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63% dos brasileiros são comprometidos, mas mercado se adapta e inclui solteiros

Última atualização 12/06/2023 | 08:17

O dia dos Namorados chegou para boa parte dos brasileiros. Uma pesquisa indica que 63% das população está em um relacionamento, seja namorando ou casada. A data gera bastante repercussão no comércio e na mente das pessoas. A modernidade trouxe novas questões para os apaixonados, como novos modelos de amor, e para o mercado interessado em incluir o número cada vez maior de solteiros. O tradicional casamento, no entanto, continua em alta mesmo com menos tempo de duração.

Em Goiás, os casamentos duram 12,4 anos, ficando abaixo da média nacional, de 13,8 anos. A estimativa faz com que os goianos ocupem a sexta posição em um ranking nacional de uniões menos duradouras, de acordo com o Colégio Notarial do Brasil (CNB). O estado com mais casais separados após pouca convivência é Tocantins, seguido dos cônjuges de Mato Grosso, Espírito Santo, Amazonas e São Paulo.

As estatísticas nada otimistas não assustam o casal formado pela esteticista Maria Letícia Lemos e pelo assistente administrativo Ariel Abrantes. Eles namoram há três anos e decidiram oficializar a união no início do próximo ano. O noivo reconhece que precisou enfrentar dilemas internos e vencer a influência dos amigos que insistem em dizer que a vida de solteiro é melhor que a de casado.

“Meus pais são casados há quase 35 anos. Eles lidam com dificuldades financeiras e de saúde e tiveram quatro filhos. Apesar de tudo isso, eu tenho na lembrança momentos de amor e alegria deles. Nenhum deles se arrepende do casamento ou faria diferente. Eu quero experimentar a mesma coisa e encontrei alguém que pensa e deseja como eu. Isso é uma bênção ainda mais hoje em dia”, pontua.

O ponto de vista de Ariel ainda é o mesmo de muitas mulheres. No entanto, o sonho de se casar já não é um “vale tudo”. Com a força do feminismo, muitas mulheres decidiram impor condições para se manterem ao lado de um parceiro (a). Assumir a responsabilidade de casa e dos filhos sozinha é coisa do passado. O lema é literalmente compartilhar a vida. As tentativas frustradas de suprir as expectativas pessoais durante a parceria, especialmente se comprometer outras áreas, como profissionais, não ficam mais embaixo do tapete. A separação e divórcio são a primeira e mais rápida opção para voltar a ser feliz.

A psicoterapeuta Vanessa Vilela afirma que discutir esses e outros pontos antes de as pessoas se casarem faz com que o matrimônio seja sólido desde o início. Ela explica que partilhar a vida é uma oportunidade para engrandecimento pessoal. De acordo com a especialista, o mundo mais individualista, a ilusão de que alguém sozinho consegue tudo  e a própria Internet contribuem para que as relações sejam mais descartáveis.

“Nas relações íntimas, de casal, o outro se torna um espelho de mim de forma que posso olhar para as minhas dificuldades e ajudar o outro nas dificuldades dele. Às vezes trocamos de parceiro, de casamento e sempre errando no mesmo ponto, seja por medo ou falta de consciência, repetindo padrões. Precisamos aprender a viver em vez de postar e olhar para o ‘de fora’ “, destacou em entrevista ao DE em outubro do ano passado.

Caminhada 

Muitos ex acabam percebendo que a solitude é mais fiel e até prazerosa. Os traumas vividos por si mesmo e por pessoas próximas ajudam a alavancar o número de solteiros convictos. Em alguns casos, esse grupo é ainda mais determinado quando se trata de não ter filhos. As mulheres tendem a ser maioria por serem as mais pressionadas a assumir dupla ou tripla jornadas que custam a saúde física e mental. 

 

A percepção de que elas parecem ocupar cada vez por mais tempo e em maior número o título de solteira não é mera impressão. Um levantamento do Date Perfeito indicou que 54% dos homens e mulheres em Goiânia estão nessa condição. Em uma década, esse status deixou de ser 10,4% para se tornar o oficial de 14,6%dos brasileiros, segundo dados do  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

 

Na opinião da engenheira Mirla Gomes, a ideia é abrir mão da “paz” da solteirice somente se um relacionamento for realmente muito vantajoso. Ela já se envolveu despretensiosamente, mas nunca quis assumir um compromisso. O trabalho costuma ser o principal obstáculo, apesar de não descartar o receio de se machucar e priorizar amar a si mesma. “Eu já me machuquei muito. O sonho de me casar e ter filhos ainda existe. Hoje, reconheço que está muito distante de se concretizar. Não somente eu, mas todo mundo está mais criterioso. Nossas listas de exigências são grandes”, confidencia.

 

Os aplicativos de relacionamento se tornaram uma febre justamente por aliar comodidade e dispensar aquela dose de coragem nas investidas presenciais. O “não” virtual parece doer menos, embora possa fazer parte da jornada até o verdadeiro amor. O cabeleireiro Marcelo Kennedy conheceu o marido há cinco anos em uma dessas ferramentas. A troca de mensagens parecia ser apenas mais um flerte casual.

 

“Acho que me desiludir foi muito bom porque me permitiu ‘desencanar’ da ansiedade de me relacionar com alguém. O meu companheiro seguiu o mesmo caminho. Tivemos muitas frustrações até nos encontrarmos. Eu não lamento, mas agradeço ao universo por ter lidado com situações e pessoas que só me fizeram ser melhor, ser quem sou hoje”, diz.

 

Adaptação

 

Tendência, as moradias para apenas uma pessoa aumentaram na capital. Flats são a preferência desse público pela comodidade. O mercado tem se atentado às “menores” demandas com a venda de alimentos fracionados, pacotes exclusivos de diversos serviços para apenas uma pessoa e até o mundo erótico está antenado com diversas propostas par a satisfação sexual independente.

 

As mudanças se estenderam às dinâmicas de relacionamento. O poliamor fez e ainda faz muitas pessoas torcerem o nariz, porém o dia a dia de casais que vivem esse modelo é acompanhado por centenas de seguidores em perfis do gênero nas redes sociais. Diversos trisais ganharam notoriedade nos últimos anos, sendo o mais famoso deles o vivido pelo ex-jogador Ronaldinho Gaúcho. Ele chegou a ficou noivo das duas mulheres com quem morou junto.

 

Juridicamente, apenas a monogamia vale no Brasil, seja para casais homossexuais ou heterossexuais. O reconhecimento do modelo enfrenta o preconceito da sociedade ainda predominantemente cristã e ainda a ausência de entendimento legal sobre reflexos desse tipo de relacionamento, como questões sucessórias e previdenciárias somada a filhos não registrados pelos três na chamada de multiparentalidade.