Vítimas relatam terror vivido em desabamento de rampa no Rap Mix Festival

As vítimas do desabamento da rampa no Rap Mix Festival, no último domingo, 09, relataram para o Diário do Estado sobre o terror que viveram no evento. Todas as pessoas envolvidas compartilham o sentimento de medo e repúdio pela organização.

Maria Eduarda Lamonier foi uma das vítimas que estava na rampa no momento da tragédia. Segundo ela, tudo aconteceu cerca de 23h, logo após o show do Matuê. “Eu, minha namorada e minha prima fomos lá para cima procurar pastel para comprar enquanto meu primo ficou no front guardando lugar. Tinha muita gente até por conta da lotação, mas eu vi que a rampa do meio era a mais rápida que o povo estava andando, então fiquei nela. Estávamos andando quando a rampa ao lado caiu, onde minha amiga estava. Quem estava no meio não conseguia se mexer, tinha muita gente correndo e muita gente gritando”, conta, complementando que “o cara do lado estava com a perna virada e parece que via em câmera lenta”.

Ela disse ainda que estava tudo tremendo e o medo de as outras rampas caírem era constante. “Tinha alguém do meu lado gritando ‘não corre se não vai cair aqui também’. Acho que foi um minuto até eu chegar na arquibancada, e um minuto muito longo. Eu perdi da minha namorada e da minha prima e vi minha amiga no buraco caída”, disse.

Lamonier conta ainda que não havia segurança para controlar a situação. “Não tinha um segurança, um nada. O cara [organização] não é leigo, ele é dono do Villa Mix, maior festival de Goiás. Não era o primeiro show dele, não era um teste. Ele coloca o trem ao vivo no multishow e não tem segurança nenhuma?”.

A amiga a qual Maria Eduarda se referia era Eduarda Muniz, vítima que fraturou a coluna e está internada no Hospital de Urgências de Goiás (Hugo). A madrasta da jovem deu uma entrevista para o jornal dizendo que elas estavam na rampa quando tudo aconteceu. “Minha enteada caiu sentada e fraturou a coluna L1, uma fratura média que requer cuidados. Ela está fazendo exames para ver se vai precisar de procedimento cirúrgico ou se apenas um colete resolve”.

A madrasta de Eduarda disse que faltou responsabilidade do evento para fornecer um melhor tratamento para as vítimas. “Lá tem uma comunicação mínima. Ela está com acompanhante porque é uma fratura de coluna, ela não pode nem virar de lado, ela tem que ficar o tempo todo deitada reta, com sonda. Poderia ter sido feita uma transferência para ela para um hospital particular, eles deveriam arcar com esse tratamento. No momento ela está sem plano de saúde, então não conseguimos fazer esse procedimento. Eles falharam muito nesse ponto”, disse.

“Pessoal começou a cair”

No momento do desabamento, Marcos Carrijo estava com sua esposa, Anna. Ele relata que o casal estava indo para o banheiro de cima, uma vez que o de baixo não tinha onde lavar as mãos e tinham homens no banheiro feminino. “Um pouco depois de entrar na rampa, vi que o pessoal começou a cair e meio que tentei segurar, mas não deu tempo. Só que eu estava um pouco atrás e a Anna estava na minha frente e eu não consegui segurá-la, aí caímos. Ficou um desespero”, afirmou a vítima.

Marcos diz ainda que segurou a estrutura para não cair na esposa. “Minha única lesão foi no tornozelo que eu torci e caiu um ferro na minha cabeça, ela estava com bastante dor e em choque. Eu não consegui acalmar ela e nem ela me ouvia. Eu falei ‘vamos sair de baixo, pula aí para a outra rampa’, aí eu a joguei para o outro lado e saí. Nisso, eu já vi sangue e não sabia se era da cabeça que bati ou dela”.

Anna esfolou o peito, a barriga e a perna, além de ter ficado com o olho roxo. Eles contam que não tinha ninguém prestando socorro às vítimas no momento. “Fomos para um ponto de atendimento correndo, porque ela estava sangrando e não sabíamos a gravidade. Atenderam a gente, mas muito mal. Ainda tive uma confusão com o segurança porque peguei o celular para ligar para os bombeiros e ele achou que eu estava filmando”.

