Um ex-assessor do deputado estadual Humberto Aidar é o principal suspeito na Operação Sócio Oculto, que apura crimes de associação criminosa, peculato, fraude às licitações, falsidade ideológica e lavagem de capitais, fraudes que podem ter lesado cofres públicos estadual e municipais da ordem de R$ 100 milhões. A investigação é do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público de Goiás (MP-GO), desencadeada nesta terça-feira, 6, com a prisão temporária de sete pessoas, cumprimento de 34 mandados de busca e apreensão em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Nerópolis, Senador Canedo, Santo Antônio de Goiás, Uruaçu, Alto Paraíso de Goiás, Rubiataba, Brasília (DF) e em São Paulo (SP). A intenção da operação e desarticular esquema de fraude a licitações e desvio de dinheiro público envolvendo 20 empresas com atuação em 30 prefeituras de Goiás e ao governo do Estado até julho de 2017.
Foram presos temporariamente o ex-assessor do deputado, José Tadeu Leite, de 61 anos; Frederico Santana Borges, de 38; Bruno Leal Aidar, de 52; Waldir Alves Freire, de 62; Ana Paula Loze de Faria, de 46; Fábio Cardoso Ferrreira, de 43, e Gilson Silva Queiroz, de 52. Entre os mandados de busca e apreensão estavam as Prefeituras de Senador Canedo, Nerópolis, Anicuns, Alto Paraíso, Uruaçu e Rubiataba. Na operação ainda foram quebrados o sigilo bancário de 15 pessoas e oito empresas.
Até julho de 2017, conforme a investigação do GAECO/MP-GO, a Construtora Torres beneficiou-se de mais de R$ 23,5 milhões dos cobres públicos municipais e quase R$ 1,7 milhão do governo estadual para realização de obras públicas, apesar da sede da empresa constar em uma casa precária onde moram pessoas em situação de vulnerabilidade social. A empresa tem como sócio um pedreiro que ganha entre R$ 80 e R$ 100 por dia e que mal consegue se sustentar com menos de R$ 1 mil por mês. É o que contou ao MP-GO o pedreiro Rubenil de Souza, que mora em Itauçu. Segundo ele, nunca foi sócio de nenhuma empresa e não conhece nenhuma das pessoas citadas pelos promotores.
A empresa, administrada por José Tadeu Leite, é uma das 17 descobertas na investigação, todas de fachada para competirem entre si em licitações fraudulentas nos municípios onde a suposta organização criminosa atuava. “Além da Construtora Torres, outras empresas estavam registradas em nomes de laranjas, mas, de fato, eram comandadas por José Tadeu Leite, ex- assessor do deputado estadual José Humberto Aidar”, diz a decisão da 2ª Vara dos Feitos Relativos às Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais do Estado de Goiás a que o Diário do Estado teve acesso exclusivo.
O documento frisa que não foram encontrados indícios de autoria ou participação no esquema criminoso do deputado Humberto Aidar, recém indicado para ocupar uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO). A votação do requerimento que o indicou ao Tribunal será votado na Assembleia Legislativa de Goiás após o recesso de julho.
Outra pessoa ligada ao deputado, conforme a investigação do MP-GO, é apresentada como sócio em uma das empresas envolvidas no esquema de fraude em licitações e lavagem de dinheiro. O motorista seria sócio da empresa Total entre julho de 2009 e dezembro de 2014. Também são citados familiares do deputado na investigação. Apesar de não figurarem como sócios das empresas, movimentaram grande quantidade em dinheiro em pagamentos feitos pelas empresas e sócios investigados.
Empresas
As empresas investigadas são ACL Comércio de Materiais, Serviços e Realizações Ltda., AMJ Comércio de Metais e Equipamentos Industriais EIRELI, Evolução Engenharia – EIRELI, Exata Construtora EIRELI, Fernandes & Martins Construções Ltda., Forte Lonas Tecidos Ltda. , Isopor Comércio de Material de Construção Guanabara LTda., Master Comércio de Materiais, Serviços, Transportes e Realizações Ltda., Master Tubos, Acessórios Industriais, Comércio e Serviços em Geral Ltda., MYL Construções e Serviços EIRELI, Remasuper Distribuidora de Pelas Automotivas EIRELI, SPbox Materiais para Construção Ltda.-ME, Total Prestadora de Serviços e Locações. Elas foram apontadas como integrantes do esquema criminoso e utilizadas para contratações com o Poder Público, tanto nos procedimentos licitatórios, como para lavagem de dinheiro.
Em um dos casos citados na decisão, a Construtora Torres arrematou o edital de tomada de preços nº 002/2013 da Cidade de Anicuns, para a construção de uma quadra poliesportiva com vestiários, pelo valor global de mais de meio milhão de reais. “Em diligência no local apurou-se um ginásio absolutamente destruído, com uma parede desabada e vestiários em pedaços. Destaca ainda que há uma faixa indicando a interdição do imóvel e da Prefeitura de Anicuns, indicativo de que a municipalidade trabalha no local e não a empresa contratada”.