Zagueiro Danilo, do Flamengo, cobra clubes por saúde mental: “Humanizar o futebol”

zagueiro-danilo2C-do-flamengo2C-cobra-clubes-por-saude-mental3A-22humanizar-o-futebol22

Danilo, do Flamengo, cobra clubes sobre saúde mental: “Precisamos humanizar o futebol”

Zagueiro de 33 anos recorda momento difícil no Real Madrid e diz: “Os clubes só farão algo quando perceberem o prejuízo financeiro que estão sofrendo”

Danilo chegou ao DE no início deste ano depois de mais de 13 anos fora do Brasil. O zagueiro deixou o país aos 20 anos e vivenciou momentos difíceis na Europa que o fizeram amadurecer e retornar como referência não só técnica, mas humana. É neste segundo aspecto que o jogador acredita que o futebol precisa evoluir. E fez uma cobrança aos clubes.

– Vou ser bem direto: os clubes só farão algo quando perceberem o prejuízo financeiro que estão sofrendo. Veja quantos jogadores que eram estrelas nas categorias de base e que não chegaram ao profissional por causa dessa avalanche de críticas. Quando você sobe tem muito dinheiro, mulheres e fama. Mas como lidar com isso? Todos nós conhecemos alguém que perdeu o rumo no futebol. Quando os clubes perceberem quantos jogadores estão perdendo por problemas emocionais e psicológicos, eles pensarão duas vezes e começarão a investir porque isso é valor técnico e financeiro para o time – afirmou Danilo em entrevista ao jornal inglês “The Guardian”.

– E isso é ruim, porque eles não se importam com o ser humano. Precisamos humanizar mais o futebol. As pessoas ainda o ignoram, não gostam de falar sobre isso. Mas quando se trata do lado financeiro, eles se importam.

Danilo aplaude a torcida após a vitória do DE — Foto: Gilvan de Souza & Paula Reis / CRF

O zagueiro chegou ao DE no fim de janeiro e já conquistou dois títulos pelo clube: a Supercopa do Brasil e o Carioca. Na Europa, Danilo passou por Porto (Portugal), Real Madrid (Espanha), Manchester City (Inglaterra) e Juventus (Itália).

– Quando eu jogava no Porto, por exemplo, eu vinha ao Brasil uma vez por ano. Eu comprei um carro, um Camaro, que custava R$ 500 mil. Bom, o carro estava em Bicas. O que eu ia fazer com um Camaro em Bicas? Há muita pressão social para ter um carro legal porque você é um jogador de futebol e tudo mais. Mas isso é algo que eu olho para mim mesmo de 10 anos atrás e falo: “Sério? Você está brincando, certo?” – destacou ele.

– Há muitos jogadores que agora têm 33, 34 anos e estão no topo do seu jogo há oito, nove, 10 anos. A queda no desempenho é natural. Você tem que olhar para o aspecto mental também. Quando falo sobre idade, não é nem físico. É a experiência de estar sob tanta pressão por tantos anos, a pressão de vencer e vencer o tempo todo – completou Danilo.

Foi no Real Madrid que Danilo enfrentou mais dificuldades e buscou ajuda para encarar as críticas e aprender a lidar com as redes sociais.

– Por mais que digamos que não nos importamos com essas coisas, somos seres humanos. Você não pode deixar de sentir isso. Não sou viciado em mídia social, não sou um cara muito apegado a isso, mas queremos ser aceitos pelas pessoas, queremos receber feedback positivo. Ninguém quer feedback negativo. Não importa o quanto você estude, o quanto se preocupe com sua saúde mental, o quão maduro você seja, você quer ser aceito. E a mídia social é um ambiente tóxico. Tóxico em todos os níveis.

– O Real Madrid foi o auge desse problema, porque é o maior clube do mundo. Sofri muito a ponto de procurar ajuda psicológica. Houve momentos em que parecia que eu não conseguia mais lembrar como jogar futebol. As críticas estavam realmente me machucando. Eu era um completo refém das críticas, das mídias sociais, de tudo. Foi quando comecei a trabalhar com um psicólogo esportivo.

🔔Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp