Viviane Batidão adapta estilo do tecnomelody em novo disco ‘É Sal’ para padrão nacional: lançamento nesta quarta-feira

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Como Viviane Batidão, rainha do tecnomelody, adapta estilo para ‘padrão nacional’ em novo disco

Com lançamento nesta quarta-feira (29), o álbum ‘É sal’ é um marco na carreira
da cantora que é a grande voz das aparelhagens paraenses.

Viviane Batidão explica diferença entre compor para o Pará e compor para o
Brasil

Viviane Batidão DE
tem mais de duas décadas de carreira e é considerada a rainha do tecnomelody. Só
agora, porém, lança seu primeiro álbum de estúdio: “É sal”, que chega às
plataformas nesta quarta-feira (29). O disco reflete o interesse da cantora em
emplacar hits para além do estado do Pará, onde seu reinado não depende de
números de streaming.

“Sempre tive vontade de fazer álbum, mas nunca tive a necessidade, porque aqui a
gente fomenta nossa música de forma diferente”, afirma a artista em entrevista
ao DE. “Por causa dessa falta de inclusão com nossa
musicalidade, criamos nosso próprio modo de reverberar música.”

Ela se refere à cultura das aparelhagens
famosas festas paraenses em que há paredões de som (enormes) tocando brega
regional, como o tecnomelody
estilo eletrônico com pegada romântica, letras melosas e sintetizadores com
batidas que vão do pop ao forró.

Viviane explica que “a galera do tecnomelody” nunca tinha se preocupado em
gravar álbuns, mas, nos últimos anos, o estilo começou a se expandir
nacionalmente. Daí, a situação mudou.

“A gente sempre fez música só para aparelhagem. Tipo ‘mando, toca e reverbera’.
Até para subir em plataforma é algo recente. Antes, nossas plataformas eram só
YouTube, 4Shared e algumas plataformas dos próprios DJs.”

Fazer sucesso nas aparelhagens não tem a ver, necessariamente, com bombar no
Spotify, principal streaming de música do país. Muitas vezes, o artista vira
fenômeno no Pará, mas demora ter fama de dimensão nacional. É o caso da Viviane.

HIT DE APARELHAGEM

A cantora Viviane Batidão — Foto: Alle Peixoto

Foi nos anos 2000 que ela começou a fazer sucesso nos rolês de aparelhagem, mais
especificamente em 2007, quando lançou “Vem Meu Amor”. Em pouco tempo, a música
virou hit na região.

Três anos depois, a canção voltou a bombar, mas dessa vez em todo Brasil. Um tal
de Mike do Mosqueiro viralizou com um vídeo em que canta o hit — talvez, você se
lembre dele como “o homem do ‘xa na na, xa na na’”, pela forma empolgada que ele
repete os versos no vídeo.

A repercussão foi tanta que Viviane foi convidada para o “Domingão do Faustão”.
Mesmo assim, sua carreira só começou a deslanchar nacionalmente em 2019, com o
sucesso “Olha Bem Para Mim”, que faz uma divertida releitura de “Lost On You”,
da americana LP.

Isso não significa, porém, que a fama da cantora tenha sido inexpressiva antes
de “Olha Bem Para Mim”. Pelo contrário. Desde o fim dos anos 2010, ela é o
grande nome das aparelhagens.

Coroada como rainha do tecnomelody, a cantora bombou no Pará com hits como
“Galera da Golada”, “Grito Seu Nome” e “Eu te Venero”, que faz referência a
“Umbrella”, de Rihanna.

PLAY SEM DINHEIRO

Álbum ‘É Sal’, da cantora Viviane Batidão — Foto: Alle Peixoto

Além da participação em programas de TV, outra maneira que Viviane encontrou de
tentar nacionalizar sua carreira foi colocando suas músicas no streaming, em
2017. Mas ela conta que a ideia acabou dando dor de cabeça, na verdade.

“Como disse, nosso sucesso não é através de aplicativo de música. É pela
aparelhagem”, reforça a antes de explicar como passou anos sem saber do direito
de remuneração artística em plataformas.

“Quando veio o auge do Spotify no Brasil, não era todo mundo que conseguia ter
isso. Mas um dia, um amigo me disse: ‘Consegui subir suas músicas no Spotify’.
Eu vibrei, foi uma felicidade muito grande. Eu mandava as músicas, e ele
subia. Foi assim por três anos. Ele nunca me falou que se ganhava dinheiro por
isso.”

A artista diz que, após descobrir que havia sido enganada, ela confrontou o
golpista, que teria demorado meses até devolver seus dados de acesso ao perfil.
Ela afirma ainda que chegou a acionar advogados, mas acabou desistindo de levar
o caso à Justiça.

“Outros artistas daqui também foram roubados desse jeito, enganados por falta de
informação”, continua. “Nesse universo musical [da aparelhagem], a gente tava
acostumado a ganhar dinheiro somente através de show e venda de música.”

PADRÃO NACIONAL

As cantoras Viviane Batidão e Pocah — Foto: Divulgação

“Nós, do brega paraense, produzimos música eletrônica pop da Amazônia”, afirma
Viviane. “O Brasil precisa se permitir a ouvir, conhecer mais o que ele mesmo
tem.”

Ela reconhece, contudo, que houve uma popularização da música paraense nos
últimos anos. Seja por Pabllo Vittar em “Batidão tropical 2”, ou Gaby Amarantos
em “Rock Doido”, estilos como tecnomelody e tecnobrega vêm ganhando destaque no
país.

Primeiro álbum de estúdio de Viviane, “É Sal” é um marco em sua carreira. Com
nove faixas inéditas, o disco adapta a experiência sensorial das aparelhagens
à audição de fones de ouvido.

A cantora conta que, por isso, ficou com medo de se afastar muito da essência do
tecnomelody, mas diz ter tido “todo cuidado” na produção. Seu desejo com o disco
é “entregar a qualidade que o padrão nacional pede”, mas sem tirar a essência do
som que a tornou a diva das aparelhagens.

Entre as adaptações que fez, Viviane cita a masterização — processo que “refina”
uma faixa após sua etapa de mixagem, que basicamente é a união e o ajuste de
cada sonzinho que compõe a canção.

“Eu e meus produtores não sabíamos nem o que era masterizar. A gente só mixava e
mandava para os nossos DJs tocarem, né?”, conta rindo. “Quando se masteriza uma
música, ela acaba que seguindo um padrão: algumas coisas abaixam, outras
aumentam, outras destacam, outras apagam… E o álbum foi masterizado para
chegar na nossa sonoridade.”

“Meu produtor relutou um pouco com o volume do contrabaixo, que no tecnomelody
é peculiar porque é muito alto, quase que solado. [Eu reforcei que esse] é um
‘álbum nacional’ porque vai reverberar nacionalmente, mas continua sendo para
cá”, explica.

“Meus DJs, que trabalham comigo desde o início da carreira, foram os ‘filtros
finais’ de tudo”, diz ela, ao prometer que “todas as músicas do álbum são
tecnomelody fiéis” — com exceção de “Só no Pará”, que tem uma pegada mais
cadenciada.

O álbum traz feats com Suanny Batidão, Priscilla Senna, Japinha e Pocah. Em
“Mulher Gostosa”, Viviane e Pocah cantam o chamado rock doido, estilo paraense
que reúne influências do funk ao tecnomelody.

“O funk, assim como nossa música, é eletrônica, periférica e marginalizado”,
compara a cantora. “O Brasil precisa ouvir o que a gente produz, porque a gente
já ouve e acolhe o que o Brasil produz.”

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