Zolgensma: terapia gênica de R$ 457 milhões para AME tipo I no Brasil. Saúde pública ainda aguarda disponibilidade.

Zolgensma, a terapia gênica que custou R$ 457 milhões ao governo Lula

Indisponível no SUS, o Zolgensma trata a AME tipo I agindo no DNA. Ministério da Saúde atrasa o fornecimento dele há 1 ano e 6 meses

Uma das terapias gênicas mais caras do mundo, o Zolgensma (onasemnogeno abeparvoveque) trata a Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 1. É o único tratamento do tipo que age diretamente no DNA, capaz de repará-lo e criar uma cópia funcional. Noutras palavras, injeta-se o gene no corpo por meio de uma cápsula de vírus modificada em laboratório.

Como a coluna revelou, o governo Lula já gastou R$ 457 milhões para fornecer o Zolgensma por vias judiciais. Ao todo, o governo federal desembolsou R$ 305 milhões em 2023, com 64 ações judiciais em 12 estados e no Distrito Federal. Mais R$ 152 milhões saíram dos cofres em 2024, com 41 processos em nove estados e na capital federal.

A terapia deveria estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) há um ano e meio, mas a atual gestão descumpre portaria publicada no fim do governo Bolsonaro e, por isso, as famílias dos pacientes precisam processar a União para garantir o Zolgensma.

O tratamento, considerado pioneiro, foi desenvolvido por engenharia genética pela Novartis. Na AME, falta um gene (ou se apresenta de modo anormal) fundamental para produzir uma proteína essencial. Sem ele, há morte dos neurônios motores, que controlam os músculos, que passam a ficar enfraquecidos e atrofiados. Também causa fraqueza e perda de movimento progressiva.

A terapia gênica é aplicada em dose única, na versão intravenosa. A quantidade aplicada depende do peso do paciente.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu aval ao uso da terapia gênica no Brasil em 2020. Dois anos depois, o Zolgensma passou pelo crivo da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), do Ministério da Saúde, que recomendou a inclusão dele na rede pública. A pasta acatou a orientação em dezembro de 2022. As diretrizes do SUS, de acordo com o anúncio oficial da época, definiam que bebês com AME tipo I de até 6 meses e fora da ventilação invasiva por mais de 16 horas diárias poderiam ser contemplados.

A partir de então, a Saúde tinha 180 dias para publicar o Protocolo de Tratamento e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) – documento que norteia o cuidado com o paciente – e disponibilizar a terapia gênica aos pacientes na rede pública. O prazo, que foi definido pela Lei 12.401/2011 e pelo decreto 7.646/2011, não se concretizou. Essa terapia gênica da Novartis deveria estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 4 de junho do ano passado, mas ainda não é ofertada aos pacientes. A espera das famílias pelo Zolgensma, portanto, já soma quase 1 ano e 6 meses no SUS até esta segunda-feira (2/12).

A AME é uma doença genética rara, degenerativa, progressiva e hereditária que acomete células nervosas da medula espinhal e do cérebro. A doença se divide entre os tipos I (mais grave, afeta bebês), II (aparece em crianças de até 10 anos) e III (surge na adolescência e na vida adulta). Estima-se que a AME acometa 1 em cada 10 mil pessoas.

Dessa forma, a União não precisará arcar com os custos do Zolgensma em caso de morte ou de piora. Os termos do acordo ainda estão em debate. Os requisitos do SUS também valem para os planos de saúde. O Zolgensma entrou para o rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em fevereiro de 2023. Desde então, os planos de saúde são obrigados a custeá-lo, o que gerou uma discussão no setor. O prazo das operadoras é menor que o da rede pública, uma vez que a Lei 14.307/2022 estabelece que os planos têm até 60 dias para incluir um tratamento recomendado pela Conitec e, posteriormente, incorporado pela Saúde.

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Processo ético contra ex-secretários de Haddad por atuação em escritório de apostas

Órgão da Presidência avança contra ex-secretários de Haddad

Comissão de Ética Púbica viu indícios de falta ética por parte de dois ex-secretários da Fazenda que agora trabalham para as bets

A Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República apontou indícios de que os ex-secretários do Ministério da Fazenda José Francisco Manssur (foto em destaque) e Simone Vicentini descumpriram a lei de conflito de interesses ao deixarem a pasta para trabalharem em um escritório de advocacia que atende empresas de apostas esportivas, as chamadas bets, sem comunicar devidamente o órgão colegiado.

