participação de minorias nos espaços de poder e decisão “É isso que fazem com as mulheres na política. É por isso que precisamos procurar nossos direitos. Não é uma questão de correr atrás de cota. A política, desde a sua existência, vem de um espaço machista. No início da política, como eu disse ontem, só podia exercer esse direito os homens brancos e de grande poder aquisitivo. Passado algum tempo, a própria política viu a necessidade de ter uma pluralidade de ideias. É necessário que nos espaços de poder estejam mulheres, negros, índios e pessoas da comunidade LGBT, que representam essas classes que sofrem a dor do preconceito, do racismo. Hoje ainda nós temos que correr atrás de leis”, desabafa.
Desavenças políticas-partidárias
A vereadora afirma que a intenção do post não teve nenhum intuito de atacar Fortaleza e afirma “Agora, o senhor quer me desmoralizar por um motivo que sabemos qual é: o senhor quer atacar o secretário Tatá (Teixeira, de Articulação Política) e está fazendo isso atacando as pessoas que estão do lado dele. Eu não quero estar nessa briga de vocês. Não vem o senhor querer me desmoralizar aqui, eu não vou aceitar isso”, diz.
Fortaleza encerra “Eu não tenho nada contra o secretário Tatá, até isso você está encenando aqui”, nesse momento, Camila rebate “Não estou encenando”. Fortaleza continua “Vereadora, agora a senhora vai me respeitar, não é possível! Só porque a senhora é mulher, a senhora acha que pode interferir na minha palavra?”, questiona o vereador, logo depois de ter feito o mesmo com a parlamentar. Ele encerra “Eu não sou o leva e traz dessa Casa”.
Camila Rosa é a única vereadora dentre os 25 vereadores em exercício na Câmara Municipal de Aparecida. Valéria Pettersen (MDB) foi eleita, mas está afastada do cargo pois assumiu a Secretaria de Relações Institucionais da Prefeitura de Goiânia.
Atendimento médico
De acordo com a assessoria da vereadora Camila Rosa, ela precisou ser atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) logo após o ocorrido. Devido as emoções, sua pressão subiu. Ela foi medicada. Devido ao atendimento médico, não foi possível conversar com a nossa reportagem.
O Diário do Estado tentou contato com o presidente da Câmara André Fortaleza, mas até o momento do fechamento dessa matéria não houve retorno. O espaço segue aberto.
Assista ao vídeo do momento em que Fortaleza pede para cortar o microfone da vereadora Camila Rosa
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