Lupi levou quase 1 ano para agir contra fraudes no INSS; descontos em aposentadorias triplicaram no período
Na data dos avisos, descontos nas folhas dos aposentados somavam R$ 80,6 milhões. Em abril de 2024, o montante chegou a R$ 248,1 milhões. Presidente do INSS foi demitido pelo presidente Lula.
Ministro da Previdência, Carlos Lupi, em entrevista à TV Globo. — Foto: Thiago Resende/TV Globo
O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, foi alertado em junho de 2023 sobre o aumento de denúncias de fraudes em descontos de mensalidades de aposentados, mas levou quase um ano para tomar as primeiras providências.
O alerta a Lupi sobre o problema foi feito em uma reunião do Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), em 12 de junho de 2023, mas não gerou nenhuma consequência prática para coibir as fraudes.
Nesta semana, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) realizaram a Operação Sem Desconto e revelaram um esquema que pode envolver até R$ 6,3 bilhões em desvios em aposentadorias e pensões de beneficiários do INSS. Segundo as investigações, 11 associações são suspeitas de descontar valores de mensalidades dos aposentados sem a anuência deles.
A primeira medida concreta para tentar frear os golpes só foi tomada em março de 2024, quando o INSS publicou uma Instrução Normativa com novas regras para que as associações fizessem os descontos nas aposentadorias, mediante autorização dos beneficiários.
Naquele momento, o assunto já era objeto de apuração da CGU e do Tribunal de Contas da União (TCU).
O relatório de auditoria da CGU aponta que houve um crescimento exponencial dos descontos nas folhas dos aposentados justamente a partir de julho de 2023, quando Lupi recebeu o primeiro alerta.
Em junho de 2023, quando Lupi recebeu o aviso, os descontos nas folhas dos aposentados somavam R$ 80,6 milhões. Em abril de 2024, o montante triplicou, chegando a R$ 248,1 milhões.
Ainda assim, os descontos com indícios de fraude só foram interrompidos nesta semana, após a operação da PF e da CGU. As associações suspeitas também só foram descredenciadas após a operação.
Conselho chefiado por Lupi ignorou o tema
O Conselho da Previdência Social é um órgão presidido pelo ministro da Previdência e reúne a cúpula da pasta e do INSS, além de representantes de associações de aposentados, sindicatos de trabalhadores da ativa e entidades patronais.
O conselho tem por função “estabelecer diretrizes gerais, participar, acompanhar e avaliar sistematicamente a gestão previdenciária, bem como apreciar as decisões de políticas aplicáveis à Previdência Social”, segundo a própria definição institucional do órgão.
A ata da reunião ordinária do conselho realizada em 12 de junho mostra que a conselheira Tonia Galleti, dirigente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados), demonstrou preocupação com as fraudes e pediu providências ao ministro.