Em decisão unânime proferida no dia 25/11, a CEP decidiu abrir um processo ético preliminar sobre o caso dos ex-secretários. Em outras palavras, a Comissão entendeu haver elementos que indicam falta ética por parte dos advogados e, por isso, vão ouvi-los novamente.

“Tal omissão refere-se, nesse caso particular, à ausência de comunicação à Comissão de Ética Pública (CEP) sobre a área de atuação no escritório CSMV Advogados, bem como à falta de encaminhamento adequado da proposta de trabalho, obrigação que não foi devidamente observada”, avaliou o órgão colegiado.

Em nota, os dois advogados negam irregularidades e ressaltam que jamais esconderam informações da CEP. Leia a íntegra da manifestação ao fim desta reportagem.

Manssur foi assessor especial da secretaria executiva DE Fazenda, entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2024, e esteve à frente DE todo o processo DE formalização e taxação DAS bets DE país. Ele deixou a pasta a pedido, em meio a disputas pelo cargo. Três meses depois, em junho deste ano, foi anunciado como o mais novo sócio do CSMV Advogados, passando a coordenar a área DE “betting” do escritório.

Já Vicentini foi nomeada, em 1º de março de 2023, coordenadora-geral DE Apostas da Subsecretaria DE Regulação e Concorrência da Secretaria DE Reformas Econômicas DO Ministério da Fazenda. Já entre 20 DE fevereiro e 2 DE maio deste ano, atuou como secretária-adjunta da Secretaria DE Apostas Esportivas na pasta comandada por Fernando Haddad. Dois meses após deixar a Fazenda, ela foi anunciada como coordenadora DE betting do CSMV Advogados, atuando junto a Manssur.

Ao deixarem OS postos, ambos procuraram a Comissão DE Ética, conforme prevê a legislação, mas não informaram o nome do escritório que iriam atuar, uma vez que, segundo eles, ainda não haviam recebido propostas. Dessa maneira, conseguiram o aval do órgão colegiado e não precisaram cumprir o período DE quarentena, medida adotada para evitar eventual conflito DE interesse.

No entanto, após receberam a proposta DO escritório, eles não teriam comunicado devidamente a Comissão DE Ética. Manssur afirma que “ligou” para o órgão colegiado e que, na ocasião, teria sido informado que não precisaria comunicar nada. Vicentini enviou um e-mail dizendo ter recebido proposta DO escritório, mas omitiu, segundo o despacho DA CEP, obtido pela coluna, DE que iria atuar na área DE betting.

“Ressalte-se que, nos registros formais desta Comissão, não há indicação DE nova consulta apresentada pelo consulente [Francisco Manssur] acerca DE propostas DE trabalho ou situações configuradoras DE conflito DE interesses no período em questão. Eventual comunicação realizada por meio DE telefonema não é considerada meio idôneo para o fiel cumprimento DOS termos estabelecidos na decisão DA Comissão de Ética Pública, haja vista a inadequação desse procedimento para a instauração formal de consulta e a ausência DE informações detalhadas e documentadas sobre a proposta DE atuação junto ao escritório CSMV Advogados, sem registro comprobatório DA referida proposta”, escreveu a relatora Caroline Proner.

“De fato, a consulente [Simone Vicentini], por meio do e-mail datado DE 13 DE julho DE 2024, comunicou que pretendia aceitar proposta DE trabalho DO escritório de advocacia, entretanto, não informou em qual área do escritório atuaria, tampouco encaminhou formalmente a proposta DE trabalho DO escritório”, destacou, por sua vez, o conselheiro Edvaldo Nilo DE Almeida, que é o relator do processo DA ex-secretária.

Procurado, o escritório CSMV Advogados enviou a seguinte nota, por meio DE assessoria:

“Os advogados José Francisco Manssur e Simone Vicentini reafirmam a posição DE que jamais esconderam suas contratações para comandar o departamento DE betting pelo escritório de advocacia, visto que o fato foi publicado nas redes sociais DELES e do escritório e informado por telefone à CEP, no caso DE Manssur, e por email, no caso DE Simone. A decisão do Comissão de Ética não enxergou nenhuma atitude DOS advogados que pudesse configurar qualquer tipo de dano ao erário público ou DE conflito DE interesses.”

À coluna, Vicentini negou que teve acesso a informação privilegiada no período em que esteve à frente da SPA. “Trabalhei no serviço público por mais DE 20 anos, sempre pautada na ética e na legalidade, nunca sofri qualquer tipo de investigação ou punição, não sou filiada a partido político e sempre desempenhei atividade técnica”, acrescentou.

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