Deputados usam cota para viagens de executiva: mimos e passagens acima de R$ 30 mil

De Las Vegas a Genebra: deputados usam cota para viajar de executiva

Voos de executiva usado por deputados garantem mimos aos passageiros e espaço extra. Passagem podem ultrapassar os R$ 30 mil

São Paulo — Cabines espaçosas, com serviço de bordo exclusivo e mimos típicos da classe executiva ou até primeira classe. Não falta conforto aos deputados federais em viagens internacionais para representar o país rumo a destinos como Las Vegas (EUA), Bruxelas (Bélgica) ou Dubai (Emirados Árabes).

Em alguns casos, apenas as passagens aéreas chegam na casa dos R$ 30 mil ou mais, tudo custeado pelos cofres públicos.

Os deputados federais já registraram R$ 28 milhões gastos em passagens debitadas da cota parlamentar, em dados que abrangiam pouco mais da metade de novembro. Eles ainda gastaram R$ 3,7 milhões em viagens oficiais, que podem ser bancadas com verba da Câmara.

Em abril, um grupo de bolsonaristas foi ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, denunciar o presidente Lula (PT) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A viagem custou mais de R$ 100 mil aos cofres públicos, somando diárias e passagens.

Entre os viajantes estavam nomes importantes do bolsonarismo como Ricardo Salles, que fez ida e volta de São Paulo a Lisboa, na classe executiva da Latam, com valor de R$ 22 mil. Além disso, gastou mais R$ 3,7 mil no segundo trecho da viagem.

Os deputados podem conseguir passagens por sistemas da Câmara ou reembolso, como fez Salles – elas são debitadas da cota parlamentar. Além disso, têm direito a mais oito passagens em nome deles por mês para os estados onde têm representação.

A Câmara dos Deputados foi perguntada pelo Metrópoles sobre os critérios para o uso de passagens executivas ou primeira classe, mas não detalhou esse ponto. A portaria que disciplina os gastos com cota parlamentar, citada na resposta da Casa à reportagem, não faz menção ao assunto.

MIMOS

A classe executiva das companhias garante um espaço muito maior aos passageiros, além de uma série de regalias e brindes.

O site da Qatar Airways, por exemplo, cita vantagens que vão de balm para os lábios até “um luxuoso conjunto de pijamas ultra-confortáveis”. Para comer, a companhia oferece uma luxuosa seleção de queijos com vinho ou pratos como lombo de cordeiro com abóbora. “A Qatar Airways oferece a todos os passageiros da Classe Executiva uma seleção luxuosa de comodidades para mantê-lo mimado durante todo o voo”, diz a empresa.

O deputado Jonas Donizette (PSB), por exemplo, viajou em novembro do ano passado pela companhia para participar da Conferência Mundial de Radiocomunicações, em Dubai. Ele fez trechos em classe executiva e também na primeira classe, segundo o bilhete da companhia, a um custo de R$ 19,6 mil.

Valor similar foi gasto em outra viagem, também de executiva, em abril. O destino era Las Vegas, Estados Unidos, onde o deputado foi como membro da comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para participar da feira NAB Show, voltada ao setor de radiodifusão, como parte de uma comitiva que contou com políticos como o ministro das Comunicações Juscelino Filho (União).

No caso das missões oficiais, os gastos com a passagem podem ser bancados pela Câmara ou pela cota dos deputados.

A reportagem localizou apenas neste ano quase duas dezenas de deputados que viajaram de executiva durante as missões internacionais, alguns mais de uma vez. É o caso de Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), que gastou R$ 27.970,66 em uma viagem de executiva para participar do XII Fórum Jurídico, em junho, em Lisboa, e mais R$ 14 mil relativos a outra viagem, para Madri, onde ocorria evento sobre revolução digital e democracia.

Vinicius Carvalho (Republicanos-SP) também fez duas viagens com passagens em classe executiva, uma delas para Washington, com bilhetes que custaram quase R$ 32 mil, para participar de uma missão parlamentar para discutir a inteligência artificial. A outra viagem teve Genebra, na Suíça, como destino — a cidade era sede da 112ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O custo só com passagem foi de R$ 24 mil.

O deputado Ricardo Salles respondeu ao questionamento sobre uso de passagens em classe executivas com a afirmação de que “as regras da Câmara dos Deputados permitem e foram adotados todos os procedimentos previstos”.

Já Donizette Braga afirmou que em 2013 fez um procedimento cirúrgico no coração e que os médicos recomendaram que viagens longas só fossem feitas “onde pudesse ter mais mobilidade”. “O valor das passagens à época difere cerca de 20% do valor de uma passagem em classe econômica”, afirmou o deputado, por e-mail.

A assessoria de Lafayette de Andrada já havia respondido ao Metrópoles sobre o assunto afirmando que foram os bilhetes “mais baratos no dia da compra, sem nenhuma regalia especial”. Vinicius Carvalho não respondeu.

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“PF investiga desvio de recursos de cotas parlamentares de deputados do PL-RJ”

A Polícia Federal (PF) realizou buscas em endereços ligados a assessores dos deputados federais Carlo Jordy (PL-RJ) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), na manhã desta quinta-feira (19/12). A autorização dos mandados foi concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino. Os alvos da operação não tiveram seus nomes nem endereços divulgados, mas a investigação está relacionada ao uso indevido de recursos de cotas parlamentares para pagamentos irregulares.

As buscas fazem parte de um trabalho de investigação da PF que visa apurar possíveis desvios de verbas destinadas ao exercício do mandato dos parlamentares. A prática de desvio de cotas parlamentares é considerada ilegal e pode resultar em consequências graves para os envolvidos. A PF atua com o intuito de garantir a transparência e a lisura no uso dos recursos públicos, investigando suspeitas de corrupção e irregularidades.

Os deputados federais Carlo Jordy e Sóstenes Cavalcante são membros do Partido Liberal (PL) e representam o estado do Rio de Janeiro na Câmara dos Deputados. A ação da PF busca reunir provas e informações que possam ajudar a esclarecer as suspeitas de desvio de recursos de cotas parlamentares por parte de seus assessores. A colaboração das autoridades competentes e a transparência no processo são fundamentais para a conclusão das investigações.

A operação realizada pela PF evidencia a importância do combate à corrupção e à má utilização dos recursos públicos. A investigação de possíveis desvios de verbas destinadas ao exercício do mandato parlamentar é fundamental para a garantia da integridade e da ética na gestão dos recursos públicos. O trabalho das autoridades competentes é essencial para coibir práticas ilícitas e garantir a responsabilização dos envolvidos em casos de corrupção.

A busca por transparência e integridade na administração pública é um compromisso fundamental para o fortalecimento da democracia e a garantia dos direitos dos cidadãos. A atuação da PF em casos de desvio de recursos públicos reafirma o compromisso das instituições em combater a corrupção e garantir a probidade na gestão dos recursos do Estado. A busca por uma gestão pública transparente e ética é essencial para o desenvolvimento e a democracia de um país.

A sociedade brasileira espera e exige que os órgãos responsáveis pela investigação de casos de corrupção atuem com rigor e imparcialidade na apuração dos fatos. A transparência e a seriedade no combate à corrupção são fundamentais para garantir a confiança da população nas instituições públicas e no Estado de Direito. A colaboração da PF e demais órgãos de controle é essencial para promover a justiça e a responsabilização dos envolvidos em casos de desvio de recursos públicos. A busca por uma sociedade mais justa e ética requer o comprometimento de todos os cidadãos e autoridades no combate à corrupção e na defesa dos princípios democráticos.

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