A mulher conta que ficou em choque e sem entender o que estava acontecendo. Ela reforça o mal atendimento no ponto de atendimento do evento. “Eles olharam meu machucado, fizeram uma limpeza com soro e foi só isso. Depois saímos do estádio e encontramos a cavalaria, pedimos ajuda também e de lá fui para uma ambulância que estava próxima, e apenas enfaixaram minha costela”, relata.

Antes do desabamento

Maria Eduarda contou que essa não foi a única experiência ruim que teve durante o show. Segundo ela, por volta de 17h, ela estava com a namorada e um casal de primos próximo ao banheiro feminino e ao bar. “Eu queria muito ver o show do Teto, então decidimos não assistir ao show do Caveirinha de perto e já ir em direção do palco sul. Lá estava mais vazio, e aquele era o momento de aproveitar para pegar bebida e ir ao banheiro”, disse.

Esses foram os minutos que antecederam o primeiro pesadelo da noite da jovem, mas tudo aconteceu no caminho para o banheiro. “Eu, minha namorada e meu primo fomos até o banheiro, mas o palco sul, onde estávamos, ficava bem perto do banheiro feminino. Quando fomos chegando mais próximo estava impossível de andar, eu fui arrastada”, relatou.

De acordo com Maria Eduarda, a lotação na área aconteceu devido a invasão do frontstage que aconteceu durante o show do Hungria. Ela disse que a falta de segurança permitiu que tudo virasse uma bagunça. “Isso me pegou muito porque pagamos mais caro para estar no front e era open e todo vídeo que saiu dá para ver claramente que eram muitas pessoas entrando por minuto e não tinha nenhum segurança perto para impedir, tanto que derrubaram a barreira e correram”.

Quando Maria Eduarda tentava chegar ao banheiro, ela conta que o pé dela saiu do chão e que ela tentava segurar na mão do primo e da namorada. “Eu estava sem ar, achei que iria cair e ser pisoteada, porque antes do banheiro tinha uma diferença de degrau entre o chão. Eu sei disso porque já tinha ido antes, então pensei ‘pronto, estou sem triscar no chão, chegar lá vou cair e ser pisoteada’. Quase desmaiei pois não respirava, mas meu primo me tirou de lá me puxando. Quando me colocou no chão de grama em frente aos banheiros, ele não podia entrar porque estavam dando choque em homens lá dentro”, contou a vítima.

 

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Ponte TO-MA: Agência irá avaliar qualidade da água de rio após queda de ponte

A Agência Nacional de Águas (ANA) anunciou nesta terça-feira, 24, que está avaliando a qualidade da água no Rio Tocantins, na área onde desabou a ponte Juscelino Kubitschek, entre os municípios de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA). Essa medida se justifica devido à informação de que alguns dos caminhões que caíram no rio após a queda da ponte carregavam pesticidas e outros compostos químicos.

O foco das análises está no abastecimento de água a jusante (rio abaixo) a partir do local do acidente. A ANA, em conjunto com a Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão, vai determinar os parâmetros básicos de qualidade da água e coletar amostras para as análises ambulatoriais. O objetivo é detectar os principais princípios ativos dos pesticidas potencialmente lançados na coluna d’água do rio Tocantins.

As notas fiscais dos caminhões envolvidos no desabamento apontam quantidades consideráveis de defensivos agrícolas e ácido sulfúrico na carga dos veículos acidentados. No entanto, ainda não há informações sobre o rompimento efetivo das embalagens, que, em função do acondicionamento da carga, podem ter permanecido intactas.

Devido à natureza tóxica das cargas, no domingo e segunda-feira, 23, não foi possível recorrer ao trabalho dos mergulhadores para as buscas submersas no rio. O Corpo de Bombeiros do Maranhão confirmou nesta terça-feira, 24, a morte de quatro pessoas (três mulheres e um homem) e o desaparecimento, até o momento, de 13 pessoas.

Sala de crise

Na quinta-feira, 26, está prevista a reunião da sala de crise para acompanhamento dos impactos sobre os usos múltiplos da água decorrentes do desabamento da ponte sobre o rio Tocantins. Além da própria ANA, outros órgãos participam da sala de crise, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Ministério da Saúde.

O Dnit está com técnicos no local avaliando a situação para descobrir as possíveis causas do acidente. Segundo o órgão, o desabamento foi resultado porque o vão central da ponte cedeu.

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