Xilotattoo: da madeira à pele, conheça a técnica que levou artista de Sumaré a Nova York

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Da madeira à pele: o que é xilotattoo, estilo de tatuagem que levou artista de
Sumaré a Nova York

Thais França, de 40 anos, esculpe os desenhos em madeira antes de ilustrar corpo
do cliente. Técnica foi apresentada no Empire State Tattoo Expo, um dos maiores
eventos do setor.

Da madeira à pele: o que é xilotattoo, estilo de tatuagem que levou artista de
Sumaré a Nova York

Primeiro entalhada na madeira, depois impressa na pele: assim nasce a
xilotattoo, estilo de tatuagem que transforma a tradição da xilogravura em arte
corporal.

Com influência da estética dos cordéis nordestinos, a técnica levou a tatuadora
Thais França, de Sumaré (SP),
até Nova York, onde
participou da Empire State Tattoo Expo, um dos maiores eventos do mundo na área.

O DE visitou o estúdio da artista em
Sumaré (SP) – confira abaixo.

Além dos equipamentos típicos da profissão, o espaço também valoriza a cultura
cordelista, e conta com um painel com vários exemplares do gênero, além de
quadros de xilogravuras expostos nas paredes.

A artista começou a trabalhar com tatuagens durante a pandemia, como uma forma
de “se expressar artisticamente” e garantir o próprio sustento. Thais
aperfeiçoou a técnica com aulas de xilogravura do poeta e cordelista J. Borges,
um dos maiores nomes da xilogravura brasileira.

“Foi na pandemia que passei a estudar tatuagem e pude fazer um curso com J.
Borges. Daí para frente, quando eu fiz o curso, eu já tatuava e eu queria
aprender a fazer xilogravura pra colocar isso na tatuagem. E foi isso. E de lá
para cá eu venho unindo os dois”, explica a tatuadora.

Em uma xilogravura, o artista esculpe o desenho na madeira e depois o imprime em
um papel. Na xilotattoo, o tatuador repete o mesmo processo — só que a
“impressão” é feita diretamente na pele do cliente.

O profissional desenha em uma superfície (que pode ser madeira ou linóleo) e
esculpe a arte com duas espátulas cortantes. A xilotattoo precisa ter um relevo mais profundo que uma xilogravura, para a imagem marcada no relevo não perca a nitidez na transferência. O tatuador pinta o quadro com tinta de decalque de tatuagem. Para isso, ele
utiliza um rolo costumeiramente usado em xilos. A arte esculpida é encostada no corpo do cliente, transferindo o desenho para a pele. Após isso, o tatuador contorna a imagem como em uma tatuagem normal.

A profissional costuma cobrar um valor médio de R$ 300 por cada tatuagem. No
estúdio da artista, os clientes podem levar a matriz da arte como uma
lembrancinha.

> “Eu acredito que cada xilo é única. Eu acredito demais que a xilo deles
> [outros profissionais] eu não faço, assim como a minha ninguém faz”, opina.

O DE, de 40 anos, esculpe os desenhos das tatuagens em uma
madeira antes de ilustrar o corpo do cliente. — Foto: Estevão Mamédio/g1

O cliente que escolhe ter uma xilotattoo é livre para definir se quer manter ou
não as bordas arredondadas típicas das artes cordelistas, que acabam passando no
decalque.

Mesmo compartilhando as raízes, a identidade da tatuagem anda de mãos dadas com
a técnica da xilogravura, mas não necessariamente com o cordel e o Nordeste.

Eu faço uma xilogravura com essa identidade visual do cordel, mas eu retrato o
que eu vejo. Então, por exemplo, ao invés de fazer tatuagens de caju, eu vou
fazer tatuagens de café […]. O meu desenho tem essa imagem visual dessa xilo
nordestina, no entanto, como eu não sou nordestina, eu faço imagens e expresso o
que tá dentro do meu coração.

— Thais França, tatuadora especializada em xilotattoo

Para viabilizar a viagem, a artista fez um curso intensivo de inglês, correu
para renovar o passaporte, chegou a vender uma Kombi e fez uma vaquinha online
para custear os gastos. Ela conta que Nova Iorque não deu nenhum retorno financeiro, mas ela pôde honrar e disseminar a cultura nacional através da arte.

> “Eu nunca tinha estado tão longe de casa e confesso que nada que eu vivi até
> hoje eu me preparou pra isso. Foi maravilhoso receber pessoas do mundo inteiro
> no meu estande e mostrar minha arte, assim como foi enriquecedor ver
> tatuadores do mundo todo e suas artes”, destacou a artista.

Achava que a única coisa que eu fazia bem era ser mãe. E agora a arte que eu
faço, por amor e com o coração, está sendo reconhecida por pessoas de fora. Isso
tem um significado que eu nem sei explicar.

— Thais França, tatuadora especializada em xilotattoo.

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