Um médico condenado por abuso sexual, admitiu para a justiça de São Paulo que estimulou o clitóris de pacientes durantes exames clínicos. O nutrólogo, Abib Maldaun classificou o procedimento como “de rotina” para verificar efeitos colaterais pelo uso de hormônios.
O médico foi condenado na última quarta-feira ( 19/1) a 18 anos e seis meses de prisão em regime fechado. Ele responde por violação sexual mediante fraude cometida contra seis ex- pacientes e uma ex-funcionária. O crime ocorreu entre 1997 e 2020.
Efeitos colaterais
Em depoimento, Maldaun Neto revela que era procurado para tratamentos que prevenissem o envelhecimento celular com o uso de antioxidantes, emagrecimento com medicamentos que promoviam “ativação metabólica maior”.
Segundo as vítimas, as consultas eram longas e frequentemente o médico perguntava sobre a vida sexual da paciente. De acordo com o médico, o uso de alguns medicamentos e hormônios causavam alguns efeitos colaterais. Os mesmos eram verificados por meio do toque vaginal.
“O que acontece é que em alguns pacientes, algumas pacientes… a medicina não é uma ciência exata, obviamente, como eu estava dizendo, então há efeitos colaterais, e o uso do hormônio fazia com que as pacientes tivessem uma ereção clitoriana indesejável, que chegava a machucar quando elas usavam uma calça jeans, uma calça um pouco mais apertada, e assim como, por exemplo, um homem, quando eu repunha a testosterona. A próstata, ela crescia, então há problemas urinários advinham disso.
Então, na verdade, o que acontece é que os exames que eu pratiquei naquele momento, que foram muito poucos e pontuais, foram em pacientes que tiveram queixas de efeitos colaterais do meu tratamento”, afirmou o médico.
Abuso sexual
Para a justiça, o nutrólogo também relatou que em alguns casos era necessário que ele introduzisse os dedos na vagina das pacientes “para ver se tinha lubrificação ou não”.
“ É assim, doutora, para ver o clitóris, realmente é preciso colocar a mão no clitóris. Eu cheguei a colocar, e cheguei a introduzir, em algumas pacientes, os dedos para ver se tinha lubrificação no próprio clitóris, isso não é usual”, disse.
Em outro momento do depoimento, ao ser questionado pela juíza o médico cita a reposição hormonal e queixas sobre candidíase como razões para tocar o clitóris e a vagina das pacientes.
Entretanto, as queixas de efeitos colaterais não foram relatadas por nenhuma das vítimas durante o processo. E segundo a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), o procedimento realizado pelo médico não está previsto na especialidade de nutrologia. Ainda de acordo com ele, nesta situação a paciente deve ser encaminhada para o ginecologista obstetra.
Segunda condenação
Abib Maldaun Neto já havia sido condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por violação sexual. O crime ocorreu em 2014, mas a condenação ocorreu apenas em julho de 2018. No entanto, o médico respondia em liberdade.
Em abril de 2020, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cresmesp) cassou de forma definitiva o registro do médico, mas a decisão ainda precisa ser referendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
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