Irmão presenciou morte de baleada na cabeça em casa fuzilada em Costa Barros: ‘Só vê nos filmes’, diz sobrinha
Marli Macedo, de 60 anos, foi baleada na cabeça durante confronto entre facções
rivais; ataque deixou duas pessoas mortas e paralisou serviços públicos na Zona
Norte do Rio.
Costa Barros tem noite de tiroteio e mortes de moradores
Costa Barros tem noite de tiroteio e mortes de moradores
“A gente só vê essas coisas nos filmes”, disse, ainda abalada, Ana Paula
Valentim, sobrinha de Marli Macedo dos Santos, de 60 anos, morta a tiros dentro
da própria casa, em Costa Barros, Zona Norte do Rio.
A residência dela ficou no meio de um confronto entre facções rivais
na manhã desta segunda-feira (27). Segundo a Polícia Militar, a troca de tiros
começou quando traficantes do Complexo do Chapadão, ligados ao Comando Vermelho,
tentaram invadir a Pedreira, território controlado pelo Terceiro Comando Puro
(TCP).
Na fuga, um dos criminosos — armado com dois fuzis — entrou na Comunidade da
Quitanda, parte do Complexo da Pedreira, e se escondeu dentro da casa de Marli,
onde ela morava com o irmão.
Quando foi descoberto por rivais, começou uma intensa troca de tiros. O irmão
viu Marli ser baleada na cabeça e a segurou em seus braços. Ela ainda foi levada
para o hospital, mas não resistiu.
CASA FUZILADA E EXPLOSÃO
1 de 2 Casa de Marli Macedo dos Santos — Foto: Reprodução
A casa foi fuzilada e granadas chegaram a explodir dentro do imóvel. As marcas
ficaram pelas paredes.
> “Não temos como sair da comunidade. Vai sair pra onde? Temos que continuar lá
> e orar pra que ninguém mais seja vítima”, desabafou a sobrinha Ana Paula.
‘A GENTE ACHA QUE NUNCA VAI ACONTECER COM A NOSSA FAMÍLIA’
Em meio ao luto, Rosângela dos Santos Teixeira, outra sobrinha de Marli,
descreveu a dor da família e como era a a tia.
> “A minha tia era mãe, amiga, uma pessoa maravilhosa. A gente acha que nunca
> vai ser na nossa família. Vê na televisão e pensa que é longe, mas tá na nossa
> porta.”
Marli foi levada ao Hospital Albert Schweitzer, mas chegou sem vida.
Ela deixou três filhos e três netos.
OUTRA VÍTIMA: TRABALHADOR MORTO AO SAIR DE UM PAGODE
2 de 2 Marli Macedo dos Santos e Elison Nascimento Vasconcelos — Foto:
Reprodução/TV Globo
Durante o mesmo confronto, Elisson Vasconcelos, de 33 anos, foi baleado no peito
ao sair de um pagode e morreu no local.
> “Meu filho não tinha envolvimento com nada. Meu filho trabalhava em dois
> lugares. Na empresa e, no dia de folga, ele trabalhava de mototáxi. Está uma
> guerra incessante”, disse o pai, Edson Vasconcelos Brum, emocionado.
ESCOLAS E UPA FECHARAM
A violência paralisou a região. Segundo a prefeitura, 22 escolas e 3 unidades de
saúde não abriram nesta segunda.
Na UPA de Costa Barros, funcionários chegaram a se abrigar na sala de raio-X. O
local foi invadido por traficantes justamente no dia da reabertura, após quase
um mês fechado pela violência.
“Tudo o que os profissionais de saúde querem é paz pra trabalhar”, afirmou o
secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
O comandante do 41º BPM (Irajá), tenente-coronel Leandro Maia, disse que a área
é de difícil patrulhamento:
“É uma desordem muito grande, um problema urbanístico. Tem locais em que não
conseguimos entrar com carro. E eles atiram a esmo, acertam moradores.”
VIOLÊNCIA EM ALTA
Dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram o aumento da violência em Costa
Barros. O número de baleados atendidos pela UPA, de janeiro a setembro deste ano, é
quase o dobro do que os atendimentos dos 12 meses de 2024 e quase triplo de 2023.
* 2023: 28
* 2024: 43
* 2025 (até setembro): 78
O aumento dos tiroteios reflete a rotina de medo na comunidade.
> “É uma guerra que saiu do controle do próprio Estado”, resumiu Edson, pai de
> Elisson.




